Um dos conjuntos de dados mais amplos sobre locais e porte dos empreendimentos de mineração foi delineado recentemente por cientistas que se debruçaram sobre imagens de satélite para avaliar, com nível de detalhe inédito, a extensão dessas instalações.
O trabalho, de autoria dos pesquisadores Tim Werner, da Universidade de Melbourne, na Austrália, e Liang Tang, da Universidade de tecnologia de Chengdu, na China, mapeia em detalhes os limites de um total de 65.585 km² de locais de mineração em todo o mundo. Os resultados foram publicados na publicação científica Communications Earth & Environment, e os dados geográficos foram disponibilizados para que outros possam utilizá-los.
Foram identificados 74.548 “polígonos de mineração” no estudo. Destes, 79% estavam concentrados em apenas 13 países: Brasil, China, Estados Unidos, Rússia, Austrália, Indonésia, África do Sul, Ucrânia, Gana, Canadá, Índia, Cazaquistão e Chile. Pouco mais de um terço dos polígonos correspondia a áreas consideradas grandes, com mais de 30 km², e quase 55% representavam locais de mineração muito menores, com menos de 0,15 km².
Em uma descoberta preocupante, quase 10% do total de polígonos de mineração estão dentro de áreas supostamente protegidas, como parques nacionais e Patrimônios Mundiais da UNESCO. Embora a mineração em áreas protegidas não seja uma novidade, agora os dados trazem mais detalhes a nível global. São 6.232 km² de operações de mineração que violam limites de áreas protegidas.
O principal elemento minerado nos polígonos identificados no estudo foi o carvão, seguido por ouro, cobre, ferro, fosfato e sal.
Base para novos estudos
Segundo Werner, os dados apresentados pela pesquisa podem ser usados para uma série de avaliações sobre os impactos negativos da cadeia da mineração.
“As áreas protegidas são um ponto de vista, mas você pode olhar para a distribuição de diferentes espécies de aves, ou para o risco de inundação, por exemplo. Ou como uma mina será afetada pelas mudanças climáticas no futuro, pelo aumento do nível do mar e pelo calor extremo. Como eles estão situados em relação às populações indígenas? Há tantas questões importantes que podemos abordar”, disse ele à Mongabay, que abordou o estudo.
“O que eu espero é que as pessoas usem o estudo para entender, de forma contextualizada, as consequências das cadeias de suprimentos e do uso da mineração”, complementou.
Werner destaca também que o nível de detalhamento espacial incluído no estudo pode ser um avanço para pesquisadores, jornalistas e analistas que buscam determinar os impactos ecológicos e sociais da mineração em regiões específicas. Pois, além da mineração em si, a pesquisa traz, por exemplo, as áreas de recursos específicos que se relacionam com essa atividade, como depósitos de lixo, barragens de rejeitos e infraestrutura de processamento de minérios.
“Então você pode imaginar que, se uma pilha de lixo é uma fonte de poluição, você pode usar o conjunto de dados para entender com mais precisão a direção de onde os poluentes estão vindo”, exemplifica.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Arquivo/Agência Brasil.