Abacaxi e laranja lideram em resíduos de agrotóxicos, aponta pesquisa

Uma análise realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que o abacaxi e a laranja estão entre os alimentos com maior potencial de risco agudo devido à presença de resíduos de agrotóxicos. Sucos de laranja, incluindo versões orgânicas, também apresentaram contaminação por substâncias proibidas

O levantamento de 2023, divulgado em dezembro do ano passado, analisou 3.294 amostras coletadas em 76 municípios. Os resultados mostraram que abacaxi e laranja são as frutas com maior número de amostras com risco agudo, ou seja, potencial de causar danos à saúde em curto prazo.

O programa da Anvisa busca identificar a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos, avaliando os riscos à saúde humana.

As amostras foram coletadas nas prateleiras dos supermercados e analisadas em laboratórios especializados, com a utilização de métodos científicos reconhecidos internacionalmente.

De acordo com o estudo, o abacaxi e a laranja apresentaram 7 e 6 amostras, respectivamente, com potencial de risco agudo.

O relatório também apontou que, no geral, as amostras analisadas não apresentaram risco crônico, que avalia os efeitos do consumo prolongado ao longo da vida.

As análises buscaram resíduos de 338 diferentes agrotóxicos, incluindo produtos nunca autorizados ou substâncias já banidas no Brasil.

De 2023 a 2025, a expectativa é analisar 36 alimentos que representam 80% dos alimentos de origem vegetal consumidos no Brasil, conforme levantamento do IBGE.

Um estudo conduzido em 2024 pela pesquisadora Kelly Cristina Magnani, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), detectou a presença de dois pesticidas em amostras de laranjas e sucos de laranja, incluindo o Dicofol, um agrotóxico já banido pela Anvisa e listado como Poluente Orgânico Persistente pela Convenção de Estocolmo.

A pesquisa, realizada como parte de sua dissertação de mestrado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), avaliou 12 amostras de laranjas coletadas em feiras, sítios e supermercados de São Paulo, além de 9 amostras de suco integral.

Maior produto de laranjas do mundo

O Brasil é o maior produtor de laranjas do mundo, contribuindo com mais de 25% da exportação global da fruta in natura e cerca de 75% do suco de laranja comercializado internacionalmente. Em 2021, o país produziu mais de 16 milhões de toneladas da fruta, sendo o estado de São Paulo o maior responsável pela produção.

Apesar da posição de liderança, os resultados mostram que a segurança alimentar precisa ser uma prioridade, como enfatiza Magnani. “A alimentação é fundamental para garantir sustentabilidade, competitividade de mercado e qualidade na produção”, ressalta a pesquisadora.

Agrotóxico proibido é encontrado em laranjas

Para a realização da pesquisa, que teve como objetivo o estudo de uma metodologia para determinação de multirresíduos de agrotóxicos em alimentos cítricos, doze amostras de laranja pera (também conhecida como pera Rio, pera coroa ou simplesmente pera) foram coletadas em feiras livres, sítios e supermercados do Estado de São Paulo e nove amostras de suco de laranja integral produzidas no Brasil foram adquiridas em supermercados.

Os ensaios foram feitos no Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas, no Laboratório de Biotecnologia Industrial e no Laboratório de Química e Manufaturados do IPT. No preparo de amostras foram realizados estudos para comparar os métodos e verificar a eficiência de extração dos agrotóxicos da matriz e qual o mais adequado em relação à detecção do ingrediente ativo e o efeito matriz sobre o sinal do equipamento.

Em suas análises, Manhani detectou a presença do Dicofol em cinco amostras de suco de laranja, dentre elas um suco orgânico certificado; outro dos pesticidas encontrados, o Clorpirifós, está atualmente sob reavaliação da Anvisa e de outros órgãos internacionais do Canadá e Austrália, sendo que nos EUA foi proibido em 2022. O motivo da nova avaliação são aspectos toxicológicos como mutagenicidade e toxicidade para o desenvolvimento, especialmente a neurotoxicidade, encontrados em estudos recentes.

Fontes: Metrópoles,Ciclo Vivo,  Blog FM.

Foto: Getty Images.