Os médicos não costumam prescrever tempo na natureza aos seus pacientes, mas talvez devessem fazê-lo. Um corpo de investigação robusto mostra que estar em espaços verdes – como parques, bosques, florestas, montanhas e afins – é benéfico para o bem-estar físico e mental das pessoas. As vantagens de passar tempo junto ao mar, lagos e rios são menos conhecidas.
Um relatório intitulado Green and Blue Spaces and Mental Health, publicado pela Organização Mundial da Saúde, mostra que passar tempo na natureza – incluindo em áreas urbanas e periurbanas – melhora o humor, a disposição e a saúde mental. O estudo demonstra que a exposição a florestas, parques, jardins ou orlas costeiras pode até mitigar o impacto psicológico das alterações climáticas, promover a atividade física e criar oportunidades para interação social em locais “onde pode relaxar e deixar o stress do dia a dia para trás durante algum tempo”.
“Pensar na nossa relação com a natureza recorda-nos que estamos integrados no mundo natural enquanto espécie”, diz Patricia Hasbach, psicoterapeuta e ecopsicóloga em Eugene, no estado de Oregon. “Ir até espaços azuis ou verdes é uma espécie de regresso a casa. Promove uma sensação de pertencermos a algo maior do que nós próprios.”
A natureza é benéfica para a nossa saúde psicológica e física de várias formas. Um estudo recente que examinou mais de 16.000 pessoas em 18 países descobriu que os níveis de bem-estar dos residentes de zonas mais verdes ou costeiras eram, em geral, superiores. Além disso, as pessoas que visitavam frequentemente espaços verdes ou azuis (junto à costa ou no interior) para fins recreativos sentiam-se melhor e sofriam menos distúrbios psicológicos.
Outro estudo publicado no ano passado na Occupational & Environmental Medicine concluiu que as pessoas que visitam espaços verdes cinco ou mais vezes por semana ingerem significativamente menos medicamentos psicotrópicos, anti-hipertensivos e anti-asmáticos do que aquelas que passam menos tempo na natureza. Os benefícios corpo-mente não se ficam por aqui.
Elementos Restauradores
Embora os investigadores não tenham feito uma comparação item a item entre as vantagens dos espaços verdes e azuis, há muitas provas dos benefícios proporcionados por ambos para a saúde mental. Os estudos demonstraram, por exemplo, que a prática japonesa de “imersão florestal” (ou Shinrin-yoku) — que envolve caminhar lentamente numa floresta e inalar as substâncias fragrantes denominadas fitoncidas que são libertadas pelas árvores – reduz a tensão arterial, alivia os sintomas depressivos e melhora a saúde mental.
Uma análise publicada no ano passado, baseada num estudo realizado com pessoas de 18 países, concluiu que os adultos com melhor saúde mental têm mais probabilidades de ter passado brincado em zonas aquáticas costeiras ou interiores na infância. Um estudo prévio demonstrou que as pessoas que vivem em casas com vista para espaços azuis na cidade neozelandesa de Wellington tinham níveis inferiores de distúrbios psicológicos do que aquelas cujas casas têm vista para espaços verdes.
Há muitos possíveis mecanismos biológicos por detrás das vantagens da exposição a espaços verdes ou azuis. Uma das explicações é que estes benefícios derivam, provavelmente, daquilo que se chama teoria do restauro da atenção, segundo a qual a exposição à natureza ajuda a aliviar a fadiga mental e melhora a capacidade de foco, explica Marc Berman, neurocientista ambiental e professor associado de psicologia na Universidade de Chicago. “Os seres humanos têm dois tipos de atenção – a atenção direcionada, que é aquela que usamos no trabalho e que nos cansa ou se esgota, e a atenção involuntária, que é automaticamente captada por coisas interessantes no ambiente e não nos cansa”.
Cada vez mais se discute a necessidade das cidades expandirem suas áreas verdes para mitigar e combater os efeitos negativos da emergência climática. Mas, investir na expansão de parques e outras soluções baseadas na natureza também é essencial para a saúde mental da população. Um novo estudo mostra que pessoas frequentam mais vezes espaços naturais têm menor probabilidade de usar medicamentos antidepressivos.
A evidência dos benefícios da natureza para a saúde mental já têm, inclusive, levado médicos a prescreverem aos seus pacientes visitas aos parques como parte do tratamento. No Canadá, quem recebe a recomendação médica tem direito a entrada gratuita para o passeio. Mas o quão frequente devem ser essa visitas à natureza? Qual a dose de “ecoterapia” necessária para o bem-estar?
Buscando responder à questão, a Academia Científica da Finlândia e o Ministério do Meio Ambiente daquele país financiaram um estudo, publicado na Occupational and Environmental Medicine, para ver como a exposição aos parques e áreas verdes afeta o consumo de medicamentos prescritos.
O estudo compilou 16.000 respostas de moradores de Helsinque e cidades vizinhas sobre sua relação com parques e cursos d’água, como lagos e rios. Uma forte associação foi encontrada entre a frequência com que os entrevistados visitavam os parques e o uso de medicamentos.
As pessoas que relataram passear de três a quatro vezes por semana nas áreas verdes tinham 33% menos probabilidade de usar antidepressivos e ansiolíticos do que aquelas que raramente o faziam. Outros remédios também foram avaliados. Embora o estudo também incluísse uma categoria para pessoas que visitavam parques cinco ou mais vezes por semana, não houve redução adicional no uso de medicamentos nesses casos.
A pesquisa complementa um estudo publicado recentemente que descobriu que as doenças de Parkinson e Alzheimer se desenvolvem mais lentamente em pessoas que passam tempo na natureza com frequência.
Fontes: Um Só Planeta, National Geographic, Olhar Digital.
Imagem: Simona Pilolla – Shutterstock.
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