Conheça a vila flutuante que dá aula de sustentabilidade no continente africano

Ganvie, na parte sul da República do Benin, é a maior vila flutuante da África, com cerca de 45 mil moradores. Casas coloridas foram erguidas sobre palafitas de madeira no meio do Lago Nocué e perto da cidade portuária de Cotonu, ao redor de ilhas artificiais do século XVII.

A inspiração para a arquitetura única da vila vem da tribo Tofinu, que a construiu como um refúgio para se proteger do comércio de escravos. As estruturas são mantidas por um período de 15 a 20 anos e os moradores escolhem materiais que se decompõem no ecossistema aquático, sem causar impacto negativo à natureza.

As moradias foram construídas com métodos tradicionais e sobre estacas de madeira de ébano vermelho – mais resistente às condições do tempo. As paredes são feitas de bambu e folhas de palmeira, com telhado de palha – alguns deles substituídos por chapas de metal ondulado nos últimos tempos.

Nas mais de 3 mil palafitas estão: casas, escolas, restaurantes, bancos, hotéis, mercados e espaços religiosos. Os prédios públicos ficam sobre estacas de concreto e blocos de areia. Já as pequenas ilhas artificiais, construídas com solo do continente, ligam duas ou mais casas, servindo ainda como locais para ensinar crianças a andar, espaço público de lazer e outros recursos urbanos.

Os moradores da vila sempre tiveram respeito e cuidado pelo lago – abaixo das construções, é fácil observar diferentes tipos de peixe circulando. Esse comportamento influenciou o design de sua arquitetura e seus sistemas urbanos, que incentiva a relação direta entre as pessoas, o trabalho, o estilo de vida e a sustentabilidade.

A aquicultura herdada da tribo Tofinu é a base econômica da vila, com viveiros de peixes e recifes artificiais ao redor das estruturas flutuantes. Folhas de arvores de mangue no leito do lago são cercadas por varas de bambu para formar gaiolas. Quando os manguezais se decompõem, criando plâncton, a madeira potencializa o crescimento de algas – atraindo peixes para se alimentar e viver no ambiente. A cada duas semanas, à medida que os peixes são retirados, novas estruturas são construídos, aumentando a biodiversidade aquática da cidade.

A vila flutuante prosperou por mais de quatro séculos, ganhando o apelido de “Veneza da África”. Após ser reconhecida como patrimônio cultural mundial pela UNESCO em 1996, Ganvie tornou-se atração turística, recebendo 10 mil visitantes anualmente e aumentando os desafios de quem vive lá – a falta de sistemas adequados de esgoto, gerenciamento de resíduos e o aumento da pobreza, por conta da inflação gerada pelo turismo, são reflexos sentidos pela população local.

Fonte: Um Só Planeta, Casa Vogue.

Foto: Getty Images