Desastres climáticos por chuvas triplicam no Brasil em uma década

Um novo estudo divulgado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, UNESCO e Fundação Grupo Boticário, aponta um aumento de 3,2 vezes nos desastres climáticos causados por chuvas intensas no Brasil nesta década.

Entre 2020 e 2023, foram registrados 7.539 eventos do tipo, um salto significativo em comparação com os 2.335 ocorridos em toda a década de 1990.

O relatório, intitulado “Temporadas das águas: o desafio crescente das chuvas extremas”, faz parte da série Brasil em Transformação e alerta para a intensificação desse cenário devido às mudanças climáticas. Desde 1991, o Brasil contabiliza 26.767 eventos relacionados a chuvas extremas, com um crescimento acentuado a partir dos anos 2000. A média anual de registros a partir de 2020 foi duas vezes maior do que na década anterior (2010-2019) e 7,3 vezes superior à da década de 1990.

O estudo destaca que o regime pluviométrico brasileiro está em transformação. Projeções do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) indicam um aumento de 30% nas chuvas nas regiões Sul e Sudeste, enquanto Norte e Nordeste podem registrar uma redução de até 40% até 2100. Adicionalmente, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) alerta para uma possível redução de até 40% na disponibilidade de água no Brasil até 2040.

Os meses de verão concentraram 44% dos desastres relacionados a chuvas nas últimas três décadas, especialmente no Sudeste e Centro-Oeste. Contudo, no Norte e Nordeste, o outono também apresenta um aumento significativo de ocorrências, e no Sul, o outono registra o maior número de desastres.

Cidades e população afetadas

O número de municípios brasileiros impactados por desastres relacionados às chuvas cresceu drasticamente. Atualmente, 83% das cidades brasileiras já enfrentaram algum tipo de evento extremo associado a precipitações, um aumento em relação aos 27% nos anos 1990 e 68% nos anos 2000. Na década de 2000, 2.307 novos municípios foram afetados pela primeira vez, e na atual década, outros 328 municípios se somaram a essa lista.

Entre 1991 e 2023, cerca de 91,7 milhões de pessoas foram impactadas por desastres climáticos relacionados às chuvas, um aumento de 82 vezes em comparação com os anos 1990, quando aproximadamente 400 mil pessoas foram afetadas. Somente entre 2020 e 2023, esse número disparou para 31,8 milhões. Em 2024, o desastre no Rio Grande do Sul impactou 2,4 milhões de moradores, elevando a média anual de afetados para 6,8 milhões, quase o dobro da média da década anterior (3,8 milhões).

Os danos à saúde e ao bem-estar da população são alarmantes. Cerca de 90% dos indivíduos impactados sofreram danos adversos, incluindo traumas psicológicos. Aproximadamente 654 mil pessoas ficaram feridas ou doentes, e 8,7 milhões de pessoas foram desabrigadas ou desalojadas. Os desastres resultaram em 4.247 mortes, representando 86% de todas as fatalidades causadas por desastres climáticos no Brasil.

Prejuízos econômicos milionários

Os prejuízos econômicos causados por desastres climáticos relacionados a chuvas no Brasil totalizaram R$ 146,7 bilhões entre 1995 e 2023. Entre 2020 e 2023, as perdas somaram cerca de R$ 43 bilhões, um valor 40 vezes superior aos R$ 1,1 bilhão registrados na década de 1990. Com as perdas estimadas em R$ 88,9 bilhões no desastre do Rio Grande do Sul em 2024, o total de prejuízos nesta década (2020-2024) já atinge cerca de R$ 132 bilhões, o dobro dos R$ 68 bilhões da década anterior (2010-2019) e aproximadamente 120 vezes maior do que na década de 1990.

A maior parte dos prejuízos (83%) é de origem privada, com a agricultura (47%) e o comércio (30%) sendo os setores mais impactados. Os prejuízos públicos totalizaram R$ 24,4 bilhões, com transporte (52%), saneamento básico (28%) e ensino (8%) como os setores mais afetados.

Caminhos possíveis

Ronaldo Christofoletti, professor da Unifesp e membro da RECN, ressalta a urgência de “implementar medidas de prevenção e adaptação, visando proteger as comunidades vulneráveis e mitigar os impactos desses eventos extremos”.

Juliana Baladelli Ribeiro, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, destaca a importância de investimentos em políticas de prevenção e adaptação, como planejamento urbano adequado, adaptação dos centros urbanos e sistemas de alerta meteorológico eficazes. “Essas medidas têm o potencial de salvar vidas e reduzir significativamente os danos materiais”, diz.

Ela enfatiza a implementação de Soluções Baseadas na Natureza (SBN), como jardins de chuva, biovaletas e vias verdes, que ajudam a reduzir o escoamento superficial e a aumentar a infiltração da água no solo, complementando as ações convencionais de drenagem. Parques lineares também são citados como uma forma de permitir o transbordamento seguro de rios em casos de chuva intensa.

“As Soluções Baseadas na Natureza devem ser implementadas como estratégia sustentável nos centros urbanos, associadas a ações convencionais de forma complementar”, afirma.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Divulgação.

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