Antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral no Brasil, a Amazônia já abrigava milhões de indígenas. Estimativas recentes apontam que até 10 milhões de pessoas viviam na região, contradizendo a antiga ideia de que a floresta era pouco povoada e composta apenas por pequenos grupos nômades.
A primeira expedição europeia a descer o rio Amazonas foi comandada pelo explorador espanhol Francisco de Orellana, em 1541, acompanhado pelo cronista Gaspar de Carvajal. Em seus relatos, Carvajal descreveu a região como densamente habitada, afirmando que “se uma agulha caísse na floresta, certamente cairia na cabeça de um índio”. Durante séculos, suas descrições foram consideradas exageradas ou fantasiosas — mas as novas descobertas arqueológicas indicam que o cronista pode ter estado muito mais próximo da verdade do que se imaginava.
De acordo com pesquisas recentes, grandes centros urbanos pré-coloniais se espalhavam pela Amazônia, com cidades que poderiam abrigar até 50 mil habitantes. Esses assentamentos apresentavam planejamento urbano, com ruas, praças, sistemas defensivos e áreas de cultivo.
Uma floresta cultivada
Estudos indicam também que a floresta amazônica, tida por séculos como intocada, foi em parte cultivada e manejada por povos indígenas. Técnicas agrícolas sustentáveis e o uso da terra preta de índio (TPI) — um tipo de solo fértil criado artificialmente — transformaram a região em um vasto projeto ecológico e arquitetônico que perdurou por milênios.
Essas descobertas vêm sendo reforçadas por tecnologias modernas, como o LIDAR (Light Detection and Ranging), que permite mapear o terreno por meio de feixes de laser lançados de aeronaves. O método revelou estruturas e ruínas escondidas sob a densa vegetação, incluindo estradas, aterros e plataformas cerimoniais.
A floresta “vazia”
Mas por que, então, os cientistas e exploradores do século XIX encontraram uma floresta aparentemente desabitada? A resposta está nas doenças trazidas pelos europeus após a chegada dos portugueses, que provocaram um colapso demográfico devastador entre as populações indígenas. Epidemias como varíola, gripe e sarampo se espalharam rapidamente, eliminando comunidades inteiras em poucas décadas.
A densa umidade da Amazônia também contribuiu para a deterioração de vestígios materiais. Ao contrário de outras civilizações pré-colombianas que ergueram monumentos em pedra, os povos amazônicos construíam com terra, madeira e argila, materiais que se decompõem com o tempo. Exemplos como os montes e geoglifos da Ilha de Marajó mostram, porém, que esses povos possuíam conhecimentos de engenharia e organização social altamente sofisticados.
O mais importante de todas essas descobertas é que a floresta amazônica foi cultivada e planejada. Essa nova compreensão desafia as visões eurocêntricas que por muito tempo retrataram os povos indígenas como “primitivos” ou “sem civilização”. Na verdade, eles foram responsáveis por criar e preservar um dos mais importantes patrimônios naturais da humanidade: a floresta amazônica.
Fonte: Revista Forum.
Foto: Wikipédia.

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