“Estamos no ano 2024 depois de Cristo. Toda a Gália está ocupada pelo dióxido de carbono proveniente da produção de energia… Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses resiste ainda e sempre ao invasor.” As palavras acima, adaptadas da introdução que se repete em todas as aventuras de Asterix, o Gaulês, podem parecer um pouco exageradas.
Mas os gauleses (população celta que ocupava a França na época do Império Romano) de Saint-Joachim realmente estão implantando inovações de energia limpa para transformar sua cidade em uma aldeia livre da produção de dióxido de carbono —elemento resultante da queima de carvão, gás ou petróleo que contribui para as alterações climáticas no planeta.
Sua última ideia foi transformar seu cemitério em um jardim aéreo de energia solar, distribuindo eletricidade gratuitamente para seus habitantes. Às portas do oceano Atlântico, próxima a Nantes, e encravada no meio de um parque natural protegido, a cidadezinha tem cerca de 2.200 domicílios e 4.000 habitantes.
“Atualmente, temos 600 domicílios que aderiram ao programa”, contou à Folha o prefeito local, Raphaël Salaün. “Não há nenhuma despesa financeira para as famílias. Elas consumirão gratuitamente a energia elétrica produzida em cima do cemitério”. Para participar, basta a família se inscrever nesse projeto de “ecocidadania”, como diz o prefeito.
O cemitério, que tem 11.000 metros quadrados, vai ganhar 9.000 metros quadrados de painéis solares instalados em uma cobertura. Salaün diz que a ideia partiu de uma conversa entre os técnicos e as autoridades eleitas para sanar um antigo problema do local.
Na estação chuvosa, o cemitério ficava com partes alagadas, dificultando o acesso para algumas tumbas. Quando se pensou em fazer uma cobertura para proteger o local, logo veio a ideia de cobri-la com painéis solares, o que já era comum na cidade.
Salaün conta que o município trabalha na eficiência energética dos seus edifícios municipais há mais de dez anos. “O foco principal é promover, tanto quanto possível, a produção de energia (elétrica e térmica) através da energia aerovoltaica, de forma a permitir a construção de edifícios isentos de gás para aquecimento ou produção de água quente.”
“Para isso, muitas coberturas de nossas casas e prédios já foram equipadas com centrais aerovoltaicas e estas foram interligadas em rede para partilhar esta energia e multiplicar o potencial de poupança energética”, completa.
As obras no cemitério começarão este ano e serão concluídas em 2025. O custo estimado é de 2,5 milhões de euros para construir a cobertura e mais 2 milhões de euros para a central de energia.
Outra inovação de Saint-Joachim está à vista. Para dar mais um passo na gestão das suas energias, o município está trabalhando num projeto que permite, a partir da produção de energia fotovoltaica, transformá-la em hidrogênio durante o verão e transformá-la novamente em eletricidade para o inverno.
“Em última análise, Saint-Joachim pretende deixar de utilizar gás nos seus edifícios e ser eletricamente autossuficiente para todo o seu consumo, utilizando a rede local para circular a sua eletricidade”, revela Salaün.
A última pergunta da reportagem foi a respeito dos religiosos do local. Será que a igreja de Saint-Joachim poderia, talvez, ter considerado o projeto desrespeitoso com seus mortos e enterrados? Salaün foi direto ao assunto: “Não, nenhum feedback negativo do bispado”.
Fontes: Folha SP, Ciclo Vivo, Só Notícia Boa.
Imagem: Divulgação.