Apenas sete países no Planeta inteiro cumprem uma norma internacional de qualidade do ar e atingiram os padrões da OMS (Organização Mundial da Saúde) para poluição do ar no ano passado, de acordo com dados de qualidade do ar compilados pela IQAir, uma empresa suíça.— e o Brasil não está entre eles —, informou nesta terça (19) a IQAir, uma organização suíça de qualidade do ar que coleta dados de mais de 30.000 estações de monitoramento em todo o mundo.
Com a poluição atmosférica piorando em muitos locais devido à recuperação da atividade econômica após a pandemia, associada ao impacto tóxico da fumaça de incêndios florestais, o novo relatório concluiu que o cenário não é nada bom.
Dos 134 países e regiões pesquisados, apenas sete – Austrália, Estônia, Finlândia, Granada, Islândia, Ilhas Maurício e Nova Zelândia – estão cumprindo o limite das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para pequenas partículas transportadas pelo ar expelidas por carros, caminhões e veículos industriais.
A grande maioria das nações não cumpre esta norma, que se refere às PM2,5, um tipo de partícula microscópica de fuligem com menos largura do que um fio de cabelo humano mas que, quando inalada, pode causar uma série de problemas de saúde e até mortes.
Entre os que não atingem o padrão recomendado, onde a grande maioria da população humana vive, os países com pior qualidade do ar foram principalmente os da Ásia e da África. O país mais poluído, o Paquistão, tem níveis de PM2,5 mais de 14 vezes superiores aos padrões da OMS, concluiu o relatório da IQAir, sendo a Índia, o Tajiquistão, Bangladesh e Burkina Faso os próximos países mais poluídos, descreve o Guardian.
Os pesquisadores apontaram o tráfego de veículos, emissões de carvão e industriais, especialmente de fornos de tijolos, como principais fontes da poluição da região. Agricultores queimando sazonalmente seus resíduos de colheita contribuem para o problema, assim como domicílios que queimam madeira e esterco para aquecimento e cozimento.
“A poluição do ar e as mudanças climáticas têm a mesma causa, que são os combustíveis fósseis”, disse Glory Dolphin Hammes, CEO da divisão norte-americana da IQAir.
A Organização Mundial da Saúde estabelece uma diretriz de que as pessoas não devem respirar mais do que 5 microgramas de material particulado fino por metro cúbico de ar, em média, ao longo de um ano. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA recentemente propôs endurecer o padrão de 12 para 9 microgramas por metro cúbico.
Embora o ar mundial esteja geralmente muito mais limpo do que era em grande parte do século passado, ainda existem locais onde os níveis de poluição são particularmente perigosos.
Mas mesmo nos países ricos e em rápido desenvolvimento, o progresso na redução da poluição atmosférica está ameaçado. O Canadá, há muito considerado como tendo um dos ar mais limpos do mundo ocidental, tornou-se o pior país em termos de PM2,5 no ano passado devido aos incêndios florestais recordes que devastaram o país, enviando partículas tóxicas até para os EUA.
Já na China, as melhorias na qualidade do ar foram comprometidas no ano passado pela recuperação da atividade econômica após a pandemia de Covid-19. O relatório constatou um aumento de 6,5% nos níveis de PM2,5 no gigante asiático.
E os desafios permanecem: 11 cidades na China relataram níveis de poluição do ar no ano passado que excederam as diretrizes da OMS em dez vezes ou mais. A pior foi Hotan, em Xinjiang.
“Infelizmente as coisas retrocederam”, disse Glory Dolphin Hammes, presidente-executivo da IQAir na América do Norte, em nota. “A ciência é bastante clara sobre os impactos da poluição atmosférica e, no entanto, estamos tão habituados a ter um nível de poluição demasiado elevado para ser saudável. Não estamos fazendo ajustes rápido o suficiente”, concluiu ele.
A poluição atmosférica mata cerca de 7 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, um problema mais fortemente sentido nos países em desenvolvimento que dependem de combustíveis particularmente sujos como carvão e gás para aquecimento, iluminação e cozinhar. Aidan Farrow, que é cientista sênior de qualidade do ar do Greenpeace Internacional, disse ao Guardian que “o conjunto de dados globais da IQAir fornece um lembrete importante das injustiças resultantes e da necessidade de implementar as muitas soluções que existem para este problema”.
Além de impusionar a transição energética para fontes mais limpas como a eólica, solar e hidrelétrica, especialistas apontam que outras medidas como a criação de áreas verdes nas cidades, restrições ao tráfego de veículos e regras mais rígidas para a emissão de poluentes por carros e indústrias são parte importante das soluções na trajetória para um ar mais limpo para a humanidade.
Riscos da exposição a curto prazo
Não é apenas a exposição crônica à poluição do ar que prejudica a saúde das pessoas.
Para pessoas vulneráveis como bebês e idosos, ou aqueles com comorbidades, respirar grandes quantidades de poluição por material particulado fino por apenas algumas horas ou dias às vezes pode ser mortal. Cerca de um milhão de mortes prematuras por ano podem ser atribuídas à exposição a curto prazo de PM2.5, de acordo com um estudo global recente publicado na The Lancet Planetary Health.
O problema é pior no leste e sul da Ásia, bem como na África Ocidental.
Sem considerar as exposições a curto prazo, “podemos estar subestimando a carga de mortalidade da poluição do ar”, disse Yuming Guo, professor da Universidade Monash em Melbourne, Austrália, e um dos autores do estudo.
Fontes: Folha SP, The New York Times, Um Só Planeta.
Foto: Michael Nagle – 7.jun.2023/Xinhua.