Navio da 2ª Guerra ainda emite poluentes 80 anos após afundar na Bélgica

O navio V-1302 John Mahn, que afundou durante a Segunda Guerra Mundial na costa belga do Mar do Norte, ainda está emitindo poluentes 80 anos após seu naufrágio. Entre as substâncias nocivas estão metais pesados, arsênico, hidrocarbonetos que ocorrem em petróleo e até mesmo compostos explosivos.

A descoberta do antigo barco foi registrada nesta segunda-feira (18) na revista Frontiers in Marine Science. Parte do projeto North Sea Wrecks, pesquisadores investigaram como o naufrágio está impactando o microbioma e a geoquímica no fundo do mar.

“O público em geral muitas vezes está bastante interessado em naufrágios por causa de seu valor histórico, mas o impacto ambiental potencial desses eventos é muitas vezes esquecido”, observa, em comunicado, Josefien Van Landuyt, pesquisadora da Universidade de Ghent que lidera o projeto.

Para a especialista, embora destroços de navios possam funcionar como recifes artificiais e tenham um “tremendo valor humano para contar histórias”, não se deve esquecer que eles podem ser objetos perigosos que “foram involuntariamente introduzidos em um ambiente natural”.

Para estudar o naufrágio, a equipe coletou amostras de casco de aço e sedimentos no barco e em seus arredores. Os cientistas encontraram variadas concentrações de poluentes tóxicos, incluindo níquel e cobre, arsênico, compostos explosivos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (chamados de HPAs, que compõem carvão, petróleo e gasolina).

As maiores concentrações de metal estavam na amostra mais próxima de um bunker de carvão do navio, enquanto os HPAs eram provenientes das coletas mais próximas da embarcação. “Embora não vejamos esses antigos naufrágios e muitos de nós não saibamos onde estão, eles ainda podem estar poluindo nosso ecossistema marinho”, comenta Landuyt.

A expert explica que a idade avançada dos destroços pode aumentar o risco ambiental devido à corrosão, que está abrindo espaços antes fechados. Isso significa que o impacto ao meio ambiente ainda está evoluindo.

Mas o naufrágio já influenciou o microbioma ao seu redor: microrganismos degradadores de HPAs, como Rhodobacteraceae e Chromatiaceae, foram encontrados em amostras com maior teor de poluentes. Além disso, bactérias redutoras de sulfato, como Desulfobulbia, estavam no casco de aço.

Naufrágio do século 20

O V-1302 John Mahn era uma embarcação de pesca alemã requisitada durante a Segunda Guerra Mundial para ser usada como barco de patrulha. Em 1942, durante a operação naval Canal Dash, o navio foi atacado pela Força Aérea Real Britânica em frente à costa belga, onde rapidamente afundou.

O fundo do Mar do Norte está coberto por milhares de navios afundados e aeronaves, além de milhões de toneladas de munição. Estima-se que os naufrágios da Primeira e da Segunda guerras em todo o mundo somem entre 2,5 milhões e 20,4 milhões de toneladas de produtos petrolíferos.

Segundo Landuyt, as pessoas muitas vezes esquecem que abaixo da superfície do mar os humanos já causaram um grande impacto nos animais, microrganismos e plantas locais. “Nós investigamos apenas um navio, em uma profundidade, em um local. Para obter uma melhor visão geral do impacto total dos naufrágios em nosso Mar do Norte, um grande número de naufrágios em vários locais teria que ser amostrado”, ressalta.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Scimex .