Cientistas que estudam as amostras do asteroide Ryugu, trazidas à Terra em dezembro de 2020 pela missão Hayabusa 2, do Japão, divulgaram resultados de uma longa análise química na Conferência de Ciência Lunar e Planetária 2022, que aconteceu no Texas no final de agosto.
Coletadas da superfície e da subsuperfície da rocha espacial em 2018 e 2019, as amostras revelam sua composição, fornecendo pistas sobre os primeiros dias da formação do nosso sistema solar.
A missão Hayabusa 2 coletou 5,4 gramas de grãos rochosos de Ryugu durante duas missões de amostragem. Enquanto o primeiro touchdown se concentrou em amostras da superfície de Ryugu, o segundo usou uma espécie de pêndulo para criar uma pequena cratera e extrair material sob a superfície do asteroide.
Material do asteroide Ryugu é o mais primitivo do sistema solar
“O material de Ryugu é o mais primitivo que já estudamos no sistema solar”, disse Hisayoshi Yurimoto, professor de Geociências na Universidade de Hokkaido, no Japão, e líder da equipe inicial de análise química da missão Hayabusa 2.
Segundo Yurimoto, Ryugu é um asteroide condrito carbonáceo (condrito-ci), um tipo de rocha rico em carbono pedregoso com uma composição química que é a mais semelhante à do Sol. Esses asteroides, abundantes em água e material orgânico, são uma possível fonte das sementes de vida entregues à recém-nascida Terra bilhões de anos atrás.
No entanto, as amostras de Ryugu são um pouco diferentes em comparação aos outros asteroides condrito-ci que os pesquisadores já viram anteriormente, encontradas na Terra como meteoritos.
“Elas parecem mais antigas e têm uma composição química mais semelhante ao material do sistema solar primitivo”, revelou Yurimoto. “Isso porque não foram alteradas pelas interações com o ambiente da Terra”.
Uma equipe liderada por Hiroshi Naraoka, da Universidade de Kyushu, também no Japão, que procurou matéria orgânica nas amostras de Ryugu, afirmou em um estudo apresentado na conferência que os fragmentos de Ruygu continham mais carbono, hidrogênio e nitrogênio do que outros asteroides condritos carbonáceos conhecidos.
A análise de Naraoka e sua equipe também encontrou mais de dez tipos de aminoácidos nas amostras, incluindo glicina e L-alanina, que são os blocos de construção de proteínas que organismos vivos produzem com base em seu código de DNA.
“Detectamos vários compostos orgânicos probióticos nas amostras, incluindo aminoácidos proteinômicos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos semelhantes ao petróleo terrestre e vários compostos de nitrogênio”, disse Naraoka. “Essas moléculas orgânicas probióticas podem se espalhar por todo o sistema solar, potencialmente como poeira interplanetária da superfície do Ruygu por impacto ou outras causas”.
Rochas espaciais permitem aos cientistas enxergarem o passado do universo
Devido à ausência de processos climáticos e tectônicos, o material e a composição química dos asteroides, segundo os cientistas, pouco se alterou desde que os corpos “nasceram” nos primeiros dias do nosso sistema solar.
Rochas espaciais antigas, como Ruygu, permitem, portanto, que os pesquisadores “enxerguem o passado”. Ao estudar pedaços de asteroides de perto, eles podem entender como a matéria orgânica que agora forma a base de toda a vida na Terra surgiu a partir da nuvem molecular que deu origem ao sistema solar há cerca de 4,6 bilhões de anos e como ela evoluiu de lá para cá.
De acordo com o que as amostras de Hayabusa 2 revelaram, Ryugu surgiu de uma colisão que destruiu sua rocha-mãe e deu origem ao que os cientistas chamam de pilha de escombros, uma coleção solta de rochas e pedras mantidas juntas apenas pelo poder da gravidade.
Como os cristais encontrados nas amostras contêm muita água, a rocha mãe de Ryugu deve ter se formado “fora das linhas de neve de CO2 [dióxido de carbono] e H2O [água]”, disse Tomoki Nakamura, da Universidade de Tohoku, autor de outro estudo sobre o asteroide.
Segundo Nakamura, uma linha de neve fica a uma distância da estrela emergente onde a temperatura é fria o suficiente para compostos voláteis (como água e dióxido de carbono) se condensarem em grãos de gelo sólidos.
Fonte: Olhar Digital
Imagem: JAXA.