Aquecimento e risco de extinção da vida marinha como nunca se viu antes

A novidade sinistra, que nem é tão nova, provocou alvoroço. E tornou-se manchete em todos os jornais do exterior. O Guardian diz que nova pesquisa alerta para as pressões do aumento do calor e da perda de oxigênio que lembram a ‘grande morte’ ocorrida há cerca de 250 milhões de anos.

O New York Times seguiu o rastro, Aviso sobre a extinção em massa da vida marinha: ‘Um momento, Oh My God.’ O site francês www.fr.postsus.com repercutiu: Modelagem prevê extinção em massa da vida marinha até 2300 se o aquecimento continuar. E, no Brasil, vamos de Aquecimento e risco de extinção da vida marinha.

Por que não é novo o sinistro aviso

Já em 2017, com o aquecimento ainda sob certo controle, cientistas renomados alertavam que começava a sexta extinção em massa. De lá para cá, a situação piorou, apesar do Acordo de Paris.

A pesquisa batizada Avoiding ocean mass extinction from climate warming foi publicada na Science, ícone da informação científica.

Ela alerta que o aquecimento causa uma mudança tão drástica nos oceanos que corre o risco de um evento de extinção em massa de espécies comparável à do final do Permiano.

Na época, há 250 milhões de anos, o cataclisma  levou à morte mais de dois terços dos animais marinhos, devido ao aquecimento e ao esgotamento do oxigênio, condições semelhantes às que ocorrem hoje.

Segundo o estudo, a aceleração da mudança climática provoca impacto “profundo” nos ecossistemas oceânicos. “Eleva o risco de extinção e da riqueza biológica marinha que não é vista na história da Terra nas últimas dezenas de milhões de anos.”

Não é difícil entender

Não é difícil entender para quem acompanha este site, ou o debate. Devido ao calor provocado pela queima de combustíveis fósseis, a água dos oceanos está em permanente aquecimento.

Enquanto isso caem os níveis de oxigênio dos mares (O Guardian informa que o volume das águas oceânicas esgotadas de oxigênio quadruplicou desde a década de 1960).

A consequência é a acidificação cada vez mais forte. O resultado da macabra equação, desacreditada oficialmente em Brasília, é que dezenas de organismos marinhos como mexilhões, amêijoas, ou camarões, ficam incapacitados de formar suas conhas (espécie de ‘esqueleto externo’ que se parece a uma fina camada plástica nos camarões, para exemplificar) adequadamente.

Como são alimentos importantes para outras espécies, todas tendem a desaparecer. O Guardian acrescenta que as pressões do aumento do calor e da perda de oxigênio são desconfortavelmente reminiscentes do evento de extinção em massa que ocorreu no final do período Permiano, cerca de 250 milhões de anos atrás.

Conheça a apresentação do estudo publicado na Science

“A mudança climática traz consigo o risco crescente de extinção entre espécies e sistemas. As espécies marinhas enfrentam riscos específicos relacionados ao aquecimento da água e ao esgotamento do oxigênio.”

“Penn e Deutsch (autores principais) analisaram o risco de extinção de espécies marinhas através do aquecimento e relacionado aos limites ecofisiológicos.”

“Eles descobriram que, sob os aumentos de temperatura globais, os sistemas marinhos provavelmente sofrerão extinções em massa no mesmo nível das grandes extinções do passado com base apenas nos limites ecofisiológicos.”

Redução drástica das emissões globais

“A redução drástica das emissões globais, no entanto, oferece proteção substancial, o que enfatiza a necessidade de ação rápida para evitar extinções marinhas possivelmente catastróficas.”

Mesmo as mais modestas contribuições propostas no Acordo de Paris não estão se realizando. E apesar dos alertas, situações inesperadas como a guerra na Ucrânia dificulta ainda mais o corte de emissões.

Hoje, o que se discute na academia, e no estudo em referência, é sobre quanto a mais de 1,5ºC a temperatura global deve subir. Limitar o aquecimento a 2°C, o limite superior da meta do Acordo de Paris, “reduziria a gravidade das extinções em menos de 70%, evitando uma extinção em massa marinha”, diz o estudo.

O problema atualmente é que  grande parte dos cientistas já não acredita que a temperatura subirá apenas 1,5ºC até o final do século. Esta meta de aquecimento ‘seria impossível de alcançar sob os acordos atuais’, segundo a ONU.

As escolhas feitas hoje em relação às emissões de gases de efeito estufa podem afetar o próprio futuro da vida na Terra, mesmo que os piores impactos ainda pareçam distantes. Acontece que hoje nenhum dos líderes mundiais sequer fala no assunto.

O tema deles, como não poderia deixar de ser, é a guerra na Europa. No início pensava-se que seria questão de um par de semanas. Passados dois meses, analistas dizem que poderá levar ‘meses’, e até mesmo, ‘anos’.

Enquanto isso, o New York Times explica de onde tirou o título de sua matéria.

O Dr. Penn, pesquisador de Princeton lembrando a primeira vez que olhou para um gráfico comparando as extinções passadas com sua previsão sombria exclamou: “Não foi um momento aha em si. Foi mais um momento ‘Oh meu Deus’.”

Fonte: Mar Sem Fim.