Os ecossistemas costeiros estão entre os mais ricos repositórios de biodiversidade da Terra. No entanto, estão ameaçados ao longo de quase 50% dos litorais do mundo por projetos de desenvolvimento, como urbanização, má gestão de resíduos ou destruição de manguezais para abrigar complexos hoteleiros. A modificação ou destruição de habitat é uma das principais causas de perda de biodiversidade marinha.
Há 1.200 grandes estuários no mundo, cobrindo 500.000 km2. A exploração humana já causou 95% do esgotamento das espécies e 96% das extinções em zonas costeiras, muitas vezes combinadas com a destruição do habitat. Mais de 65% das ervas marinhas e dos locais de zonas úmidas foram devastados, degradando a qualidade da água e acelerando as invasões de espécies.
Os manguezais cobrem, hoje, cerca de 152.000 km2, 19% a menos do que em 1980. A Ásia e a África abrigam os maiores biomas, seguidas pelas Américas do Norte e Central. Os recifes de coral já perderam 19% de sua área original, 15% estão seriamente ameaçados nos próximos 10 a 20 anos e mais de 20% estarão sob risco em 20 a 40 anos. A boa notícia é que 46% dos recifes de coral estão relativamente saudáveis e sem ameaças imediatas de destruição – exceto as climáticas globais “imprevisíveis” de aquecimento e acidificação.
As espécies invasoras são outro fator de perda de biodiversidade nos mares. Muitos casos graves já foram registrados, mas poucos foram monitorados. Ainda precisamos avaliar como as espécies invasoras reduzem a resiliência dos ecossistemas marinhos e terrestres. O impacto de espécies exóticas invasoras é grave nas ilhas. Nas próximas décadas, a expansão dessas espécies vai afetar a biodiversidade, sobretudo em águas interiores e zonas costeiras.
Redução drástica
Práticas de pesca destrutivas reduziram drasticamente a biodiversidade marinha. Há 50 anos esperava-se que os oceanos nos propiciassem uma fonte ilimitada de alimentos. Nos últimos anos, a sobrepesca e a captura de peixes indesejados em redes reduziram as populações de alto-mar a menos de 10% do que eram há algumas décadas.
Tais práticas têm levado espécies à beira da extinção. Estima-se que 52% das espécies de peixes marinhos estejam totalmente exploradas, 19% superexploradas e 9% esgotadas ou se recuperando de esgotamento, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) de 2009.
Séculos de pesca intensa agravada pela degradação costeira puseram as ostras e outros mariscos perto ou além do ponto de extinção em todo o mundo. Os recifes de ostras diminuíram 90% em relação aos níveis históricos, em 70% das baías e 63% das ecorregiões marinhas. No documento final da Rio+20, O Futuro que Queremos, os governos prometeram eliminar os subsídios que contribuem para a sobrepesca, mas não fixaram metas específicas.
Ecossistemas de águas profundas ocupam 60% da superfície da Terra. Seus habitantes são extremófilos, habituados a viver em águas tanto muito frias quanto muito quentes, como as espécies que se desenvolvem em torno de fontes hidrotermais. Os extremófilos marinhos estão acostumados à alta pressão e, em alguns casos, à toxicidade. Esses ecossistemas são ricos em espécies, a maioria das quais desconhecida para a ciência. Também são muito frágeis, pois compreendem espécies que crescem muito lentamente, vivem por muito tempo e têm baixa fecundidade. Eles provavelmente se recuperarão devagar de qualquer perturbação grave.
A pesca de fundo danificou muitos recifes de coral de água fria. Situados em águas oceânicas profundas, sobretudo na borda da plataforma continental ou em montes submarinos, eles abrangem cerca de 284.300 km2. Corais de água fria podem formar grandes recifes e ocorrer isoladamente ou em florestas marinhas.
Descobertas há mais de 30 anos, as fontes hidrotermais se formam a até 3.700 metros de profundidade, quando as placas tectônicas convergem ou se separam. Elas expelem água a até 400°C na fria água circundante. Esse é o resultado de fluidos do oceano que escoam para dentro das câmaras subterrâneas, aquecidos pelo magma sob a crosta. Os fluidos expelidos contêm sulfetos de metais, incluindo cobre, ouro, chumbo, prata e zinco, que se acumulam no fundo e logo abaixo dele. Esses depósitos podem chegar a cerca de 100 milhões de toneladas, atraindo a indústria de mineração.
As fontes hidrotermais suportam comunidades biológicas produtivas, que vão desde as minúsculas bactérias quimiossintéticas predominantes até vermes tubulares, mexilhões e caranguejos gigantes. Cerca de 90% das espécies que vivem nessas fontes e em torno delas são endêmicas. O banco de dados InterRidge Hydrothermal Vent Database lista 212 locais conhecidos, mas deve haver mais. Na verdade, sabemos pouco sobre onde ocorrem as fontes hidrotermais, sua área, biodiversidade e ecologia. Mas já podemos temer pelo seu futuro.
Fontes: Revista Planeta, SOS Mares.