Brumadinho, seis anos depois: população ainda convive com contaminação e espera reposta da Justiça

O rompimento de uma barragem da mina de Córrego do Feijão, da Vale, na cidade de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG) completou 6 anos em 25 de janeiro. Passado esse tempo, a busca por Justiça continua. Além dos 272 mortos – os corpos de três vítimas continuam desaparecidos até hoje –, o rompimento afetou a vida de dezenas de milhares de pessoas, com efeitos na saúde. Sem falar no enorme estrago ambiental. Desde então, famílias das vítimas cobram da Justiça indenizações pela tragédia, que marcou um capítulo importante dos desastres ambientais do país.

A tragédia de 2019 deixou consequências graves no solo e nos rios da região de Brumadinho. O acúmulo de metais pesados se tornou uma constante, ampliando os riscos ao meio ambiente e à saúde da população.

Segundo um estudo da Universidade Federal Fluminense, conduzido pelos pesquisadores Andressa Christy Buch e Emmanoel Vieira da Silva-Filho, o solo da região passou a concentrar metais acima dos padrões estabelecidos por normas locais e internacionais: arsênio, cobre, cádmio, cromo, mercúrio, níquel e chumbo são alguns dos exemplos.

Todo esse cenário tem feito com que crianças de até 6 anos de idade venham apresentando um aumento na taxa de detecção de metais na urina, conforme um estudo da Fiocruz Minas e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo apontou a presença de pelo menos um dos cinco metais (cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês) em todas as amostras de urina analisadas. No caso do arsênio, que pode ser fatal em doses altas, a proporção de pequenos com níveis acima do valor de referência passou de 42% para 57% entre 2021 e 2023. Mas esse percentual é ainda maior à medida que se aumenta a proximidade destas crianças com a área do desastre ou da mineração ativa em Brumadinho.

Uma tragédia de tal magnitude não impactou apenas o solo da região e a saúde física dos habitantes, mas trouxe consequências à saúde mental. Casos de episódios de depressão e ansiedade passaram a ser registrados com mais frequência. No caso de adultos e adolescentes, a proporção de episódios depressivos subiu de 28,8% para 38,4% e de 19,2% para 30,8%, respectivamente, entre 2021 e 2023. Os dados também são da Fiocruz.

Desde o rompimento da barragem da Vale, propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos às margens de rios da região foram alteradas e há acúmulo de metais pesados acima dos níveis seguros.

A água do rio Paraopeba, atingido diretamente pelos rejeitos da barragem rompida, continua imprópria para consumo até hoje, afetando diretamente a vida de ribeirinhos. Um acordo celebrado em fevereiro de 2021 entre Vale, governo de Minas Gerais e instituições de Justiça prevê que cabe à mineradora a limpeza total do rio, sem limite de custeio.

Um estudo do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB) projetou cenários de prazo para que essa limpeza seja concluída. No cálculo mais otimista, seriam necessários 44 anos de dragagem para a retirada total dos resíduos. Já o mais pessimista coloca esse prazo em 741 anos, relatam Folha e Diário do Centro do Mundo.

No sábado, dia exato do aniversário da tragédia, moradores e atingidos da região de Brumadinho fizeram um protesto. Segundo O Globo, o grupo cobra um novo acordo de reparação e critica que o atual, que envolve indenizações e investimentos em programas ambientais e socioeconômicos, é “praticamente inexistente”.

Em meio à luta para restabelecer a vida, o iminente fim de uma indenização paga mensalmente a 154.964 atingidos desde 25 de janeiro de 2019 é mais uma angústia. Conhecido como Programa de Transferência de Renda (PTR), o valor do auxílio para adultos será reduzido pela metade a partir de março.

“A gente precisa com muito afinco lutar para que de fato possamos ter um futuro para os nossos filhos, para as novas gerações. Infelizmente eu não tenho mais filhos e não vou ter netos, mas eu acho que tenho obrigação de lutar por isso, para que esse planeta seja viável e para que o Brasil seja viável”, disse a presidente do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), Helena Taliberti. A entidade foi criada em homenagem aos dois filhos de Helena, que morreram na tragédia, explica a Agência Brasil.

No total, o desastre em Brumadinho atingiu 1 milhão de pessoas e afetou 26 municípios.

Fontes: Climainfo, Carta Capital.

Foto: IBAMA/MG.

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