Em Jacareacanga, município situado no coração da Amazônia, no sudoeste do Pará, parte dos salários é paga em ouro. A febre do garimpo emprega a maioria da população local: além dos garimpeiros, essa atividade faz proliferar a demanda por barqueiros, mecânicos e cozinheiros, assim como enseja aumento da prostituição.
Graças à mineração, Jacareacanga, com uma população, que não chega a 7.000 habitantes, tem um PIB per capita similar ao de algumas das cidades mais ricas do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo. O movimento é quase incessante no pequeno porto do município de Jacareacanga: a aparência improvisada e desmantelada desse fervedouro não parece corresponder às riquezas que transitam nos pequenos barcos que atravessam o rio Tapajós em busca de ouro. Como resultado, uma mancha escura, que começa em Jacareacanga, tinge as águas desse que é um dos principais afluentes do rio Amazonas, estendendo-se por 500 quilômetros Tapajós abaixo, conforme mostram as imagens de satélite incluídas em estudos da plataforma informativa InfoAmazonia. É o rastro da destruição, um fluido composto por mercúrio e sedimentos provenientes da mineração, que ameaça a flora e a fauna fluvial, assim como o povo indígena Munduruku, que vive às margens do rio.
O mercúrio é o metal não radiativo mais perigoso para o ser humano, segundo neurologistas. Uma parte dessa substância está presente na natureza e é liberada ao remexer o solo. Mas, no caso dos garimpos, é usada de forma descontrolada, em enormes quantidades, para separar o ouro do lodo, de acordo com o Observatório do Mercúrio no Brasil.
O incentivo ao garimpo ilegal promovido pelo governo brasileiro nos últimos dois anos provocou uma enxurrada de mercúrio nas águas amazônicas. Um volume estimado em 100 toneladas do metal neurotóxico foi utilizado em 2019 e 2020 para extrair ouro ilegalmente da região, de acordo com estimativas feitas com base em um levantamento oficial.
Fontes: El País, Terras Indígenas, Headtopics.