Buraco azul de Belize: saiba mistérios de área no meio do oceano que encanta mergulhadores

Os mistérios que envolvem o grande buraco azul de Belize sempre atraiu o interesse de mergulhadores e também cientistas que estudam os oceanos. O Great Blue Hole, como é conhecido em inglês, é uma caverna que se formou há centenas de milhares de anos, quando o nível do mar era mais baixo do que agora. À medida que o oceano subiu, ela ficou submersa, mas preservou as estalactites (formações rochosas sedimentares que se formam no teto de cavernas), rodeadas posteriormente por animais marinhos.

É um fenômeno não visto em outro lugar na natureza que se tornou uma das áreas mais deslumbrantes. Está no Atol de Recifes Lighthouse, a 80 quilômetros da costa de Belize. O país, que fazia parte da civilização maia, fica na costa nordeste da América Central. É bem pequeno, possui o tamanho do Sergipe e tem 290 quilômetros de litoral e faz fronteira com México, Guatemala e Honduras.

O enorme círculo azul escuro no meio do mar turquesa do Caribe tem 300 metros de diâmetro e 125 metros de profundidade. Além do formato incomum e da água cristalina, o ambiente repleto de vida marinha atrai turistas do mundo todo. Os atóis de coral geralmente brilham em tons vibrantes de turquesa, azul-petróleo, azul-pavão ou água-marinha. Este local incomum em Belize é considerado patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O misterioso Great Blue Hole provavelmente se formou durante a última Idade do Gelo, quando o nível global do mar era muito mais baixo. Essa caverna subaquática (também conhecida como sumidouro marinho) contém muitas características geológicas interessantes, incluindo estalactites e estalagmites de calcário. As profundidades e as atraentes formações rochosas dentro do Great Blue Hole são intrigantes para mergulhadores experientes. Enquanto os recifes ao redor estão repletos de vida, a má circulação de oxigênio e a falta de luz no fundo do buraco cria um ambiente inóspito para a maioria das formas orgânicas.

O Great Blue Hole é o terceiro sumidouro marinho mais fundo do planeta. Acima dele está o Dragon Hole, na China, com 300 metros de profundidade. O Dean’s Blue Hole, nas Bahamas, vem a seguir, com 200 metros de profundidade.

Desvendando o buraco azul de Belize

Em novembro de 2018, a Aquatica Submarines enviou um submarino com três pesquisadores a bordo para explorar o buraco azul de Belize por três semanas. “Viajamos para explorar e documentar um fenômeno geológico em apoio à ciência da conservação. Mapeamos o grande buraco azul usando um sonar de alta resolução”, afirmou, na época, Erika Bergman, oceanógrafa e piloto-chefe do submarino.

Durante a missão, a equipe se concentrou em pontos específicos como as cavernas de estalactites. Segundo ela, os trechos verticais retos da parede estão livres de erosão porque o nível do mar subiu rapidamente durante algumas poucas décadas entre as etapas. “Preservado da perturbação do tempo e isolado na escuridão, o buraco contém pistas de uma parte muito natural do ciclo de vida do nosso planeta. São esses terraços e estalactites que nos propusemos a mapear”, disse a oceanógrafa.

A expedição também contou com a participação de Mark Atherton, especialista em sonar da Kongsberg Mesotech. Com um equipamento que funciona a partir da emissão de ondas sonoras e é utilizado para localizar objetos no fundo dos oceanos, foi possível criar um mapa em 3D.

A uma profundidade de 88 metros, a expedição observou uma camada de carbonato de cálcio, onde um grande recife de coral crescia no que eram então as águas rasas do Caribe. A 124 metros de profundidade, a expedição encontrou indícios de pequenas formações de estalactites ou estalagmites, que foram cobertos por areia.

Além do mapa do sonar, foi implantado um instrumento para medir condutividade, temperatura e profundidade no mar, bem como o oxigênio dissolvido. “Os dados coletados mostram que abaixo da camada de sulfeto de hidrogênio (H2S) a 91 metros de profundidade, o fundo é completamente anóxico – não há uma gota de oxigênio lá embaixo.

Isso também é evidenciado pelo ‘cemitério de caramujos’, um trecho do buraco azul onde observamos centenas de caramujos mortos que, provavelmente, caíram no buraco e não conseguiram escapar das paredes íngremes ou sobreviver por muito tempo sem oxigênio”, disse a oceanógrafa. O sulfeto de hidrogênio é um gás incolor e de mau cheiro. É tóxico, inflamável e altamente corrosivo.

“As bactérias redutoras de enxofre e sulfato que vivem em ambientes anóxicos, como este sumidouro oceânico, usam sulfatos para oxidar a matéria orgânica. O sulfeto de hidrogênio é um produto residual desse processo bioquímico natural. Outro possível contribuinte para a espessura e densidade da camada de H2S pode ser a prevalência da alga sargassum. Esta alga marrom contém alta concentração de compostos sulfúricos e foi prolífera em todo o Caribe em 2016 e em 2018″, disse Erika.

A oceanógrafa falou ainda da experiência de mergulhar com Rachel Graham, fundadora da MarAlliance. “Ela me contou sobre um projeto de rastreamento de tubarões no qual eles descobriram que tubarões-martelo visitam regularmente o buraco azul, junto com tubarões de recife. E eles nunca nadam na camada H2S, eles sempre ficam um pouco acima dela”, disse ela.

Ecossistema intocado

O Lighthouse Reef e o Great Blue Hole são pequenos pedaços do sistema da Barreira de Recifes de Belize, um dos ecossistemas marinhos mais intocados do mundo. Composta por recifes em franjas, barreiras e atóis, a área abriga uma rica diversidade de espécies. Há vários monumentos naturais dentro do atol. Um deles é o Half Moon Caye, área marinha protegida criada pelo governo de Belize para dar suporte a espécies raras de pássaros.

A Barreira de Recifes de Belize integra a Barreira de Corais da Mesoamérica, a segunda maior do mundo. Ela se estende ao longo de 1.000 quilômetros da costa de México, Belize, Guatemala e Honduras. Esse sistema de recifes é um importante centro de espécies marinhas e um dos lugares com maior biodiversidade da Terra.

Fonte: Revista Planeta, Estadão.

Foto: USGS.