Raízes de árvores teriam gerado extinções nos oceanos há 300 milhões de anos

Estudo mostra que levas de aniquilação da vida marinha podem ter sido causadas por eutrofização, assim como ocorre hoje nos Grandes Lagos e Golfo do México; entenda

Nem meteoros, nem vulcões — mas sim a evolução das raízes das árvores — pode ter causado extinções em massa que aniquilaram antigas criaturas dos oceanos da Terra há mais de 300 milhões de anos. É o que mostra um estudo publicado em 9 de novembro na revista GSA Bulletin.

A pesquisa liderada por cientistas da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e colegas do Reino Unido, se baseou em registros geoquímicos de depósitos de pedra de lagos do Devoniano Médio e Superior que abrangem intervalos de extinção marinha importantes.

Os remanescentes dos lagos existem em todo o mundo, mas os pesquisadores coletaram suas amostras na Groenlândia e na costa nordeste da Escócia. Eles confirmaram ciclos identificados anteriormente de níveis de fósforo, um elemento químico encontrado em toda a vida na Terra.

“Nossa análise mostra que a evolução das raízes das árvores provavelmente inundou os oceanos com excesso de nutrientes, causando crescimento maciço de algas”, explica Gabriel Filippelli, que lidera o estudo, em comunicado. “Essa proliferação rápida e destrutiva de algas teria esgotado a maior parte do oxigênio dos oceanos, desencadeando eventos catastróficos de extinção em massa.”

O processo que impediu a vida marinha de existir, chamada de eutrofização, é parecido com o que ocorre hoje em dia nas “zonas mortas” dos Grandes Lagos e no Golfo do México, embora atualmente a dinâmica seja em menor escala.

Nas áreas atuais, a proliferação maciça de algas que consomem todo o oxigênio da água é resultado do excesso de nutrientes de fertilizantes e outros produtos do escoamento agrícola. Já no Período Devoniano, que ocorreu de 419 a 358 milhões de anos atrás, o problema era as raízes das árvores, que extraíram nutrientes da terra durante os períodos de crescimento e os despejaram abruptamente na água nos momentos de decomposição.

Os pesquisadores identificaram ciclos úmidos e secos em suas amostras de lagos com base em sinais na formação do solo causados ​​pelo crescimento das raízes. Enquanto maior intemperismo estava presente em ciclos úmidos com mais raízes, menor desgaste havia nos ciclos secos com menos raízes.

Além disso, nessas rodadas mais secas havia níveis mais altos de fósforo, sugerindo que raízes moribundas liberavam seus nutrientes na água do planeta durante esses períodos. O fósforo era depositado ao mesmo tempo que a evolução das primeiras raízes das árvores — incluindo as da Archaeopteris, a primeira planta a crescer folhas e atingir alturas de 9 metros.

Felizmente, conforme Filippelli, as plantas modernas não causam uma destruição semelhante: a natureza já desenvolveu sistemas para equilibrar o impacto da madeira podre das raízes. A profundidade do solo moderno também retém mais nutrientes em comparação com a fina camada de terra que cobria o planeta antigamente.

Mas a dinâmica revelada no estudo lança luz sobre outras ameaças mais recentes à vida nos oceanos, como a poluição causada por fertilizantes, esterco e outros resíduos orgânicos, como esgoto, que retiram o oxigênio das águas.

“Essas novas percepções sobre os resultados catastróficos de eventos naturais no mundo antigo podem servir como um alerta sobre as consequências de condições semelhantes decorrentes da atividade humana hoje”, conclui o pesquisador.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Emma Gossett/Unsplash.