A mineração de metais para baterias tem um custo alto, e não apenas financeiro. O impacto ambiental desse processo é enorme, exigindo grandes quantidades de energia, água e resultando em uma pegada de carbono preocupante. Mas e se houvesse um caminho mais eficiente e sustentável? Um estudo publicado na Nature Communications revelou que reciclar baterias de íons de lítio pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 81% em comparação com a mineração tradicional.
A reciclagem de baterias de íons de lítio para recuperar seus metais críticos tem impactos ambientais significativamente menores do que a mineração de metais virgens. De acordo com essa pesquisa, o reaproveitamento de lítio, níquel, cobalto, cobre, manganês e alumínio reduz drasticamente a pegada de carbono da indústria e minimiza a dependência de cadeias de suprimento globais vulneráveis.
O estudo, cuja maioria dos dados veio da Redwood Materials, em Nevada – a maior instalação de reciclagem de baterias de íons de lítio em escala industrial da América do Norte –, aponta que a reciclagem das baterias emite menos da metade dos gases de efeito estufa gerados na extração e refino de novos metais e consome apenas um quarto da água e da energia necessárias para esses processos.
Os benefícios são ainda mais expressivos no caso da reciclagem de sucata industrial, que representou cerca de 90% da matéria-prima analisada pelos cientistas. Nessa modalidade, as emissões de carbono caíram para 19% do total gerado pela mineração e processamento, enquanto o consumo de água e energia foi reduzido a 12% e 11%, respectivamente.
Reciclagem de baterias: uma solução para reduzir impactos ambientais
A pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Stanford trouxe números impressionantes. Além da redução drástica de emissões, a reciclagem também consome até 89% menos energia e 88% menos água. Isso porque a recuperação de materiais como lítio, níquel, cobalto e cobre a partir de baterias descartadas exige muito menos recursos do que extraí-los do solo.
O estudo destaca que a reciclagem de baterias pode ser uma peça-chave na luta contra a crise climática. Enquanto a mineração tradicional consome grandes volumes de energia e emite quantidades alarmantes de poluentes, a reciclagem consegue mitigar esses impactos.
Em números, os benefícios são evidentes:
– 58% a 81% menos emissões de gases de efeito estufa
– 72% a 88% menos consumo de água
– 77% a 89% menos uso de energia
Reciclar baterias não só reduz a demanda por mineração, mas também otimiza os recursos naturais. Isso significa menos destruição ambiental e menos dependência de combustíveis fósseis para extrair e refinar metais preciosos.
Setor de mineração e longas cadeias de transporte
Quando se compara as vantagens de reciclar no lugar de extrair e refinar minérios, o transporte é um fator crucial. Na mineração e processamento de cobalto, por exemplo, 80% do suprimento global é extraído na República Democrática do Congo, o que significa que precisa viajar por estrada, ferrovia e mar até chegar a China para refino. No caso do lítio, a maior parte do suprimento global é extraído na Austrália e no Chile, e grande parte também vai para a China.
“Determinamos que a distância total de transporte para mineração convencional e refino apenas dos metais ativos em uma bateria é em média de cerca de 57.000 quilômetros. Isso é como dar uma volta ao mundo uma vez e meia”, apontou o pesquisador Michael Machala.
Recuperação de metais críticos: um passo rumo à sustentabilidade
A coleta eficiente de baterias “mortas”, o desenvolvimento de métodos de recuperação mais eficazes e a ampliação da infraestrutura de reciclagem são passos fundamentais.
Os materiais extraídos das baterias recicladas, como lítio, níquel e cobalto, são componentes essenciais para novas baterias. Em um mundo onde a demanda por eletrificação cresce rapidamente, reaproveitar esses metais reduz a dependência de novas fontes de mineração e fortalece a cadeia de suprimentos.
O estudo também destaca que a reciclagem pode reduzir a vulnerabilidade do mercado global de metais críticos. Atualmente, a mineração de lítio e cobalto está concentrada em poucos países, tornando o fornecimento instável e suscetível a flutuações de mercado e tensões geopolíticas. Com a reciclagem, essa dependência pode diminuir, trazendo maior segurança para o setor.
No entanto, os benefícios da reciclagem não são absolutos. O estudo aponta que o impacto ambiental desse processo depende da localização das fábricas e da matriz energética utilizada. Regiões que dependem fortemente do carvão, por exemplo, podem não ver uma redução tão significativa nas emissões. Por outro lado, locais que utilizam energia renovável potencializam ainda mais os benefícios climáticos da reciclagem.
O futuro da reciclagem de baterias e seu impacto na indústria
A transição para um modelo mais sustentável de reciclagem exige inovação e investimento. À medida que a tecnologia avança, espera-se que os processos de recuperação de metais se tornem ainda mais eficientes, reduzindo custos e impactos ambientais.
Para que a reciclagem se torne um padrão global, desafios ainda precisam ser superados. A coleta eficiente de baterias “mortas”, o desenvolvimento de métodos de recuperação mais eficazes e a ampliação da infraestrutura de reciclagem são passos fundamentais.
De acordo com Interesting Engineering, o estudo de Stanford não deixa dúvidas: reciclar baterias é muito mais vantajoso do que continuar extraindo minerais virgens. Além de reduzir impactos ambientais, essa abordagem ajuda a garantir um suprimento mais estável de metais críticos e fortalece a economia circular.
Como disse o professor William Tarpeh, um dos autores do estudo: “Os veículos elétricos já são bons para o meio ambiente, e agora estamos descobrindo maneiras de torná-los ainda melhores. Podemos projetar o futuro da reciclagem de baterias para otimizar seus benefícios ambientais.”
Fontes: CPG – Click Petróleo e Gás, Um Só Planeta.
Foto: Divulgação.