Resistência a antibióticos pode matar 39 milhões até 2050

Mais de 39 milhões de pessoas podem morrer nos próximos 25 anos em todo o mundo devido a infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos, um terço delas no sul da Ásia, incluindo Índia, Paquistão e Bangladesh, estimou um estudo divulgado nesta segunda-feira (16) pela revista médica britânica The Lancet.

Em duas décadas e meia, as mortes globais por resistência a antimicrobianos chegarão a 39 milhões, com 1,91 milhão de óbitos anuais diretamente associados ao problema, um aumento de 67,5% em relação a 2021 (1,14 milhão). No mais detalhado relatório sobre o tema, pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, alertam que os micro-organismos imunes a medicamentos, também, contribuirão indiretamente para mais 169 milhões de mortes no mesmo período.

Trata-se de um estudo aprofundado dos impactos da resistência antimicrobiana (RAM) na saúde global ao longo do tempo, revelando tendências entre 1990 e 2021 e estimando o impacto potencial entre 2025 e 2050 para 204 países e territórios.

A resistência antimicrobiana (RAM) ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas mudam ao longo do tempo e já não respondem aos medicamentos, tornando as infecções mais difíceis de tratar e aumentando o risco de propagação de doenças graves e morte. Antimicrobianos, que incluem antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários, são usados em humanos, animais e plantas, e a falta de eficácia de muitos deles, utilizados massivamente, é considerada uma ameaça global pela Organização Mundial da Saúde.

A análise revela que, a cada ano, mais de 1 milhão de pessoas morreram por causa da resistência antimicrobiana em todo o mundo entre 1990 e 2021 e que, durante esse período, as mortes por resistência antimicrobiana entre crianças com menos de 5 anos diminuíram em 50%, enquanto as mortes entre pessoas com mais de 70 anos aumentaram em mais de 80%.

Também haverá diferenças significativas nos impactos pelo mundo, mostra o estudo. Nos países de renda alta, é esperado o aumento de 72% das mortes por RAM entre idosos; já no Norte da África e no Oriente Médio, a expectativa é de 234% mais casos na população acima de 70 anos.

Até 2050, o número de mortes anuais atribuídas diretamente à resistência a antibióticos chegará a 1,91 milhão, e o de mortes associadas a ela, a 8,22 milhões, se não forem adotadas medidas para reverter essa tendência, afirmou a equipe internacional responsável pela pesquisa.

Esses números anuais representam aumentos de 67,5% e 74,5% por ano, respectivamente, em relação ao número de mortes atribuídas direta e indiretamente à resistência a antibióticos em 2021, escreveram os pesquisadores do Projeto de Pesquisa Global sobre Resistência Antimicrobiana.

Emergência antibiótica

Segundo o estudo, um melhor atendimento para infecções graves, novas vacinas para prevenir infecções e procedimentos médicos mais criteriosos, que limitem o uso de antibióticos aos casos apropriados, poderiam salvar um total de 92 milhões de vidas entre 2025 e 2050.

“Os antimicrobianos são um dos pilares da assistência médica moderna, e o aumento da resistência a eles é uma grande causa de preocupação”, disse, em nota, Mohsen Naghavi, líder do estudo e cientista da Universidade de Washington. “A RAM tem sido uma ameaça global significativa à saúde por décadas e essa ameaça está crescendo.” Segundo o pesquisador, “entender como as tendências nas mortes por RAM mudaram ao longo do tempo e como elas provavelmente mudarão no futuro é vital para tomar decisões para ajudar a salvar vidas”.

O estudo foi divulgado antes de uma reunião de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o assunto.

“Esse estudo histórico confirma que o mundo está enfrentando uma emergência antibiótica, com custos humanos devastadores para famílias e comunidades em todo o mundo”, afirmou a encarregada especial do Reino Unido para a resistência antimicrobiana e membro do Grupo de Coordenação Interagencial da ONU sobre Resistência Antimicrobiana, Dame Sally Davies, que não esteve envolvida na pesquisa.

Mutações levam à resistência

Os antibióticos são medicamentos usados no tratamento de infeções provocadas por bactérias. Algumas bactérias passam por mutações genéticas que as tornam resistentes aos antibióticos, e quanto mais um antibiótico é usado, maior é a possibilidade de vir a existir resistência à sua ação.

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a resistência aos antibióticos como uma das dez maiores ameaças à saúde pública em escala global. Naquele ano morreram em todo o mundo mais pessoas devido à resistência a antibióticos do que à aids ou à malária.

As estimativas do novo estudo foram feitas para 22 tipos de organismos causadores de doenças, 84 combinações de medicamentos versus bactérias e 11 síndromes infecciosas, como meningite e sepse.

As estimativas foram baseadas em registros de 520 milhões de pessoas de todas as idades em 204 países, de uma ampla gama de fontes, incluindo dados hospitalares, registros de óbitos e dados sobre o uso de antibióticos.

A resistência antimicrobiana ameaça um século de progresso médico e poderá levar o mundo de volta à era pré-antibiótica. O alerta foi feito nesta quinta-feira pelo diretor geral da Organização Mundial da Saúde, OMS.

Tedros Ghebreyesus afirmou que se não forem tomadas medidas agora, as infecções que hoje são tratáveis ​​podem voltar a representar uma “sentença de morte”.

Segundo ele, esta é uma ameaça para todos os países, em todos os níveis de rendimento, e é por isso que é “urgentemente necessária uma resposta global forte, acelerada e bem coordenada”.

O apelo foi feito em antecipação à segunda Reunião de Alto Nível sobre Resistência Antimicrobiana que será realizada em 26 de setembro na sede da ONU em Nova Iorque. Este será o principal evento oficial centrado na saúde durante a semana de alto nível da Assembleia Geral da ONU.

A reunião culminará em uma declaração política, que caso aprovada, estabelecerá medidas decisivas para impedir que o problema cause ainda mais sofrimento global.

Fontes: DW, ONU News, Brasil de Fato, Correio Brazilience, Tribuna do Norte.

Imagem: NIAID/Divulgação.

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