Cerca de 600 espécies de pássaros foram extintas nos últimos 130 mil anos

Há mais de 6 mil anos, a mistura única de progresso e destruição fez dos humanos especialistas em exterminar a vida selvagem. Apesar de o crescimento das primeiras civilizações, como a egípcia e mesopotâmica, terem sido pioneiras no impacto sobre a natureza e os animais, desmatando grandes áreas para a agricultura e a construção de infraestrutura, o século XX foi o verdadeiro responsável por essa exploração e destruição em massa.

A comunidade científica não tem uma resposta para a quantidade exata de quantos animais os humanos já exterminaram ao longo da história, mas desde o início da Idade Moderna, um total de 777 animais foram extintos, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Contudo, a IUCN avaliou o risco de extinção de apenas 5% das espécies conhecidas no mundo, sendo assim, deve haver muito mais extinções que não foram registradas – fora aquelas que a ciência ainda não estava por perto, que aconteceram muito antes de 1500. Em 2022, um estudo publicado na revista Biological Reviews sugeriu que cerca de 150 mil a 260 mil de todas as espécies conhecidas podem ter morrido desde 1500.

Um extenso relatório produzido pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), envolvendo 59 cientistas de todo o mundo, estimou que a humanidade eliminou 60% dos mamíferos, pássaros, peixes e répteis desde 1970, levando os maiores especialistas a alertar que a aniquilação da vida selvagem é uma emergência que ameaça o futuro da civilização.

Esse ano, em face ao nível crescente de consumo de alimentos e exploração dos recursos para suprir a cadeia global de produção, um estudo de caso publicado na revista Science mostrou que cerca de 600 espécies de pássaros foram extintas pelos seres humanos nos últimos 130 mil anos.

O maior destruidor de todos os tempos

Estamos diante de um dos casos mais dramáticos do cenário ambiental do momento, porque ainda é estimado que pelo menos 1.300 espécies de aves desapareçam da natureza nos próximos 200 anos se a ação humana continuar avançando no ritmo que está. Com isso, funções-chave, como polinização, controle de insetos e remoção de carniça estarão seriamente comprometidas.

A ciência mostra que os cataclismos, como meteoritos, supernovas ou mega vulcões, que causaram o desaparecimento espécies no passado, tiveram metade do impacto que a expansão humana. Estima-se que a taxa natural de perda não foi superior a 0,1 por milhão de espécies por ano naquele tempo, sendo que o número triplicou quando o homem começou seu processo.

Desde o final do Pleistoceno, cerca de 130 mil anos atrás, pelo menos 610 espécies de aves desapareceram, quase todas, 562, devido a causas antropogênicas, como caça, destruição de habitat e introdução de espécies invasoras, especialmente as domésticas. Os cientistas comprovaram isso com base em uma longa revisão de registros arqueológicos e coleções taxonômicas em grandes museus.

Ainda é incerto o que aconteceu com as 48 espécies restantes, portanto, a possibilidade de a humanidade ter desempenhado um papel fundamental em sua extinção não pode ser descartada.

Um futuro obscuro

Desde a Era dos Descobrimentos, conforme conhecido na ciência o ano de 1500, as extinções das espécies se multiplicaram por 28, segundo o estudo “A perda global da diversidade funcional e filogenética aviária devido a extinções antropogênicas”, publicado na Science. Outras pesquisas afirmam, inclusive, que os humanos já multiplicaram a taxa natural por 100.

Por essa razão que a comunidade passou a argumentar que enfrentamos uma sexta extinção em massa, a Grande Aniquilação, a primeira causada por uma única espécie e em um curto tempo. Ou seja, nem mesmo o impacto mortal do meteorito que caiu na Península de Yucatán e deu início ao processo de extinção dos dinossauros foi tão rápido quanto a ação humana.

O aquecimento global e as espécies invasoras que chegam mais facilmente às vulneráveis devido ao aumento da mobilidade das pessoas e à perda de seu habitat são apenas um dos problemas enfrentados pelas aves. Se combinados esses fatores, o cenário se complica ainda mais.

Ferran Sayol, pesquisador do Centro de Pesquisa Ecológica e Aplicações Florestais (CREAF) e coautor do estudo da Science, observou que existe uma tendência em extinguir espécies que desempenham um papel único no ecossistema, como os dodôs. Eles são responsáveis por dispersarem grandes sementes de frutas na ilha de Maurício, uma função que poucos pássaros substituem.

Em alguns casos, esse tipo de extinção comprometeu todo um ecossistema. Nas ilhas havaianas, o fim de muitas espécies de aves frugívoras está facilitando o desmatamento, visto que, sem essas aves, não há dispersores de sementes. A pressão humana e os incêndios aumentam a probabilidade de um futuro desértico para o arquipélago.

A perda de necrófagos, como abutres, é um problema emergente que têm aumentado a quantidade de carcaças de animais deixadas no meio ambiente, podendo proliferar certas doenças em populações humanas. No sul da Ásia, na Índia e em Bangladesh, o declínio de abutres está levando à extinção de suas funções e despertando um medo real nos cientistas: que o número de funções ecológicas não executadas na natureza se multiplique.

Fonte: Megacurioso.

Foto: Getty Images.

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