Temperatura acima de 40ºC aumenta risco de morte entre idosos, aponta estudo da Fiocruz

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), desde ontem, segunda-feira (17/2), serão afetados municípios nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, se estendendo, posteriormente, por Goiás e Bahia.

As temperaturas máximas podem superar em mais de 5°C a média climatológica, segundo o Inmet.

No Rio de Janeiro, a sensação térmica passou de 40ºC nesta segunda, e a cidade atingiu o nível 4 de calor pela primeira vez desde que o protocolo municipal de temperaturas extremas foi implementado, em junho do ano passado.

O nível 4 é caracterizado por índices de calor muito alto (40°C a 44°C) com previsão de permanência ou aumento por, ao menos, três dias consecutivos.

Esses recordes de temperatura mostram que a crise climática não é mais uma preocupação sobre o futuro. Em muitas partes do mundo, ela já começou.

O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), da União Europeia. Antes disso, 2023 já havia levado o posto de ano mais quente da história.

Em meio às previsões de calor intenso para os próximos dias, um novo estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostra que a exposição a temperaturas acima de 40ºC por quatro horas ou mais estão associadas a um aumento de 50% de mortalidade por doenças como hipertensão, diabetes, Alzheimer, insuficiência renal e infecção do trato urinário entre idosos.

No trabalho, foram analisados todos os 466 mil registros de mortes naturais ocorridas no Rio de Janeiro entre 2012 e 2024, e mais de 390 mil mortes por 17 causas selecionadas — das quais, 12 tiveram alta da mortalidade para idosos no calor extremo. O artigo foi publicado como preprint na plataforma MedRxiv e submetido a revistas científicas internacionais.

No estudo da Fiocruz, os números foram analisados separadamente conforme a classificação de níveis de calor (NC) do Protocolo de Calor da Prefeitura do Rio, lançado no ano passado. Os NCs variam de 1 a 5 e indicam riscos e ações que devem ser tomadas em cada um deles.

Segundo o pesquisador João Henrique de Araujo Morais, autor principal do trabalho e doutorando na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, o estudo confirma o que outros trabalhos já demonstraram: níveis extremos de calor são um risco real, especialmente para idosos e pessoas com doenças como as mencionadas acima.

Porém, um dos diferenciais da pesquisa foi ter desenvolvido uma nova forma de medir a exposição ao calor e os riscos relacionados, com a criação de uma métrica chamada “Área de Exposição ao Calor” (AEC).

Essa medida considera também o tempo que uma pessoa fica exposta ao calor, o que outras métricas, como temperatura média ou sensação térmica média, não levam em conta. Esse tempo de exposição ao calor intenso tem uma ligação importante com a mortalidade, especialmente entre as pessoas mais vulneráveis.

O estudo ilustra a métrica usando como exemplo a onda de calor de novembro de 2023. Em 17 de novembro, dia em que a jovem Ana Clara Benevides, 23, morreu após passar mal no estádio Nilton Santos, onde a cantora Taylor Swift se apresentou, o índice de calor no Rio ficou acima de 44°C por oito horas, gerando um recorde de AEC. A sensação térmica no estádio Nilton Santos, porém, era de 60ºC.

De acordo com trabalho, no dia seguinte, 18 de novembro, foi registrado o maior número de mortes de idosos por causas específicas: 151 no total.

Segundo o pesquisador, a ferramenta que se mostrou mais eficiente do que outras métricas para identificar dias de calor extremo e, assim, auxiliar na prevenção das possíveis consequências.

Para o pesquisador, com o aumento de frequência e intensidade das ondas de calor não só para o município do Rio, mas para diversas áreas urbanas do Brasil, medidas individuais são importantes, mas é necessário ter políticas públicas que adequem as atividades e protejam a população.

“Sabe-se que populações específicas estão em alto risco — como trabalhadores diretamente expostos ao sol, populações de rua, grupos mais vulneráveis (crianças, idosos, pessoas com doenças crônicas), e populações que vivem nas chamadas ilhas de calor urbano.”

No protocolo de calor do município do Rio, estão previstas medidas como disponibilização de pontos de hidratação e resfriamento, adaptação de atividades de trabalho, comunicação constante com a população e suspensão de atividades de risco em níveis mais críticos.

Fontes: Folha SP, BBC News.

Foto: Divulgação.