Desde a independência em relação à União Soviética, em 1991, país luta contra corrupção, evasão de capital e falta de reformas. Progressos econômicos recentes estão agora ameaçados pela guerra declarada pela Rússia.
A Ucrânia é um dos maiores países da Europa, com 600 mil quilômetros quadrados de superfície e 40 milhões de habitantes. Após declarar independência em relação à extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991, ela tem oscilado praticamente o tempo todo entre crises financeiras e econômicas.
Durante a crise financeira global de 2008-2009, o país só foi salvo da falência estatal graças aos vários bilhões de dólares em resgate financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
As reviravoltas econômicas em seguida à anexação da Península da Crimeia, em 2014, e à criação das autoproclamadas “repúblicas populares” de Donetsk e Lugansk, no leste, onde domina o idioma russo, colocou o país novamente à beira do colapso econômico. Mais uma vez o FMI acudiu, oferecendo novos créditos em troca de vigorosas reformas econômicas. A estratégia funcionou, pelo menos até a Rússia invadir a nação, em 24 de fevereiro de 2022.
Trigo e matérias-primas
As reformas estruturais impostas pelo FMI nos últimos cinco anos lograram reduzir a dívida soberana ucraniana, de mais de 100% de seu PIB para pouco mais de 50% em 2020. A renda per capita anual média chegou a US$ 3.653 (para comparar: a da Rússia é de US$ 10.037, a da Alemanha, US$ 45.733).
Em seguida a uma breve recessão devido à pandemia de covid-19, no ano seguinte o país já apresentava crescimento econômico de 3,2%. O setor mais importante de sua economia é a agricultura: apelidada “cesta de pão da Europa”, a Ucrânia é a maior exportadora mundial de trigo, com amplas extensões de solo fértil, perfazendo um terço do terreno arável do continente.
A segunda área mais importante é a de matérias-primas minerais. Segundo o grupo de comércio externo Germany Trade & Invest (GTAI), contudo, a saúde do setor depende fortemente do desempenho, por exemplo, do aço no mercado global. Um relatório publicado pelo grupo antes mesmo da guerra, no segundo semestre de 2021, já revelava enorme carência de investimentos estrangeiros no setor das matérias-primas.
Nos últimos anos, cresceu a importância das indústrias leve e de fornecimento, graças aos salários relativamente baixos do país e a sua proximidade geográfica dos mercados da União Europeia. Montadoras europeias, em especial, fizeram alguns investimentos na Ucrânia, nos últimos anos, embora o GTAI notasse que a integração dos fabricantes nacionais na cadeia de suprimento global ainda é incipiente.
Entretanto, já pouco antes da guerra deflagrada pela Rússia, grandes montadoras tiveram que restringir ou mesmo suspender sua produção em outros países, devido à falta de produtos preliminares fabricados na Ucrânia, como, por exemplo, chicotes de cabos elétricos.
Porto de Odessa, consumo interno e UE
Um polo essencial da economia ucraniana é o Porto Marinho Comercial de Odessa, um dos maiores portos de águas profundas do litoral do Mar Negro, com capacidade anual para 40 milhões de toneladas métricas de carga sólida e 25 milhões de toneladas de carga líquida.
A companhia portuária alemã Hamburger Hafen und Logistik (HHLA) opera um terminal de contêineres em Odessa, que tem ampliado continuamente nos últimos anos. Em 2021, ela expediu de lá o equivalente a 300 mil contêineres-padrão.
“Odessa é o maior porto ucraniano. Tornou-se ainda mais importante para o abastecimento marítimo desde que ficou difícil navegar pela Crimeia e pelo Mar de Azov”, comentou à DW o diretor de negócios estrangeiros do HHLA. Por causa da guerra, contudo, o porto suspendeu seu funcionamento.
O consumo doméstico privado se tornou o principal pilar do crescimento econômico da Ucrânia. A elevação dos salários locais e as remessas bancárias de ucranianos residentes no exterior têm impulsionado os preços de varejo, nos últimos anos.
Além disso, o setor de tecnologia da informação (TI) floresce, graças aos números crescentes de universitários graduados. A oferta de empregos no setor de transporte também cresceu.
No comércio externo, a União Europeia é a principal parceira do país, absorvendo quase 40% de suas exportações. Em meados de fevereiro, o portal de notícias alemão Tagesschau.de informava que Bruxelas vê “enorme potencial” de expansão do comércio bilateral com Kiev, no médio e longo prazo.
Entre outros pontos, a Ucrânia possui 21 dos “30 minerais identificados como cruciais para a UE, entre os quais lítio e cobalto”. Assim, “a União Europeia gostaria de criar com a Ucrânia uma aliança para matérias-primas e baterias”, prosseguia o portal alemão.
O país do Leste poderia, ainda, se transformar em fornecedor de hidrogênio para o bloco europeu, além de apresentar numerosas possibilidades não exploradas no campo das tecnologias de futuro.
Fonte: DW