O carvão faz parte da matriz energética do Brasil, com uma participação pequena de cerca de 1% da eletricidade gerada no país. Porém, quando são analisadas as emissões de gases de efeito estufa do setor de energia, o uso deste combustível fóssil gera 32% do impacto na atmosfera que intensifica o aquecimento global, e por consequência eventos extremos gerados pela mudança climática.
Os dados foram compilados pelo IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) e divulgados nesta terça-feira (20). De acordo com a pesquisa, que considerou dados de 2022, cortar o carvão na produção de eletricidade representaria uma redução de 29% das emissões, mesmo mantendo o percentual de atuação das usinas termelétricas movidas a gás natural.
“A quantidade de energia gerada por essa fonte poderia, do ponto de vista técnico, ser fornecida por fontes hídricas, solares ou eólicas, aumentando ainda mais o ganho de eficiência energética e ambiental”, argumenta o instituto.
Segundo levantamento publicado em 2022 pelo IEMA (Instituto Energia e Meio Ambiente), o complexo termelétrico brasileiro possui 72 usinas, sendo oito movidas a carvão mineral. Três em Santa Catarina, duas no Rio Grande do Sul, duas no Ceará e uma no Maranhão.
No top 10 das termelétricas com maiores emissões de CO2 equivalente, medida usada para calcular a liberação de gases estufa e seu impacto no ambiente, seis usinas são movidas a carvão.
Tomando como referência para a pesquisa o ano de 2020, o IEMA aponta que naquele ano as usinas a carvão produziam 11% da eletricidade do Brasil, dado que mostra um declínio na relevância da modalidade, que reduziu sua participação na geração de energia em 10 pontos percentuais em apenas dois anos (2020-2022).
Santa Catarina anuncia plano de transição
Em Santa Catarina, estado com mais usinas a carvão no Brasil, o governo estadual lançou o programa de transição energética justa, que pretende acomodar a transição para fontes renováveis de energia minimizando o impacto sobre os 20 mil empregos gerados pelas termelétricas do Complexo Jorge Lacerda, no sul do estado.
Ainda não há iniciativas de ordem prática anunciadas pelo governo catarinense em relação à vida útil das termelétricas. Por lei, o Complexo Jorge Lacerda pode receber subsídios até 2040. No ano passado, foram anunciados R$ 6 milhões de fomento à pesquisa no estado para o desenvolvimento de alternativas para reduzir emissões.
O IDS critica a continuidade de políticas de apoio ao uso de combustíveis fósseis no Brasil, país com vocação para geração de energia renovável, não apenas devido ao potencial das hidrelétricas, mas também das fontes solar e eólica. Até mesmo o gás natural, de origem fóssil, é considerado uma alternativa menos poluente.
“Usinas a carvão emitem mais do que o dobro de dióxido de carbono para gerar a mesma quantidade de energia que usinas a gás natural. Também provocam degradação do solo, contaminação de corpos d’água (rios, lagoas, represas) e destruição de habitats naturais, afetando a biodiversidade local”, argumenta o instituto.
Termelétricas vão além do carvão
O panorama das termelétricas traçado pelo IEMA revela 72 usinas ligadas ao Sistema Interligado Nacional no ano de 2020, sendo 36 movidas a gás natural como combustível principal, oito a carvão mineral, 17 a óleo combustível e outras 11 a diesel. Juntas, elas emitiram 32,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em 2020.
O subsistema Nordeste, composto por todos os estados da região menos o Maranhão, concentra o maior número de termelétricas do Brasil: 28.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Eric Yang/Getty Images.