Recifes sob estresse

Os recifes de coral são ambientes extremamente diversos, abrigando cerca de 25% de toda a biodiversidade marinha. Suas estruturas rígidas são constituídas por organismos marinhos de esqueleto calcário, os corais. Mas há outros tipos de organismos que vivem nos recifes, como algas, moluscos e peixes.

Além de sua importância biológica, recifes também são valiosos do ponto de vista socioeconômico. A elevada biodiversidade produz bastante pescado, de modo que, hoje, cerca de 10% da proteína animal consumida no planeta provêm de recifes de coral. Outro fator a considerar é que a beleza natural estimula o turismo, e, consequentemente, o estabelecimento de operadoras de mergulho, pousadas, restaurantes…

Há também a indústria da biotecnologia, que se beneficia da extração e posterior síntese de compostos farmacêuticos a partir de tecidos de corais. E não se pode esquecer da proteção costeira: a barreira formada pelos recifes atenua a intensidade das ondas, de modo a impedir que a costa sofra erosão e coloque edificações em risco. Juntas, essas atividades geram renda e emprego, beneficiando, aproximadamente, 500 milhões de pessoas ao redor do planeta.

Apesar da sua importância, atualmente os recifes de coral se encontram em franco declínio. A razão? Os impactos de múltiplos estressores. O mais grave é o aquecimento global, porque o estresse térmico provoca um fenômeno chamado branqueamento, no qual os corais perdem as microalgas parceiras que vivem em seus tecidos e lhes fornecem alimento. Sem as microalgas, os corais perdem a pigmentação natural e seus esqueletos ficam visíveis por baixo do tecido transparente, formando amplas paisagens esbranquiçadas e, eventualmente, promovendo elevada mortalidade desses seres vivos.

Outra consequência das mudanças climáticas é a acidificação do oceano: o aumento da concentração de dióxido de carbono na água do mar gera uma reação química que impede os corais de calcificar e produzir seus esqueletos. Resultado: os corais se quebram com facilidade, enfrentando uma forma de “osteoporose coralínea”.

Aquecimento global e acidificação são estressores de escala global, ou seja, consequências de práticas realizadas no planeta como um todo. No entanto, os recifes também enfrentam estressores de escala local ou regional, resultantes de práticas realizadas em determinada parte do planeta, como a sobrepesca. Embora seja positiva quando bem gerenciada, a pesca se torna um problema quando não há controle. A remoção excessiva de espécies que contribuem para a saúde dos recifes – como os budiões, que controlam o crescimento de algas – gera um declínio do ecossistema como um todo.

Similarmente, o turismo, quando mal gerenciado, promove perda de corais com o pisoteio, a ancoragem e outras práticas de destruição física. Outro importante impacto de escala local é a poluição – seja de origem orgânica ou inorgânica, suas consequências são severas e incluem uma infinidade de efeitos ecofisiológicos nos organismos que habitam os recifes. A introdução de espécies exóticas invasoras e a dragagem em zonas recifais também compõem a longa lista de impactos de escala local.

Por conta do efeito combinado desses múltiplos estressores, nos últimos 40 anos, mais de 50% da comunidade de corais do planeta se perdeu. Projeções demonstram que, com a continuidade dessas práticas destrutivas, esse número deve chegar a 95% até o ano de 2050.

Ao contrário do que possa parecer, a perda não ocorre somente para corais. Com a sua morte, as inúmeras espécies de peixes e invertebrados que vivem no recife perdem o seu local de abrigo, alimentação e reprodução, de modo a também sofrerem declínios populacionais severos. Portanto, cerca de 25% da biodiversidade marinha se encontra em risco. A maneira de reverter isso é informar as pessoas e os tomadores de decisões de todo o planeta, para que ajam no combate ao aquecimento global, sobrepesca, poluição e outros impactos em ecossistemas marinhos.

Fonte: Ciência Hoje.

Foto Adobe Stock.