A água é um recurso natural muito utilizado e pouco cuidado. Essa é a percepção de sete em cada dez brasileiros, segundo dados da pesquisa “A percepção dos brasileiros sobre segurança hídrica” realizada pela The Nature Conservacy Brasil (TNC) com o apoio técnico do Instituto Ipsos. Além disso, na avaliação de problemas ambientais, 78% da população nota um aumento na poluição das águas nos últimos quatro anos no país.
A percepção vem ao encontro dos dados do Atlas do Saneamento divulgados pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em 2017, que mostrou que o Brasil tem cerca de 114 mil quilômetros de rios com a qualidade da água comprometida, uma extensão equivalente a quase três vezes a circunferência do Planeta Terra.
Os brasileiros também classificam o meio ambiente como uma atenção prioritária, sendo que dentre questões, como por exemplo, queimadas, desmatamento, poluição do ar e descarte incorreto do lixo, os eventos climáticos extremos relacionados à água como secas e enchentes são o principal ponto de preocupação, levantado por 83% dos entrevistados.
Nota-se uma disparidade entre as classes sociais no entendimento sobre mudanças climáticas: As populações menos favorecidas indicam menor associação entre problemas ambientais e mudanças climáticas, enquanto os mais privilegiados têm um entendimento mais amplo. No Sudeste destaca-se a alta preocupação de extremos climáticos com aumento no preço dos alimentos.
Por outro lado, 62% dos entrevistados declararam que a restauração florestal tem impacto positivo na conservação das águas. Reforçando este entendimento sobre a importância das ações que conservam, gerenciam de forma sustentável ou restauram os ecossistemas naturais, a recuperação florestal foi apontada por 45% dos ouvidos como medida mais indicada para garantir a segurança das águas, ficando atrás apenas da fiscalização das leis (53%) e programas de educação ambiental (50%).
O gerente nacional de Sistemas de Água e Alimentos da TNC Brasil, Samuel Barrêto, destaca primeiro a percepção dos riscos ambientais, especialmente os relacionados aos extremos climáticos já fazerem parte da realidade brasileira. Sendo que os mais vulneráveis têm sentido mais esses impactos.
No entanto, o especialista lembra que é praticamente zero os investimentos realizados pelo setor do saneamento, um dos responsáveis pelo cuidado com a água, em soluções da chamada infraestrutura verde para proteção dos mananciais que abastecem as pessoas nas cidades e que tiveram suas bacias hidrográficas desmatadas ou cujos rios tiveram seus cursos de água interrompidos ou comprometidos.
Falta de água
A pesquisa também apontou que 58% da população brasileira está muito preocupada com a falta de água. O consumo excessivo ou desperdício são vistos como os principais responsáveis por este problema na visão de 27% dos entrevistados. Em segundo lugar ficaram as mudanças climáticas, opção escolhida por 21% dos que responderam à pesquisa. Há também uma percepção crescente da falta de cuidado e alto uso, na medida em que o público é mais velho ou de classes mais altas, ou ainda de maior escolarização. O Nordeste considera a situação ainda mais grave, mas ambas as regiões NE e SE avaliam o cuidado negativamente.
No entanto, pessoas menos escolarizadas (com ensino fundamental completo ou incompleto) atribuem a falta de água à escassez de chuvas, enquanto pessoas mais escolarizadas (com ensino superior ou pós-graduação) enfatizam problemas de gestão. Os dados mostram ainda que, enquanto a maioria (75%) afirma que adota o não desperdício como ação de proteção da água, apenas 12% participam de ações coletivas locais com o mesmo objetivo.
“Este dado nos mostra a necessidade de criar canais mais efetivos de comunicação e engajamento com toda a população para combinar as ações individuais do cidadão com esforços coletivos, que são aqueles que têm condições de lidar de forma mais estratégica com esses fatores que são complexos São as ações estruturantes e adaptadas às mudanças climáticas que farão a diferença na construção de um futuro possível para todos”, analisa Barrêto.
Nesta linha, 43% dos entrevistados apontam a gestão integrada dos recursos hídricos entre governos, sociedade civil e empresas como as principais medidas para garantir a segurança hídrica, identificando a necessidade da colaboração para o desenvolvimento de soluções mais ágeis e eficazes. Mas 70% da população nunca ouviu falar sobre os Comitês de Bacia Hidrográfica e entre os que já ouviram falar, 42% não conhece o seu trabalho.
Atualmente existem mais de 230 comitês de bacias instituídos no país, sendo responsáveis por promover uma gestão descentralizada em esforços para aprimorar a qualidade da água. “Um exemplo bem-sucedido de gestão foi o realizado no rio Jundiaí, em São Paulo, em que diretrizes fortes em ações de saneamento, investimento financeiro duradouro e engajamento da sociedade civil melhoraram a qualidade da água. Essa transformação permitiu, após o tratamento da água, abastecer milhares de pessoas durante a pior seca do estado, nos anos de 2014 e 2015. É indispensável traduzir o que essa instância significa e engajar a sociedade sobre a importância e o papel dos Comitês de Bacia para o cuidado com água, além de ser um espaço de participação para essas ações coletivas que envolvem governos, sociedade e usuários de água, como as empresas”, reforça Barrêto.
Pesquisa
O levantamento sobre a percepção da população sobre a importância da conservação da natureza e proteção das nascentes e dos rios para garantir a segurança hídrica, desenvolvimento econômico e bem-estar social foi realizado pela Ipsos a pedido da The Nature Conservancy Brasil (TNC). Foram ouvidas 1.499 pessoas, homens e mulheres maiores de 18 anos das classes ABCDE, de todas as regiões do país, entre os dias 8 e 15 de fevereiro deste ano com uma margem de erro de 2,5 pontos percentuais. O método de coleta foi híbrido, com as classes ABC entrevistadas online e as classes DE face a face.
Fonte: The Nature Conservancy Brasil (TNC)
Foto: Reprodução.