33% de todo desmatamento da vegetação nativa no Brasil ocorreu nos últimos 37 anos,

Os pouco mais de 500 anos da história do Brasil foram marcados por ciclos econômicos de ocupação do território e avanço sobre a vegetação nativa, mas um terço (33%) de todo o desmatamento já registrado no país ocorreu em apenas 37 anos.

De 1985 a 2021, o país perdeu 13,1% de sua vegetação nativa. Um levantamento do MapBiomas divulgado nesta sexta-feira (26) aponta que um terço de toda área de vegetação devastada no país desde 1500 foi derrubada nos últimos 37 anos. E que no solo antes ocupado por árvores, agora há plantações e gado.

De acordo com o MapBiomas, o pico do avanço da agropecuária sobre as florestas e outros biomas ocorreu entre 1985 e 2021, período em que 13,1% de toda a vegetação nativa do Brasil foi eliminada. Os dados constam no relatório “Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil – Coleção 7”.

Em 1985, o Brasil tinha 76% de seu território coberto por vegetação nativa (florestas, savanas e outras formações não florestais). Trinta e sete anos depois, a vegetação nativa cobria apenas 66% do país.

Por outro lado, no mesmo período, a área ocupada por agropecuária cresceu de 21% para 31%. Só as áreas utilizadas para agricultura cresceram 228% e agora representam 7,4% do território nacional. Segundo o MapBiomas, o território ocupado pela agropecuária agora responde por um terço do uso da terra no Brasil.

“Apesar de 72% da área de expansão da agricultura ter ocorrido sobre terras já antropizadas (alteradas por ação humana), principalmente pastagens, é importante ressaltar que 28% da mudança para lavoura temporária se deu sobre desmatamento e conversão direta de vegetação nativa”, afirma Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador da Equipe de Mapeamento de Pastagem e do GT Solos do MapBiomas.

Outra mudança constatada pelo levantamento foi a perda, entre 1991 e 2021, de 17,1% da superfície de água do país. O fenômeno foi percebido principalmente no Pantanal.

“Esta tendência de rápidas transformações representa grandes desafios para que o país possa se desenvolver e ocupar o território com sustentabilidade e prosperidade”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

A perda de florestas nessa área respondeu por 22% do desmatamento da Amazônia nos últimos dez anos, ante 11% entre 2000 e 2010, cidades como Lábrea e Apuí, no sul do Amazonas, foram as campeãs de desmatamento nos últimos 12 meses.

Mas também chama atenção no estudo as alterações observadas no pampa, no Rio Grande do Sul. Foi o bioma onde, proporcionalmente, houve a maior redução da vegetação nativa, de 61,3% para 46,3% em 37 anos.

“É um fenômeno recente o que está ocorrendo lá. Começou em 98, 99 e se aprofundou em 20 anos. A perda da vegetação foi maior entre 2010 e 2020 que nos dez anos antes.

Ocorre lá algo curioso. A pecuária é vilã na Amazônia, mas no Pampa os campos sulinos são totalmente compatíveis com a pecuária. Enquanto havia só pecuária na região, o bioma estava estável. Aí aconteceram dois booms: das florestas plantadas, principalmente de eucalipto e de pínus, e do plantio de soja, que explodiu substituindo a vegetação nativa”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

Em 1985 49% dos municípios tinham como principal uso da terra a agropecuária e em 2021 esse percentual passou para 57%.

“A ocupação do solo e a produção rural precisam ser compatibilizadas com a conservação dos biomas”, completa Tasso.

Área não conservada na totalidade

Apesar de restar 66% da vegetação nativa no país, essas áreas não são conservadas em sua totalidade.

Segundo a MapBiomas, pelo menos 8,2% de toda vegetação nativa existente é vegetação secundária, ou seja, são áreas que já foram desmatadas pelo menos uma vez desde 1985 ou já estavam desmatadas na época. Na Mata Atlântica, a proporção de vegetação secundária sobe para 27%.

O levantamento foi feito com base em dados coletados por satélites e analisados individualmente. A cobertura abrange os seis principais biomas do país.

“Os satélites nos ajudam a revelar os desafios de como expandir a agropecuária sem desmatamento, como proteger os recursos hídricos e como ocupações urbanas podem ser mais seguras e menos desiguais ”, explica Julia Shimbo, Coordenadora Científica do MapBiomas e Pesquisadora do IPAM.

O MapBiomas é uma iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas.

Fonte: G1, Folha SP.

Foto: Sema/MT.