A superfície da Terra, onde todos vivemos, é qualquer coisa menos tranquila — com as movimentações tectônicas, surgem montanhas, fossas oceânicas, continentes, vulcões e mais. Tais movimentos podem, indicam pesquisas, ser responsáveis pela vida no planeta. O problema é que ninguém sabe quando a dinâmica tectônica começou para podermos estudar isso mais a fundo.
As placas tectônicas, com subducção (mergulho da crosta no manto, quando uma placa desce para baixo da outra) e outras atividades, levam grandes partes da crosta terrestre até o manto, a camada intermediária da Terra, puxando o carbono da superfície e estabilizando o clima. Minerais e moléculas que podem alimentar a vida também são, dessa forma, jogados à superfície.
Algumas teorias creem que a movimentação tectônica tenha surgido há 700 milhões de anos, bem recentemente, quando vida multicelular simples já existia. Outros pensam que organismos unicelulares já reinavam por aqui quando a crosta se quebrou. Algumas pesquisas recentes, no entanto, têm jogado a data bem para trás, nos primeiros bilhões de anos do planeta.
O início da vida tectônica da Terra
A Terra é, no sistema solar, o único planeta com placas tectônicas — os outros possuem uma única placa rígida, chamada “tampa estagnante” ou “tampa única” na geologia.
Como a dinâmica faz pedaços enormes da superfície mergulharem no manto móvel e mais quente, a crosta oceânica é destruída nas zonas de subducção. O pedaço mais antigo de crosta oceânica está no Mediterrâneo, com apenas 340 milhões de anos.
Já a crosta continental é mais leve e flutua acima da destruição da subducção, mas pouco da crosta antiga ainda sobrevive, com muita erosão e deformação ao longo dos éons.
Menos de 7% das rochas da superfície possuem mais de 2,5 bilhões de anos. Indo até 4,03 bi de anos, no Éon Hadeano, e já não conseguimos encontrar mais nenhuma rocha. Nada sobreviveu do primeiro meio bilhão de anos da Terra.
A única evidência sobrevivente da movimentação tectônica são rochas formadas só em zonas de subducção, que possuem cerca de 700 milhões de anos. Pedaços de crosta oceânica, jogadas na crosta continental no início da subducção, possuem 900 milhões de anos.
Há alguns indicativos de mudança: há cerca de 3,8 bilhões de anos, uma mudança na química das rochas mostra que uma crosta estável e antiga deu lugar à crosta mais moderna e de vida curta.
Não há consenso, mas a data estimada para início das movimentações tectônicas fica no Éon Arqueano (4,03 a 2,5 bi de anos atrás). As placas já ajudaram a vida a se recuperar de extinções: quando o dióxido de carbono extinguiu 90% das espécies do mundo no final do período Permiano, a quebra e sedimentação de minerais com carbono os levou ao oceano.
Lá, organismos marinhos transformaram o carbono em recifes e conchas, que, por sua vez, viraram calcário, este levado ao interior do planeta pela subducção, livrando a Terra do carbono e permitindo a volta de formas de vida. Se os oceanos estão tão ligados às placas tectônicas, será que a presença de água está intrinsecamente ligada ao surgimento delas?
Oceanos, planetas e as placas tectônicas
Zirconitas são os minerais sobreviventes dos primeiros 500 milhões de anos da Terra, já que sobrevivem às temperaturas e pressões do manto. Elas são menores do que um grão de areia e todas as já encontradas no mundo cabem em um dedal, mas provam que havia um oceano no planeta há 4,4 bi de anos, apenas 200 mi de anos depois do planeta se formar, muito antes da vida surgir.
Embora alguns pesquisadores acreditem que isso signifique que a crosta estava se reciclando na época, já que a água enfraquece a crosta e gera o potencial de quebra e subducção, outros são mais céticos.
Também no Hadeano, um evento foi igualmente importante: a colisão de um planeta do tamanho de Marte quebrou e derreteu a Terra primordial, apenas 100 milhões de anos depois dela ter se formado, moldando-a como a conhecemos e gerando nosso satélite natural, a Lua.
As plumas de material quente que geraram o manto podem ter vindo dessa colisão, também possivelmente criando a primeira subducção, cerca de 200 milhões de anos depois.
E a vida em outros planetas?
Podemos não saber como as placas tectônicas surgiram, mas sua existência parece estar intrinsecamente ligada à vida, então procurar seres em outros planetas pode ser feito com a investigação de sua atividade tectônica.
O problema é que, em exoplanetas distantes, ainda não conseguimos investigar a existência das dinâmicas tectônicas como na Terra, mas dados termais e modelagem computacional nos diz algumas coisas sobre esses planetas.
No LHS 3844, por exemplo, exoplaneta a 49 anos-luz da Terra, há manto ativo e crosta se movimentando. Isso provavelmente é gerado pela combinação da incrível temperatura de 768 ºC em um de seus lados, muito próximo de seu sol, em conjunto com o outro lado, na escuridão da noite, a -273 ºC.
Mesmo que essa dinâmica tectônica seja absolutamente diferente da terrestre, é uma mostra da diversidade geológica vista no universo — e que poderá ser investigada e estudada em busca de vida com a ajuda de ferramentas como o Telescópio Espacial James Webb. Seguimos na busca — e na investigação do surgimento das placas na Terra.
Fontes: Canaltech,Journal of the Geological Society, Geophysical Research Letters, Nature Geoscience, Science.
Imagem: Pixabay.
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