A Groenlândia é uma enorme região do Ártico, e a maior ilha do planeta, normalmente congelada. Mas, com as temperaturas no norte terrestre subindo mais rapidamente do que em outras regiões, as suas enormes camadas de gelo estão se derretendo.
Um estudo recente mostrou que as temperaturas na Groenlândia são as mais elevadas nos últimos mil anos. O derretimento do Ártico resultante foi responsável por 40% da elevação dos oceanos em 2019.
A Agência Espacial Europeia (ESA) afirmou, em abril de 2023, que a perda de gelo polar na Groenlândia e na Antártida quintuplicou desde a década de 1990 e é responsável por um quarto do aumento do nível dos mares. Segundo o relatório, a ilha da Groenlândia e a Antártida perderam 7,56 trilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2020, tendo o degelo atingido o pico em 2019 com a perda de 612 bilhões de toneladas de gelo, em parte impulsionada por uma onda de calor no Ártico. Desde 1992 o degelo polar causou um aumento de 2,1 centímetros no nível médio global dos mares.
Cientistas temem que a Geleira Petermann esteja se partindo. Localizada na beira do oceano, o recuo dela poderá expor enorme camadas de gelo às águas marinhas aquecidas. Pesquisadores disseram que, como resultado, a elevação projetada do nível do mar poderá dobrar.
O rápido recuo das maiores camadas de gelo do planeta é ameaçador para ilhas e áreas costeiras de baixa altitude que são vulneráveis a uma elevação do nível do mar. Já na Groenlândia, os povos indígenas inuítes estão literalmente vivendo sobre um gelo cada vez mais fino, o que significa perda de habitat para animais selvagens como focas, ursos e morsas.
No polo sul, a Antártida, a área de gelo marítimo estava aumentando em cerca de 1% por década desde os anos 1970. Mas, no ano passado, foi a menor já registrada.
Há temores de que a Geleira Thwaites, que tem um tamanho equivalente à área do Paraná e é o maior pedaço de gelo do planeta, esteja começando a rachar por causa do aquecimento das águas da Antártida. Mas cientistas ainda tentam entender o que está acontecendo na região.
Mais rápido no Ártico
Entre 1979 e 2021, o Ártico se aqueceu quatro vezes mais do que o resto do planeta, disseram cientistas. Assim, não surpreende que dois terços do derretimento global de gelo estejam ocorrendo na Groenlândia.
Acredita-se que o Ártico esteja se aquecendo mais rapidamente do que a Antártida porque há muito mais água líquida circundante na região durante o verão e o outono, quando o gelo marinho recua. Essa água absorve luz solar – ao contrário do gelo marinho, que a reflete – e isso resulta em aquecimento do oceano.
Como o Ártico é um oceano e consiste sobretudo numa camada de gelo marinho, ele também é mais afetado pelo aumento das temperaturas dos oceanos do que a Antártida, que é sobretudo terra coberta de gelo.
Além disso, as correntes marinhas no Oceano Antártico tendem a levar para cima águas frias profundas que mantêm a região antártica relativamente resfriada. Mesmo assim, o derretimento de gelo na Antártida é 65% superior ao registrado nos anos 1990.
O derretimento é tão dramático que a maior parte da camada de gelo da Groenlândia deverá derreter se o aquecimento do planeta chegar a 1,6°C acima da era pré-industrialização, há 250 anos (atualmente o aquecimento está em 1,2°C).
Se a perda de gelo polar continuar no atual ritmo, o nível médio global dos mares poderá subir entre 14,8 a 27,2 centímetros até o fim do século, de acordo com as previsões do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (IPCC).
A elevação do nível do mar, um dos efeitos do aquecimento global e possível fonte de desastres ambientais e humanitários, é inevitável para os próximos séculos ou milênios, advertiu recentemente o IPCC. “Nos próximos 2 mil anos, o nível médio do mar subirá entre 2 e 3 metros se o aquecimento global para limitado a 1,5 grau, e atingirá entre 2 e 6 metros se não ultrapassar 2 graus”, destacou a organização.
Geleiras de montanhas também estão desaparecendo
Geleiras polares não são as únicas vítimas do aquecimento global causado sobretudo pela queima de combustíveis fósseis. As geleiras de montanhas, cerca de 200 mil em todo o mundo, estão derretendo muito mais rapidamente do que conseguem acumular gelo. Apesar de cobrirem apenas menos de 0,5% da superfície terrestre, essas “torres de gelo” proveem água para cerca de um quarto da população do planeta.
As geleiras também fornecem água para rios que irrigam as plantações de que centenas de milhões de pessoas na Ásia, na América do Sul e na Europa dependem para sobreviver. Sem elas, milhões passarão sede e fome.
Cientistas dizem que o recuo dessas geleiras colocou quase 2 bilhões de pessoas em risco de escassez de água. Cidades como Santiago do Chile viram boa parte de seu fornecimento de água potável secar com o recuo de geleiras dos Andes.
Na Europa, o gelo nos Alpes, também importantes para o fornecimento de água, recuou pela metade desde 1900. Se não houver maiores esforços contra o aquecimento global, as geleiras irão desaparecer completamente até o fim deste século.
As geleiras com rocha e sujeira tendem a derreter mais rapidamente do que o gelo limpo porque a matéria escura absorve mais energia solar.
Essas pedras e rochas podem se aquecer até os 40°C em altitudes elevadas, dizem pesquisadores. Quando o gelo derrete, em consequência disso, um derretimento glacial mais amplo pode ser o resultado.
Mas um problema emergente na camada de gelo do oeste da Groenlândia é a chegada inexplicável de uma alga roxa que está escurecendo a superfície do gelo e absorvendo mais luz solar.
Essa alga se torna roxa para se proteger da radiação ultravioleta, mas depois fica preta como fuligem, o que intensifica o aquecimento.
Fonte: DW.
Foto: Kerem Yucel/AFP/Getty Images.