Em meio ao aquecimento global, nosso planeta já está à beira de ultrapassar cinco pontos de inflexão climáticos. Essas marcas levam a mudanças sem retorno no clima quando um limite de temperatura é ultrapassado.
Segundo estudo publicado na sexta-feira (9) na revista Science, entre os pontos que podem ser acionados hoje estão marcas que levam ao derretimento dos mantos de gelo antárticos ocidentais e da Groenlândia.
Também poderá ocorrer um colapso de convecção no Mar de Labrador, no Atlântico Norte, a extinção maciça de recifes de corais tropicais e um abrupto degelo generalizado de permafrost.
A equipe reuniu evidências dessa inflexão, além de limites de temperatura, escalas de tempo e impactos, a partir de mais de 200 artigos publicados desde 2008, quando os pontos irreversíveis foram definidos pela primeira vez.
Os pesquisadores consideraram nove sistemas, como a Antártida e a Amazônia, e outros sete de impacto regional, incluindo a monção da África Ocidental e a morte da maioria dos recifes de coral na linha do equador.
Com cinco novos parâmetros climáticos, o grupo aumentou a lista de possíveis pontos irreversíveis de nove para 16. Quatro deles são prováveis se a temperatura global subir além de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, enquanto outros cinco são possíveis já em torno desse nível de aquecimento, sem ultrapassá-lo.
Como fica o Acordo de Paris
Quando as temperaturas excederam aproximadamente 1°C de aquecimento, a Terra já deixou o que seria um estado climático “seguro”. Agora, as metas do Acordo de Paris não são mais suficientes: limitar o aquecimento a bem abaixo de 2°C, e preferencialmente a 1,5°C — como propõe o combinado —, já não mais basta.
Na faixa de aquecimento de 1,5ºC do acordo, a probabilidade do ponto de inflexão aumenta acentuadamente, com riscos maiores além de 2ºC. “À medida que as temperaturas globais aumentam ainda mais, mais pontos de inflexão se tornam possíveis”, alerta David Armstrong McKay, autor principal da pesquisa, em comunicado.
A probabilidade dos pontos irreversíveis cresce a cada décimo de grau adicional. O Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), prevê ainda que a probabilidade de gerar pontos de inflexão pode ser muito alta acima dos 2,5 a 4°C.
McKay afirma que sua equipe deu “o primeiro passo para atualizar o mundo sobre os riscos do ponto de inflexão”, mas destaca que há “uma necessidade urgente de uma análise internacional mais profunda”.
Segundo ele, a Comissão da Terra, grupo de pesquisa organizado pela Future Earth, a maior rede mundial de cientistas de sustentabilidade, está iniciando um projeto sobre o assunto.
Fontes: Um Só Planeta, Revista Galileu.
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