Não é de hoje que a família real britânica é pressionada por seus súditos a adotar medidas mais eco-amigáveis em relação às suas propriedades, com protestos pedindo medidas de reflorestamento, por exemplo, em parte dos 300 milhões de hectares de terra da coroa no Reino Unido. Porém uma investigação do jornal britânico The Guardian publicada no dia 15/07 deve esquentar este debate, com documentos apontando inúmeras práticas nocivas no castelo de campo de Sandringham, entre elas, armadilhas, caça ilegal e uso de pesticidas para matar animais ameaçados de extinção.
Há episódios documentados como, por exemplo, um par abatido de tartaranhões-azulados, espécie de ave de rapina ameaçada no Reino Unido, durante uma “prática de tiro” do príncipe Harry e seus amigos, em 2007. A versão oficial dá conta de que o filho do príncipe Charles estava caçando patos.
O incidente foi documentado por um guardião da vida selvagem na reserva natural de Dersingham Bog, em Norfolk, que testemunhou os tiros e viu as aves em queda livre, acionando imediatamente a Natural England, órgão responsável pelo parque, que provocou investigações.
Ferir ou matar tartaranhões-azulados é um crime punível com seis meses de prisão ou multa de 5 mil libras (R$ 32 mil) no Reino Unido. Os documentos afirmam que o inspetor-chefe da polícia da região aconselhou a “pedir entrada pela manhã” em Sandringham.
As iniciativas de investigação foram imediatas, narra o jornal, porém naquela noite os oficiais de patrulha ambiental foram informados de que precisariam esperar uma autorização da coroa para adentrar na propriedade real, um privilégio único dos monarcas britânicos. A lei britânica exime a rainha de sofrer qualquer tipo de processo ambiental, bem como se sujeitar a flagrantes.
Em memorando escrito um dia após o incidente com as aves de rapina, um alto funcionário da Natural England afirmou a outros executivos da agência que Sandringham era, na verdade, conhecida como um “hot spot” contra a vida selvagem.
Em 2009, vários edifícios na propriedade foram revistados pela polícia e oficiais da Natural England depois que um gavião morto e duas carcaças de pombo envenenadas, usadas como isca, foram encontradas, o que fere a lei de proteção dos alimentos e do meio ambiente, de 1985.
O caso foi encaminhado a autoridades sanitárias e gerou um debate sobre a possibilidade de responsabilizar legalmente a rainha pelas práticas irregulares em suas terras, possibilidade prontamente negada pelo Palácio de Buckingham. A propriedade acabou recebendo uma advertência sobre o manuseio incorreto e armazenamento ilegal de produtos químicos altamente tóxicos.
Sandringham foi investigada por crimes de vida selvagem e pesticidas contra aves de rapina legalmente protegidas pelo menos seis vezes entre 2005 e 2016, afirma o Guardian, que informa que, procurada, a coroa não quis se manifestar sobre a reportagem. Nas documentações acessadas pelo jornal, constam ainda episódios de intimidação de fiscais e sumiço de registros.
Fonte: Um só Planeta:
Foto: Andrew Parsons/PA Images via Getty