Exxon financiou “think tanks” para espalhar negacionismo climático na América Latina, afirma denúncia

A gigante do petróleo ExxonMobil financiou think tanks de direita para disseminar o negacionismo climático em países da América Latina, de acordo com documentos obtidos pelo site investigativo DeSmog. As informações foram abordadas pelo jornal britânico The Guardian. As correspondências, trocadas entre o fim dos anos 1990 e o início dos 2000, revelam uma campanha coordenada para enfraquecer o apoio do Sul Global ao processo de tratados climáticos liderado pela ONU.

Os arquivos incluem cópias de cheques enviados pela Exxon e trocas de cartas entre executivos da empresa e a Atlas Network, uma coalizão norte-americana que reúne mais de 500 organizações liberais e pró-mercado em todo o mundo.

Segundo a investigação, o dinheiro foi usado para traduzir livros negacionistas para o espanhol e o chinês, custear viagens de palestrantes norte-americanos e organizar eventos públicos que deram palco a vozes contrárias ao consenso científico sobre a crise climática.

Um dos objetivos da rede, conforme a própria Atlas informou à companhia, era “convencer o mundo em desenvolvimento sobre os efeitos adversos dos tratados climáticos globais”.

Em carta de 1998, a Atlas Network informou à Exxon que poucas de suas conquistas teriam sido possíveis sem assistência financeira da companhia. Um ano antes, a petrolífera havia enviado um cheque de US$ 50 mil (equivalente a cerca de US$ 100 mil atuais) para financiar a expansão de think tanks fora dos Estados Unidos, com foco em América Latina, Ásia e Europa.

O material indica que instituições latino-americanas ligadas à rede, como o Instituto Liberal, no Brasil, e a Fundación República para una Nueva Generación, na Argentina, lideraram seminários e publicações às vésperas da COP4, realizada em Buenos Aires.

Entre os nomes convidados estava o norte-americano Patrick Michaels, um dos mais conhecidos negacionistas do clima, que chegou a classificar o aquecimento global como “histeria”. O plano, segundo documentos internos, era apresentar esses palestrantes a ministros, políticos, empresários e veículos de comunicação locais, de modo a moldar o debate público.

A Atlas também traduziu para o espanhol e o chinês o livreto de Fred Singer intitulado “O Caso Científico Contra o Tratado Climático Global”, que afirmava “não haver suporte científico significativo para uma ameaça global de aquecimento climático”.

Segundo a investigação, a Exxon buscava consolidar uma rede internacional de aliados capazes de influenciar políticas governamentais e minar o consenso científico sobre o papel humano nas mudanças climáticas. As ações ampliaram uma estratégia já em curso nos Estados Unidos, onde a companhia financiava entidades como a Heritage Foundation e o Cato Institute para questionar evidências científicas e atrasar regulações ambientais.

O porta-voz da Atlas Network, Adam Weinberg, afirmou que os materiais mencionados “foram redigidos por ex-funcionários há mais de 25 anos” e que a Exxon “não é doadora há quase duas décadas”. A empresa, por sua vez, não respondeu aos pedidos de comentário do The Guardian.

O atraso provocado pelo negacionismo de grandes empresas e seus aliados é perceptível hoje, às vésperas da COP30, que será sediada em Belém (PA). Três décadas depois, as emissões globais seguem em alta, e cientistas alertam que o planeta já ultrapassou o ponto de inflexão em que o branqueamento e a morte em massa dos recifes de corais se tornam irreversíveis.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Frank Wagner/GettyImages.

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