A História da Mata Atlântica Nordestina

O estudo da História Ambiental, feito com o ferramental metodológico da História, da Ecologia e da Geografia, representa uma alternativa para a análise integrada dos ecossistemas que abarca tanto a sua dimensão humana como seus atributos físicos e biológicos. Trata-se de um campo relativamente novo do conhecimento, surgido na década de 1970, simultaneamente ao início dos movimentos ambientalistas e das conferências mundiais sobre a crise ambiental (WORSTER, 1990).

O conhecimento sobre o processo histórico de transformação da paisagem florestal no Brasil vem sendo ampliado nos últimos anos graças a numerosas contribuições como, por exemplo, as de Drummond (1991 e 1997), Dean (1997), Miller (2000), Pádua (2002) e Cabral (2004).

Dentro dessa visão interdisciplinar, estudos integrados de História Ambiental podem trazer valiosos subsídios ao entendimento da transformação da paisagem, particularmente em aspectos bastante atuais como as mudanças climáticas globais, a redução da biodiversidade e a fragmentação da paisagem. É importante lembrar que muitos dos processos históricos que produziram as atuais paisagens são ainda correntes, ou seja, a História Ambiental não é uma disciplina voltada para o passado.

A Mata Atlântica é o lar de um conjunto único de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção. Apesar de guardar rica diversidade biológica, esse bioma sofre com uma intensa devastação das suas florestas para acolher 60% da população brasileira e gerar 70% do produto interno bruto (PIB) brasileiro. Resgatar a história ambiental dessa região é importante para entendermos tanto a evolução das relações entre humanos e natureza quanto as modificações da paisagem.

Ao norte do Rio São Francisco existe uma porção da Mata Atlântica cujo estado atual de conservação é preocupante. Mesmo com uma biota excepcionalmente única e diversa, existem cada vez menos florestas nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte do que no restante do bioma.

As características ecológicas dessas florestas fazem com que se tornem as  mais ameaçadas e desmatadas da Mata Atlântica. Além disso, mais da metade delas está no estágio inicial de regeneração. Para piorar, as matas vêm perdendo a sua diversidade nativa para espécies que têm facilidade em ocupar o ambiente, chamadas de generalistas, pioneiras e oportunistas, que não pertencem naturalmente ao bioma.

Outro motivo que dificulta a conservação dessas florestas é o fato de o interesse científico nessa região ser muito inferior ao que é dedicado a outras regiões da Mata Atlântica, sobretudo da Região Sudeste. A falta de conhecimento e de investigações históricas dificulta saber exatamente quais espécies foram extintas e quanto da floresta se perdeu.

A análise histórica da formação territorial da Mata Atlântica em Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte pressupõe que no período anterior ao descobrimento ela foi ocupada por elevada população indígena por centenas de anos.

Dessa forma, a maior parte da paisagem natural já não era a original, encontrando-se em diferentes estágios de regeneração, o que foi mapeado a partir das crônicas dos séculos XVI e XVII. Com a colonização portuguesa, foram introduzidas espécies exóticas e novos modos produtivos. Contudo, a intensificação da atividade agrícola ocorreu apenas a partir do Império (1822-1889) e da Primeira República (1889-1930), contribuindo para a substituição de grandes áreas naturais por monoculturas, principalmente de cana-de-açúcar.

Ao apresentar a evolução da paisagem natural, a pesquisa desafia a ideia de que a devastação da Mata Atlântica é uma herança colonial ou do Império, permitindo concluir que é, na verdade, resultado de eventos modernos ligados à industrialização agrícola do século XX, especialmente no Nordeste.

Quanto à vegetação que ainda existe, parte é composta por fragmentos da paisagem natural que resultaram da regeneração de áreas anteriormente modificadas pelo ser humano.

Outras porções são restantes protegidos por proprietários particulares, senhores de engenhos e usineiros por motivos que variam entre a ética ambiental e a manutenção da beleza cênica. O fato de 90% das áreas conservadas serem privadas revela que a distribuição das florestas atuais não é fruto somente de fatores geográficos nem de políticas públicas.

Fontes: CDS UNB, SCielo.