85% dos brasileiros defendem ação climática mais rigorosa

Quatro em cada cinco pessoas, ou 80% da população mundial, querem que seus governos tomem medidas mais fortes para enfrentar a crise climática. É o que aponta a maior pesquisa independente sobre mudanças climáticas, a People’s Climate Vote 2024, realizada pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), a Universidade de Oxford, do Reino Unido, e a empresa internacional de pesquisa GeoPoll.

O levantamento, que contou com a participação de 73 mil indivíduos em 87 idiomas de 77 países, sendo o maior já feito sobre o tema.

“A People’s Climate Vote 2024 é alta e clara. Os cidadãos globais querem que os seus líderes transcendam as suas diferenças, ajam agora e ajam com ousadia para combater a crise climática”, afirmou Achim Steiner, administrador do PNUD, em comunicado de imprensa.

Ele acrescentou que os resultados revelam um nível de consenso que é “verdadeiramente surpreendente”. “Instamos os líderes e os decisores políticos a tomarem nota, especialmente à medida que os países desenvolvem a sua próxima ronda de compromissos de ação climática – ou ‘contribuições determinadas a nível nacional’ no âmbito do Acordo de Paris. Esta é uma questão com a qual quase todos, em todos os lugares, concordam”, pontuou.

Brasil e o clima

No relatório divulgado nesta quinta-feira, o PNUD lembra que o Brasil é o maior país da América do Sul e o quinto mais vasto do mundo. O país se comprometeu a alcançar emissões líquidas zero até 2050 e já está em transição para energias renováveis.

Atualmente, o setor de energia renovável responde por 83% da produção, sendo que a maior parte da geração de eletricidade doméstica vem de usinas hidrelétricas.

A pesquisa revelou que 81% dos brasileiros apoiam uma rápida transição dos combustíveis fósseis, com cerca de dois terços desejando uma mudança muito rápida.

Segundo o estudo, 70% dos entrevistados no país relataram ter tido uma experiência recente de eventos climáticos extremos e mais da metade avaliou negativamente as ações nacionais para endereçar essas questões.

Acima da média global em 13%, quase todos os brasileiros entrevistados apoiam a educação sobre temas relacionados a mudança climática e avaliam que a cooperação internacional deve ser fortalecida para lidar com a crise.

Liderança global

Globalmente, 86% dos entrevistados defendem o trabalho global para enfrentar o desafio climático. Segundo o PNUD, o consenso sobre esse aspecto é notável, especialmente no atual cenário global de aumento de conflitos e crescimento do nacionalismo.

As perguntas foram elaboradas para ajudar a entender os impactos das mudanças climáticas e como os líderes mundiais devem responder. O grupo de países pesquisados representa 87% da população global.

Para o administrador do PNUD, Achim Steiner, o levantamento traz uma visão clara que os resultados da pesquisa trazem dados sem precedentes em sua abrangência, que revelam um nível de consenso surpreendente. Por isso, Steiner pediu aos líderes e formuladores de políticas que levem em consideração, especialmente no desenvolvimento da próxima rodada de promessas de ação climática.

Compromisso foi assinado por 77 partes, incluindo países como Polônia, Vietnã e Chile, que prometem acabar com o carvão pela primeira vezUnsplash/Patrick Federi Compromisso foi assinado por 77 partes, incluindo países como Polônia, Vietnã e Chile, que prometem acabar com o carvão pela primeira vez

Outros resultados

Em cinco grandes emissores, Austrália, Canadá, França, Alemanha e Estados Unidos, as mulheres eram mais favoráveis ao fortalecimento dos compromissos de seus países em 10 a 17 pontos percentuais. Essa diferença foi maior na Alemanha, onde 17% das mulheres eram mais propensas do que os homens a querer mais ações climáticas.

Além de um amplo apelo por ações climáticas mais ousadas, a pesquisa mostra o apoio de uma maioria global de 72% a favor de uma rápida transição para o abandono dos combustíveis fósseis. Isso se aplica aos países que estão entre os 10 maiores produtores de petróleo, carvão ou gás.

O estudo inclui maiorias que variam de 89% na Nigéria a 54% da população dos Estados Unidos. Apenas 7% das pessoas em todo o mundo disseram que seu país não deveria fazer a transição de forma alguma.

Ansiedade climática

Pessoas de todo o mundo relataram que a mudança climática estava em suas mentes. Globalmente, 56% disseram que estavam pensando nisso regularmente, ou seja, diariamente ou semanalmente, incluindo cerca de 63% das pessoas nos Países Menos Desenvolvidos.

Mais da metade das pessoas em todo o mundo disse estar mais preocupada com as mudanças climáticas do que no ano passado. O número correspondente foi maior para as pessoas dos Países Menos Desenvolvidos, com 59%.

Em média, nos nove pequenos Estados Insulares em desenvolvimento pesquisados, 71% disseram estar mais preocupados com as mudanças climáticas do que no ano passado.

Uma proporção de 69% das pessoas no mundo disse que suas grandes decisões, como onde morar ou trabalhar, estavam sendo afetadas pelas mudanças climáticas. O nível de afetados foi maior nos países menos desenvolvidos, com 74%, mas notavelmente menor na Europa Ocidental e do Norte, 52% e na América do Norte, 42%.

Acordo de Paris

A diretora global de Mudanças Climáticas do Pnud, Cassie Flynn, disse que durante as decisões dos líderes mundiais sobre a próxima rodada de promessas do Acordo de Paris até 2025, esses resultados são uma prova inegável de que as pessoas em todos os lugares apoiam ações climáticas ousadas.

Para ela, os próximos dois anos são uma das “melhores chances” da comunidade internacional para garantir que o aquecimento fique abaixo de 1,5°C.

Fontes: ONU News, Um só Planeta.

Foto: Acnur/Eduardo Aigner.