Mortes relacionadas ao calor custaram ao Brasil US$ 5,1 milhões por ano —pouco mais de R$ 27 milhões — de 2015 a 2024, um aumento de 249% em relação à década anterior, afirma um relatório publicado pela revista Lancet sobre o impacto das mudanças climáticas na saúde das pessoas. Às vésperas da COP30, o estudo mostra que temperaturas recordes, longas secas e poluição custam vidas e dinheiro sem uma resposta efetiva dos governantes para a questão.
O caso brasileiro acompanha a piora do indicador na América Latina, que, no mesmo período, registrou o custo médio anual de US$ 855 milhões — mais de R$ 4,5 bilhões — por mortes em decorrência do aumento de temperaturas. O valor é 229% mais alto do que o auferido na década passada. Segundo o estudo, são 13 mil mortes por ano na região por causa do calor — o número de mortes sobre o Brasil não foi divulgado pela revista.
“Os impactos sobre a saúde estão piorando e não haverá mudança se não adotarmos medidas efetivas”, diz a pesquisadora peruana Stella Hartinger em entrevista a jornalistas. “A visibilidade do tema das mudanças climáticas e da saúde diminuiu nos últimos tempos.”
Hartinger chefiou a equipe responsável pelo artigo “Lancet Countdown Latin America 2025” — Lancet Contagem Regressiva América Latina 2025, em português —, composto por 47 pesquisadores de 25 instituições.
Os estudiosos analisaram 41 indicadores sobre clima e saúde relativos a diferentes países da América Latina, em um recorte regional que integra o “Lancet Countdown On Health Climate Change 2025” — Lancet Contagem Regressiva Sobre Saúde e Mudanças Climáticas 2025 —, panorama global sobre o tema. Fundada no Reino Unido no século 19, a Lancet é uma das revistas científicas de medicina mais respeitadas do mundo.
“As cidades latino-americanas ainda não estão preparadas para enfrentar a mudança climática e os impactos na saúde”, afirma Hartinger. “Não podemos ter uma transição energética justa se continuarmos subsidiando mais combustíveis fósseis.”
No que se restringe ao Brasil, a publicação se baliza por dois fatores interligados para ressaltar a piora nos dados: o calor e a poluição.
A temperatura média no ano passado foi de 27ºC, 1,2ºC acima da média do período 2001-2010. Nesse contexto, lactentes e idosos enfrentam mais riscos, porque são mais vulneráveis às ondas de calor. Em 2022, 30 mil mortes foram atribuídas à poluição, 79% delas causadas por combustíveis fósseis. O risco de transmissão de dengue também disparou.
Desde os anos 1950, o aumento foi de 108%. Ao mesmo tempo, o relatório da Lancet mostra que apenas 3 das 32 cidades brasileiras avaliadas têm um nível de vegetação adequado. Em suma, o aquecimento da temperatura causa uma miríade de prejuízos para a saúde pública que, como num efeito em cadeia, também atingem a economia. Embaixadora do Movimento Médicos Pelo Clima, do Instituto do Ar, a médica pneumologista Danielle Bedin explica a ligação entre calor, poluição e os efeitos econômicos.
Ela afirma que as grandes cidades funcionam hoje como uma estufa de calor. Quanto maior a temperatura, maior a concentração de poluentes no ar. Segundo Bedin, o calor piora as comorbidades das pessoas, gerando faltas ao trabalho. Do mesmo modo, os segmentos da produção agrícola e da construção civil são afetados pela elevação das temperaturas, porque os profissionais, expostos ao sol, precisam mudar horários e carga de trabalho, afirma ela.
Não por acaso, o novo relatório da Lancet indica que as perdas trabalhistas, em 2024, representaram 0,8% do PIB. “O cenário atual piora as doenças cardiovasculares e as doenças respiratórias. A poluição chega a provocar mais partos prematuros”, diz.
Sua recomendação é beber água e evitar fazer atividades físicas em horário de maior incidência solar. A médica também orienta usar máscaras quando em avenidas ou rodovias, item indispensável para profissionais que estão sempre em deslocamento, como os entregadores.
Por fim, a pneumologista afirma que o SUS ainda não está preparado para receber um maior fluxo de cidadãos afetados pela questão climática. “Não temos estrutura ou treinamento profissional para questões de mudança climática.”
Fontes: Folha SP, Poder 360.
Foto: Reprodução.

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