Poluição do ar pode matar 1.200 crianças e jovens por ano na União Europeia — e famílias reagem na Justiça

Um novo relatório divulgado ontem (24) pela Agência Europeia do Ambiente deixa claro que crianças e adolescentes sofrem ainda mais os impactos da poluição atmosférica do que os adultos. O dado alerta que o ar contaminado pode levar a 1200 mortes por ano da geração com menos de 18 anos em toda União Europeia.

Outra conclusão da pesquisa também preocupa: em 2021, todos os 32 estados-membros estavam convivendo com poluição que ultrapassa os limites máximos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, Alemanha, França, Itália e Polônia, continuavam a registrar indíces perigosos de NO2, acima dos patamares permitidos.

Os efeitos da poluição do ar começam antes do nascimento, com a exposição materna à poluição do ar “ligada a nascimentos prematuros e a bebés com peso abaixo da média”.

Após o nascimento, a poluição ambiental aumenta o risco de vários problemas de saúde, incluindo a asma – que afeta 9% das crianças e adolescentes na Europa – ou insuficiência respiratória e infecções, de acordo com o relatório.

O estudo abrange cerca de 30 países europeus, mas não inclui alguns como é o caso do Reino Unido ou a Ucrânia, o que sugere que o quadro continental é, na realidade, pior.

Em comunicado, a advogada especializada em poluição do ar da ClientEarth, Emma Bud, destacou: “O fardo que isso coloca sobre as pessoas em toda a Europa, e especialmente sobre as crianças, é inaceitável. O status quo não deve ser nossos filhos viverem e brincarem no ar que sabemos que os prejudica.” Ela lembrou que os danos infligidos pelo ar poluído permanecem com as crianças pelo resto da vida.

Segundo especialistas, em relação aos adultos, as crianças respiram mais rápido e mais vezes pela boca; são fisicamente mais ativas e frequentemente estão mais ofegantes; e respiram numa altura menor, mais próxima de poluentes no chão e do nível do escapamento dos veículos. Isso tudo faz com que elas absorvam mais ar por quilograma de peso corporal.

Frente aos dados alarmantes, famílias estão pedindo ação dos governos e tomando medidas legais para enfrentar o problema.

É o caso de Chiara, uma mãe com um filho asmático entrevistada pela ClientEarth, que está processando as autoridades italianas pela poluição. “Como se precisássemos de mais provas, esses números são um novo lembrete para todos aqueles que têm o poder de impor padrões de poluição do ar de que o dano está sendo feito agora, e nossos filhos estão na linha de frente. Este relatório apenas aumenta a minha determinação de ver este caso nos tribunais, para o meu filho e para qualquer outra pessoa que esteja sendo afetada pelo ar tóxico”, afirmou ela.

Uma outra queixa legal surgiu na Alemanha, encabeçada pela mãe Constanze, que entrou com uma ação em nome dos seus dois filhos. “Tendo em vista os dados assustadores sobre quantas crianças e jovens realmente morrem prematuramente como resultado da má qualidade do ar, é ainda mais urgente que o Tribunal Constitucional Federal na Alemanha decida incluir claramente o direito ao ar saudável sob os direitos fundamentais do povo alemão”, destacou.

Em relação aos processos na justiça, Emma Bud ressaltou: “Os casos estão sendo julgados nos tribunais, mas o dever dos governos já existe. Eles precisam agir com a ciência disponível e tomar medidas para erradicar as mortes por poluição do ar”.

Fonte: Um Só Planeta, Euronews.

Foto: Warangkana Charuyodhin/ GettyImages.