A camada de ozônio (O3) nos protege dos raios ultravioletas (UV) emitidos pelo Sol, e ela é destruída pelos chamados gases ‘HCFCs’ (hidroclorofluorcarbonos), que são compostos químicos formados por carbono, hidrogênio, cloro e flúor, o que leva à formação dos famosos buracos na camada de ozônio.
Estes gases também aumentam o efeito estufa, já que eles retêm o calor que é irradiado pela superfície terrestre, o que acaba aumentando a temperatura da atmosfera e contribuindo dessa forma para o aquecimento global.
A camada de ozônio é importante pois este é o único gás que filtra a radiação ultravioleta do tipo B (UV-B) proveniente do Sol. Está localizada na estratosfera, entre 20 e 30 km de altitude e tem cerca de 10 km de espessura.
E agora, um estudo publicado recentemente na revista Nature Climate Change trouxe uma boa notícia para a mitigação das mudanças climáticas: os HCFCs estão desaparecendo da atmosfera mais rápido do que o previsto.
Um grupo de especialistas, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), declarou que a camada de ozônio poderá se recuperar completamente em quatro décadas! A boa notícia foi anunciada na 103ª reunião anual da Sociedade Americana de Meteorologia (em inglês, American Meteorological Society – AMS).
O relatório do Painel de Avaliação Científica apoiado pela ONU para o Protocolo de Montreal sobre Substâncias Destruidoras de Ozônio, publicado a cada quatro anos, confirma a eliminação gradual de quase 99% das substâncias destruidoras de ozônio, proibidas pelo Protocolo de Montreal.
Assinado em 1987, após a descoberta do buraco na camada de ozônio causada pela produção e consumo de certos produtos químicos, como os clorofluorcarbonos (CFCs), o Protocolo de Montreal se tornou um verdadeiro defensor do meio ambiente, conseguindo proteger e recuperar a camada de ozônio na estratosfera, consequentemente diminuindo a exposição humana aos nocivos raios ultravioleta (UV) vindos do sol!
Gases destruidores do ozônio sumindo mais rapidamente do que o esperado
O Protocolo de Montreal tem sido bem sucedido em conter as emissões dessas substâncias destruidoras da camada de ozônio, e isso foi possível por meio do controle da produção e do consumo desses gases.
O estudo analisou os níveis dos HCFCs na atmosfera utilizando dados do experimento Advanced Global Atmospheric Gases Experiment (AGAGE) e da agência americana National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).
Os resultados mostraram que os HCFCs diminuíram globalmente desde 2021, 5 anos antes da redução projetada mais recente, chegando ao valor de 321,69 ppt (partes por trilhão). Espera-se uma eliminação do uso de algumas das substâncias que compõem os HCFCs até 2040, mas o desaparecimento total deles pode levar centenas de anos. Além disso, a queda foi mais rápida no Hemisfério Norte, refletindo mudanças nas emissões.
“Este foi um enorme sucesso global. Estamos vendo que as coisas estão indo na direção certa”, disse em um comunicado Luke Western, da Universidade de Bristol, o autor principal do estudo. Segundo ele, a projeção mais recente, feita em 2022, previa que os níveis não começariam a cair antes de 2026.
A diminuição dos gases HCFCs não só protege a camada de ozônio, mas também diminui, consequentemente, o aquecimento global e o efeito das mudanças climáticas.
De qualquer forma, os pesquisadores alertam que, mesmo quando não estiverem mais em produção, o uso passado desses gases nocivos continuará afetando o ozônio por muitos anos.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estimou em 2023 que levaria quatro décadas para que a camada de ozônio se recuperasse aos níveis anteriores à detecção do buraco na década de 1980.
E segundo Western, essa diminuição observada dos HCFCs foi devido à eficácia do Protocolo de Montreal, bem como às regulamentações nacionais mais rígidas e uma mudança da indústria em antecipação à proibição iminente desses poluentes.
Apesar das boas notícias, o relatório também faz um alerta, pela primeira vez, sobre o uso de novas tecnologias para combater o aquecimento global, como as criadas na geoengenharia. Uma dessas técnicas conhecida como SAI – Stratospheric Aerosol Injection – pretende adicionar intencionalmente alguns aerossóis na estratosfera na intenção de reduzir o aquecimento climático, aumentando a reflexão da luz solar. Entretanto, de forma não intencional, o SAI também pode afetar as temperaturas estratosféricas, a circulação e a produção de ozônio, além das taxas de destruição e transporte.
Impactos e mitigação das mudanças climáticas
O Painel da ONU afirma que a ação tomada para a proteção da camada de ozônio reforçou uma resposta mais pesada à crise climática e o combate ao aquecimento global. Os CFCs, além de destruírem o ozônio estratosférico, também são gases de efeito estufa e seu uso contínuo e descontrolado teria aumentado as temperaturas globais em até 1°C até meados do século, piorando a situação terrível que vivemos, onde as concentrações dos gases que aquecem o planeta ainda não estão diminuindo.
O relatório da ONU ressalta que o Protocolo de Montreal, além de proteger a camada de ozônio, já beneficiou os esforços para mitigar as mudanças climáticas, ajudando a evitar o aquecimento global em cerca de 0,5°C!
Além disso, um acordo adicional em 2016 , conhecido como Emenda de Kigali, foi incorporado ao Protocolo de Montreal, exigindo a redução gradual da produção e consumo de hidrofluorcarbonos (HFCs), substâncias usadas em substituição dos CFCs. Apesar dos HFCs não destruírem diretamente o ozônio, eles são poderosos gases de efeito estufa, com grande potencial para agravar o aquecimento global. De acordo com o Painel, esta emenda evitará outros 0,3 a 0,5°C de aquecimento até 2100.
De acordo com os especialistas, se as atuais políticas e esforços continuarem em vigor, a camada de ozônio deverá se recuperar por volta de 2040 em grande parte do mundo, voltando aos valores de antes do surgimento do buraco de ozônio! A recuperação demorará um pouco mais nas regiões polares, espera-se que a camada de ozônio se recupere totalmente sobre o Ártico por volta de 2045 e em 2066 sobre a Antártica.
O estudo conclui que com as políticas em vigor focadas na eliminação progressiva dos gases de efeito estufa, é possível termos esperança. Os acordos ambientais e a cooperação internacional são a chave para combater as mudanças climáticas.
Fontes: Tempo, National Geographic, O Globo, Folha SP, CNN.
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