‘Brincando com fogo’: a contagem regressiva para extração de minerais do fundo do mar

As partes mais profundas do Oceano Pacífico descansam intactas há milênios. Mas agora as criaturas que vivem milhares de metros sob a superfície podem topar com novos visitantes: empresas extraindo minerais que são imprescindíveis para a transição à energia verde.

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (International Seabed Authority, ou ISA), organização apoiada pela ONU que regula o fundo do mar, prepara-se para analisar em julho o primeiro pedido de licença de mineração comercial no mar profundo, apesar de muitos de seus Estados membros avisarem que ainda é cedo para a mineração passar da terra para a água.

Ambientalistas têm alertado para os riscos. Os países estão tentando avaliar o esforço para abandonar os combustíveis fósseis e contrabalanceá-los com a necessidade de proteger os ecossistemas marinhos, destacando que os padrões ecológicos e mecanismos de responsabilidade ainda estarão no limbo quando o prazo se esgotar. Os tesouros ecológicos no fundo do mar incluem criaturas como o raro peixe-fantasma, o polvo-dumbo e a anêmona-do-mar gigante, além de vermes microscópicos que, segundo cientistas, podem encerrar a chave da compreensão da evolução humana.

No momento as empresas podem prospectar águas internacionais em busca de minerais, mas não podem extrair os minerais. Os proponentes da mineração em águas profundas dizem que a transição é necessária porque a mineração terrestre não consegue satisfazer a demanda por metais que são necessários para baterias, fiação e outros hardwares essenciais para o abandono dos combustíveis fósseis. O boom dos carros elétricos e baterias de rede resultante do esforço para cumprir os termos do Pacto Climático de Paris significa que a demanda por minerais deve se multiplicar por quatro até 2040, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Aumentar a mineração terrestre a esse ponto significaria depender da China e acarretaria um custo ambiental enorme.

Grupos offshore estão testando três maneiras de extrair minerais. A opção mais promissora envolve sugar nódulos polimetálicos individuais do leito oceânico, que são então transportados por mangueiras flexíveis de quatro quilômetros de extensão até navios ancorados no mar. Esses nódulos contêm cobre, cobalto, níquel e manganês – metais que já são controversos porque sua extração em terra está ligada ao desmatamento, trabalho paraçado e o deslocamento de comunidades.

Ao centro da disputa em torno do futuro da mineração em alto-mar está a ISA, organismo criado em 1982 para garantir que a extração de minerais de águas internacionais beneficiasse a humanidade. Suas decisões são tomadas por um pequeno conselho de Estados-membros que se revezam, decidindo em nome de 167 países mais a UE. Os Estados Unidos nunca entraram para a ISA. A partir de julho, depois de analisar os pedidos por um ano, esse conselho pode aprovar os alvarás de exploração, bastando para isso o apoio de um terço de seus membros.

Alguns países europeus parecem estar querendo ganhar mais tempo. França, Alemanha e Espanha patrocinam licenças de prospecção em alto-mar. Mas, em reuniões na Jamaica no mês passado, elas defenderam uma pausa preventiva na mineração no leito do mar. Depois de recomendações de cientistas de que o papel do fundo do mar na armazenagem de carbono e na sustentação da fauna e flora natural ainda é pouco conhecido, pelo menos uma dúzia de países pediram uma suspensão temporária da atividade.

O governo britânico, que está financiando um projeto de pesquisa científica de US$ 6 milhões (cerca de R$ 30 milhões) em suas próprias zonas de exploração no Pacífico, disse em março que não defenderá a mineração comercial nessas áreas enquanto a ISA não conseguir acordar regras globais.

Ambientalistas dizem que a nuvem de águas residuais emitida por maquinário de mineração em águas profundas pode perturbar a chamada “neve marinha”, formada por partículas de matéria biológica rica em carbono e nutrientes, que geralmente se deposita no fundo do mar. A poluição sonora pode perturbar mamíferos marinhos.

Os ecossistemas do fundo do mar “levam milênios para se criar e podem levar segundos para ser destruídos”, disse o oceanógrafo Tony Worby, da organização australiana sem fins lucrativos Minderoo Foundation. “Estamos brincando com fogo se pensamos que podemos descer até as profundezas do mar e garimpá-las destrutivamente sem repercussões maciças.”

“É uma troca”, disse Kris Van Nijen, diretor gerente da empresa belga de mineração em águas profundas Global Sea Mineral Resources. “Se extraímos minerais na Indonésia, Papua-Nova Guiné e Filipinas e destruímos suas florestas tropicais, até que ponto nódulos polimetálicos podem ser um recurso natural melhor que os minerais extraídos em terra?”

Antecipadamente, há muito que  cientistas alertam que o século 21 veria o fim da pesca, e o início da mineração em mar profundo. Algo temido por 9 entre 10 cientistas. Agora, pela primeira vez um país rico fez o mesmo. À primeira vista, a Noruega propôs abrir uma área do tamanho da Alemanha em sua plataforma continental para a mineração.

O site do WWF diz que ‘A Deep Sea Conservation Coalition, incluindo ONGs internacionais como WWF, Fauna & Flora e Greenpeace, estão denunciando afirmações errôneas do primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre, de que a mineração em águas profundas pode ser feita de uma forma que não prejudique a diversidade natural no oceano’.

Do mesmo modo, Uma onda crescente de países pede uma pausa preventiva, moratória ou proibição da mineração em alto mar, incluindo: Chile, Costa Rica, Equador, Estados Federados da Micronésia, Fiji, Finlândia, França, Alemanha, Nova Zelândia, Palau, Panamá, Samoa, Espanha e Vanuatu.

Segundo o WWF, Mais de 700 cientistas de 44 países já destacaram como a mineração em alto mar resultaria na perda da biodiversidade marinha e na degradação dos ecossistemas, negando a declaração do primeiro-ministro. Apesar disso, o governo norueguês continua a considerar a abertura de parte do Ártico para mineração; um ecossistema globalmente importante, mas delicado, já afetado pelas mudanças climáticas.

Do mesmo modo, Uma onda crescente de países pede uma pausa preventiva, moratória ou proibição da mineração em alto mar, incluindo: Chile, Costa Rica, Equador, Estados Federados da Micronésia, Fiji, Finlândia, França, Alemanha, Nova Zelândia, Palau, Panamá, Samoa, Espanha e Vanuatu.

Fonte: Folha SP.

Imagem: Ralph White/Getty Images.