A Alemanha possui um dos mais eficientes sistemas de reciclagem do mundo, com cerca de 66% dos resíduos urbanos reciclados. É claro que os programas de coleta de lixo administrados pelo governo têm influência nestes dados. Mas grande parte deste sucesso se deve também, e principalmente, à população, pois é ela a responsável pela primeira separação destes materiais, no momento do descarte em suas casas. Porém, para quem vem de outro país, muitas vezes é difícil entender como este sistema funciona
Quando consumidores alemães compram suas bebidas, eles pagam um depósito, um valor adicional pago pelo recipiente que traz o líquido, o chamado pfand, em alemão. Quando devolvem as garrafas e latas, normalmente dentro de supermercados, recebem o dinheiro do pfand de volta.
A palavra “Pfand” pode ser traduzida para o português como “depósito” ou “seguro” e, na verdade, designa o valor que você paga pelo recipiente quando compra determinadas bebidas. Estes recipientes podem ser garrafas de vidro, garrafas plásticas, latas de alumínio e até caixas e engradados. Em resumo, funciona assim: você compra, por exemplo, uma lata de cerveja que custa 60 centavos e paga também 25 centavos pelo Pfand da lata; ou seja, um preço total de 85 centavos. Após beber a cerveja, você pode então devolver a lata e receber seus 25 centavos de volta.
Além de garrafas de vidro e PET, em 2003 foi introduzido o pfand também sobre certos tipos de embalagens descartáveis.
“Antes de 2003, cerca de 3 bilhões de recipientes descartáveis de bebidas eram despejados no meio ambiente todos os anos”, diz Thomas Fischer, chefe da economia circular da ONG Ação Ambiental da Alemanha (DUH), à DW.
Atualmente, a taxa de retorno de recipientes de bebidas está acima dos 98%. “É impossível conseguir uma taxa maior”, afirma Fischer.
As garrafas de uso único seguem um caminho diferente. Uma vez coletadas na loja, elas são levadas para uma central de reciclagem, onde são trituradas e transformadas em pellets (pequenos grânulos de plástico), que podem ser transformados em novas garrafas plásticas, tecidos ou outros objetos plásticos, como embalagens de detergente.
O sistema de depósito para garrafas reutilizáveis ou de uso único economiza matérias-primas, energia e emissões de CO2, principalmente porque reduz a quantidade de combustíveis fósseis utilizados para produzir novas garrafas, segundo Gerhard Kotschik, especialista em embalagens da Agência Ambiental Alemã.
E a reciclagem de garrafas de uso único resulta em material de boa qualidade. Redes de supermercados de preços mais baixos, como Aldi e Lidl, vendem majoritariamente embalagens de uso único, alegando que as atividades de reciclagem são benéficas para o meio ambiente. Com isso, itens de uso único vêm ganhando popularidade. O negócio está se tornando tão lucrativo que a rede de supermercados Lidl criou até mesmo seu próprio grupo de reciclagem.
Mesmo recipientes vazios não devolvidos, tanto reutilizáveis quanto de uso único, geram lucro para os estabelecimentos que os venderam. Com 16,4 bilhões de garrafas de uso único inundando o mercado alemão de bebidas a cada ano, o 1,5% que nunca é retornado pode se traduzir em lucros de até 180 milhões de euros para os varejistas.
A Agência Ambiental Alemã diz que não há solução mágica para todos os países e que cada contexto deve ser avaliado de perto para decidir o que funciona melhor.
Grandes empresas mundo afora que por muito tempo se opuseram à introdução de sistemas de depósitos estão começando a mudar seus conceitos em relação ao tema.
Fonte: DW, Ambiente Brasil, Envolve Verde, Alemanhacast.