Nos 20 anos do tsunami do Oceano Índico de 2004, veja 3 lições que o desastre deixou

Completaram-se no dia 26, 20 anos do desastre que foi o tsunami que atingiu o Oceano Índico com uma paraça sem precedentes em 2004. O acontecimento deixou mais de 220 mil mortos em pelo menos 14 países diferentes e gerou ondas com mais de 30 metros de altura.

A união após o desastre criou o Sistema de Alerta de Tsunami do Oceano Índico coordenado pela Organização da ONU para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, após esforços de países do Sul Global, como Índia e Indonésia, bem como do Japão, da Austrália e dos Estados Unidos

Retratado no filme “O impossível”, de 2012, este tsunami gerou reflexões e mudanças nos sistemas de detecção e prevenção a desastres naturais. Em artigo no The Conversation, Ravindra Jayaratne e Tomoya Shibayama, respectivamente especialistas em engenharia costeira na University of East London e Waseda University, escreveram sobre as principais mudanças que aconteceram desde então.

Veja quais foram as lições aprendidas nesses 20 anos:
Evolução dos sistemas de alerta de tsunami

A ausência de um sistema abrangente de alertas contribuiu para a perda devastadora de vidas em 2004. Cerca de 35 pessoas morreram no Sri Lanka, por exemplo, sendo que o país só foi atingido duas horas após o terremoto.

Investimentos significativos foram feitos nos anos seguintes, incluindo o sistema de alerta de tsunami do Oceano Índico, que opera em 27 países. Este sistema foi capaz de emitir alertas em oito minutos quando outro terremoto atingiu a mesma parte da Indonésia, em 2012. Quando um terremoto atingiu Noto, no Japão, em janeiro de 2024, o sistema rapidamente emitiu alertas de tsunami e ordens de evacuação.

No entanto, ainda há margem para melhorias. “Esses sistemas não são usados globalmente, e não foram capazes de detectar os tsunamis que varreram as ilhas Tonga, em 2022, após a erupção de um vulcão submarino no Pacífico Sul. Neste caso, um melhor monitoramento do vulcão teria ajudado a detectar a proximidade das ondas gigantes”, escrevem Jayaratne e Shibayama.

Conscientização coletiva

Além de sistemas de alerta, ainda são necessários mais investimentos em campanhas de educação e conscientização sobre o que fazer em caso de proximidade de um tsunami, bem como simulações de evacuação e planos efetivos de resposta a desastres, escrevem os especialistas.

Esse tipo de planejamento se mostrou eficaz na vila de Jike, no Japão, que foi atingida pelo tsunami de Noto, em janeiro de 2024. “Tendo aprendido com um grande tsunami em 2011 (aquele que atingiu a usina nuclear de Fukushima), engenheiros construíram novas rotas de evacuação para abrigos de tsunami. Embora a vila tenha sido destruída, os moradores evacuaram por uma escada íngreme e nenhuma vítima foi relatada em Jike”, explicam.

A importância das estruturas de defesa

Nos 20 anos desde o tsunami, os países em risco investiram em engenharia “dura”, incluindo paredões, quebra-mares offshore e diques de inundação. Mas, embora essas estruturas ofereçam uma medida de proteção, sua eficácia é limitada.

“No Japão, a ideia de que estruturas desse tipo podem proteger contra a perda de vidas foi descartada, com a visão de que tsunamis em larga escala podem sobrecarregar até mesmo as defesas mais robustas”, apontam os especialistas. Eles citam como exemplo um caso de 2011, em que mesmo um quebra-mar de escombros seguido por um muro de cinco metros de altura não conseguiu proteger a cidade de Watari. “O tsunami cobriu metade da cidade e centenas de pessoas morreram”, lembram.

Assim, ainda é necessário ter mais pesquisas sobre projetos de engenharia resilientes que podem proteger as pessoas no caso de tsunamis. Principalmente pensando em lugares que têm infraestruturas críticas, como usinas nucleares no caso do Japão, cuja usina de Fukushima foi atingida em 2011.

Enquanto não se chega à resposta perfeita nesse sentido, alguns cuidados podem ser seguidos no planejamento urbano em áreas de risco. Por exemplo, somente construir essas infraestruturas críticas e povoar densamente regiões de terreno bastante elevado, que sofreriam menos no caso de tsunamis.

Perigos das mudanças climáticas

Aprender com os desastres do passado se torna ainda mais importante considerando as mudanças climáticas, dizem os engenheiros costeiros. Afinal, uma das consequências mais visíveis delas são a elevação do nível dos oceanos – que não tornam os tsunamis mais frequentes, mas podem potencializar seus efeitos quando acontecerem.

“Embora desafios significativos e urgentes permaneçam, eles não são intransponíveis. Ao continuar aprendendo mais sobre tsunamis e a nos preparar para o pior, podemos minimizar seu impacto e proteger milhões de vidas”, finalizam os autores.

Fontes: ONU News,Um Só Planeta.

Foto: ONU/Evan Schneider.