Um quarto da população mundial, que depende do degelo do Himalaia para seu abastecimento de água, enfrenta um risco muito grave de escassez neste ano devido à significativa diminuição das nevascas no topo dessa cordilheira, alertaram cientistas na segunda-feira passada(17).
Na região, o derretimento contribui com aproximadamente um quarto do volume total de 12 grandes bacias hidrográficas que nascem em altitudes elevadas, de acordo com o relatório.
“Trata-se de um sinal de alerta para os pesquisadores, os responsáveis políticos e as comunidades”, disse o autor do relatório, Sher Muhammad, do Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado das Montanhas (Icimod, na sigla em inglês), com sede no Nepal.
“O menor acúmulo de neve e a flutuação dos níveis desta aumentam consideravelmente o risco de escassez de água, especialmente neste ano”, ressaltou.
Segundo a organização, a neve e o gelo do Himalaia são uma fonte de água essencial para os 240 milhões de pessoas que vivem nas regiões montanhosas e para o 1,65 bilhão que habita bacias relacionadas a ele em vários países.
Esse futuro é assustador. Novas pesquisas sugerem que a área das geleiras do Himalaia encolheu 40% desde o máximo da Pequena Idade do Gelo, entre 400 e 700 anos atrás, e que nas últimas décadas o degelo acelerou mais rápido do que em outras partes montanhosas do mundo.
Dependendo do nível de aquecimento global, estudos projetam que pelo menos outro terço, e até dois terços, das geleiras da região podem desaparecer até o final do século.
Essas mudanças podem ter consequências de longo alcance para o risco de perigo e segurança alimentar e hídrica em uma região densamente povoada.
Baixa persistência da neve no solo
O relatório mediu o tempo que a neve permanece no solo. Neste ano, os níveis diminuíram em quase um quinto do normal em toda a região de Hindu Kush, na cordilheira que leva o mesmo nome no Paquistão e Afeganistão, e no Himalaia.
“Este ano, a persistência da neve [18,5% abaixo do normal] é a segunda mais baixa dos últimos 22 anos, logo após o recorde de 19%, estabelecido em 2018”, explicou Muhammad.
Além do Nepal, o Icimod inclui Afeganistão, Bangladesh, Butão, China, Índia, Mianmar e Paquistão.
De acordo com a entidade, que tem monitorado a neve na região há mais de 20 anos, 2024 é particularmente incomum.
A bacia do Ganges, que atravessa a Índia, apresenta a “persistência da neve mais baixa” já registrada pelo Icimod, 17% abaixo da média.
No Afeganistão, por sua vez, a bacia do rio Helmand também registrou seus segundos níveis mais baixos de persistência da neve, 32% abaixo do normal.
E a bacia do rio Indo caiu 23% em relação ao normal, enquanto a do Brahmaputra, que chega a Bangladesh, registrou uma persistência da neve de 15%, considerada “notavelmente inferior ao normal”.
Outras Repercussões
O aumento do degelo também pode desencadear deslizamentos de terra ou inundações de lagos glaciais, conhecidos como GLOFs, alertam os cientistas. Ou pode agravar o impacto de chuvas extremas, como o dilúvio que causou recentes inundações maciças no Paquistão.
Mudanças no degelo também podem afetar a segurança e a produtividade da indústria hidrelétrica em expansão da região. Países como o Nepal já obtêm a maior parte de sua eletricidade de hidrelétricas; outros, como a Índia, planejam aumentar a capacidade dessa fonte de energia de baixo carbono. Cerca de 650 projetos hidrelétricos estão planejados ou em andamento em locais de alta altitude em toda a região, muitos deles próximos a geleiras ou lagos glaciais.
Fontes: G1, Folha SP, Instituto Humanitas Unisinos.
Foto: Tenzin Nyida – 17.abr.2024/Xinhua.