Naufragado há 400 anos, um raro navio de carga que transportava cal virgem para a indústria de construção do século 17 foi descoberto por arqueólogos marítimos no norte da Alemanha. Os destroços do cargueiro escaparam de infestações de moluscos e estavam em ótimo estado de conservação.
De acordo com o site Live Science, a embarcação é do período Hanseático, quando guildas comerciais do norte europeu dominaram os mares Báltico e do Norte entre os séculos 13 e 17. Seus restos foram encontrados em 2020, durante uma pesquisa de sonar de rotina feita pelas autoridades do canal navegável do rio Trave, no estado de Schleswig-Holstein.
Ainda havia barris de cal junto ao barco, afundado a cerca de 11 metros de profundidade em trecho predominante de água salgada do rio. Os pesquisadores acreditam que o naufrágio resistiu por tantos anos pois foi engolido por uma camada de lama fina transportada pelo Trave, que protegeu a embarcação da deterioração.
Isso foi bem importante, considerando que a madeira apodrece rapidamente debaixo d’água e que poucos naufrágios da mesma idade já foram encontrados. A camada de lama evitou que o barco fosse colonizado por um molusco de água salgada conhecido como cupim-do-mar (Teredo navalis), que é comedor de madeira, segundo conta ao Live Science Fritz Jürgens, principal arqueólogo marítimo do projeto.
A conservação do barco se dá não só pela ausência de infestação, mas também pelo peso da carga. Foram localizados barris de madeira quase intactos no navio de 20 a 25 metros, indicando que ele carregava cal quando naufragou. “Ainda existem cerca de 70 barris em sua localização original e outros 80 nas imediações”, disse Manfred Schneider, líder do projeto arqueológico. “O navio, portanto, afundou quase de pé e não virou.”
A cal virgem, material produzido a partir da queima de calcário, era usada para argamassa de alvenaria. “A fonte para isso teria sido a Escandinávia — no meio da Suécia ou no norte da Dinamarca”, disse Jürgens. “Sabemos que essa carga vinha de lá, provavelmente para Lübeck, porque o norte da Alemanha não tem grandes fontes de calcário”, explica o especialista.
Na época do naufrágio, as cidades e guildas do norte da Alemanha e de outras partes da Europa formavam um bloco de sucesso, o Hansa, que dominava o comércio no Báltico e no Mar do Norte.
Registros históricos estimam que o barco afundou em dezembro de 1680. Uma carta dessa data nos arquivos de Lübeck mostra que um oficial de justiça pediu a um destinatário desconhecido que recuperasse a carga de um navio encalhado em uma região do Trave. E uma técnica de datação chamada dendrocronologia revelou que padrões de anéis nas madeiras eram de árvores derrubadas na década de 1650.
O mergulhador científico Christian Howe, da cidade de Kiel, fotografou o barco submerso e sua carga. Parte dos barris pode ter sido recuperada por trabalhadores do século 17, fazendo com que ele flutuasse. Contudo, a embarcação logo afundou devido a vazamentos, de acordo com Jürgens.
Segundo ele, espera-se que todo o navio seja levantado do leito do rio nos próximos anos para que não se mova novamente e ofereça perigo ao transporte moderno na região.
Fonte: Galileu.
Foto: Christian Howe.