Pás dos geradores, fabricados com uma madeira especialmente leve extraída nas selvas do Equador, ilustram o paradoxo do grande impacto socioambiental que as energias renováveis causam. O Pau-de-Balsa, ou Balso é uma árvore que cresce nas florestas tropicais, em uma altitude entre 300 e 1.000 metros.
“Na América do Sul, você o encontra na Cordilheira dos Andes, na Amazônia, no Peru, na Colômbia, na Venezuela e no Panamá. Ao norte, você encontra o Pau-de-Balsa na Costa Rica e também no sul do México”, diz Ricardo Ortiz, que se dedica à exportação de Pau-de-Balsa há mais de 25 anos.
Do Pau-de-Balsa se obtém uma madeira leve, e cada árvore oferece um rendimento considerável, uma vez que pode chegar a ter entre 25 e 30 metros de altura. Em geral, ela morre aos 6 ou 7 anos, mas “para tirar o máximo proveito, é derrubada aos 3 ou 4 anos, quando sua madeira atinge a melhor qualidade. A madeira do Pau-de-Balsa é usada principalmente para fabricar pás de geradores de energia eólica.
Desde 2018, se notava algo importante nos territórios indígenas da Amazônia equatoriana envolvendo a demanda internacional por este material tropical, notável por conciliar flexibilidade, dureza, leveza e resistência. Era o balso, que, por ser especialmente leve, é um recurso natural usado na Europa e na China como componente na construção das pás que giram as turbinas eólica construídas como parte da transição energética decorrente da necessidade de descarbonizar a economia.
Cada pá desses aerogeradores alcança atualmente 80 metros de comprimento, e em novos modelos podem chegar a 100 metros, o que supõe 150 metros cúbicos de madeira cada uma, ou seja, várias toneladas, segundo cálculos do Laboratório Nacional de Energia Renovável dos Estados Unidos.
O Equador, que é o principal exportador, com 75% do mercado global, conta com várias grandes empresas, como Plantabal S.A, em Guayaquil, que dedica até 10.000 hectares ao cultivo do balso para comercialização no exterior. Mas, nos últimos três anos, esta e outras grandes companhias que compram de fornecedores independentes têm tido muita dificuldade em fazer frente à explosão nos pedidos internacionais.
As perspectivas financeiras para as energias renováveis, e em particular para a eólica, impulsionaram a instalação de aerogeradores no continente europeu. O mesmo aconteceu na China, que também trata de aumentar o peso das renováveis a seu mix energético. Em dezembro de 2020, o presidente Xi Jinping declarou que, dos 243 gigawatts de capacidade energética eólica e solar, o gigante asiático passaria para mais de 1.200 até 2030.
A extração frenética dos últimos meses ameaçou o habitat de animais protegidos, aumentou a extração ilegal, precarizou o trabalho e dividiu as comunidades indígenas, afirmam diferentes fontes consultadas pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
A extração do Pau-de-Balsa por si só não é um problema grave de desmatamento. Trata-se de uma espécie primária e cresce tão rápido que, onde há uma árvore derrubada, volta a crescer outra que em cerca de quatro anos chega a 20 metros.
Com o boom, o Pau-de-Balsa foi explorado sem a técnica necessária. Se desperdiçou madeira, e por acidente e desconhecimento, foram derrubadas outras árvores que, sim, são críticas. Muitas das áreas de Pau-de-Balsa são habitats de animais protegidos, como onças, tartarugas, várias espécies de pássaros e outros mamíferos.
O que os defensores da Amazônia pedem é que a indústria dos aerogeradores deveria implantar medidas rigorosas para determinar a origem da madeira e evitar que a pressão do mercado leve ao desmatamento. Em última instância, também deveria abandonar definitivamente o uso maciço deste recurso natural.
Em meio ao que muitos consideram uma crise ambiental e social, as fontes consultadas pela BBC News Mundo concordam que, sendo controlada e administrada pelas autoridades, a exploração de Pau-de-Balsa pode ser uma importante oportunidade econômica.
Fontes: BBC, El País,Hedatopics.
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