Cientistas planejam ‘ressurreição’ multimilionária do tigre-da-tasmânia

A prática do rewilding, que consiste em restaurar biomas protegendo e reintroduzindo espécies nativas de animais e plantas, vem ganhando paraça como opção para a recuperação de ecossistemas, e também como opção para as cidades, quando jardins “mais selvagens” podem apoiar o fortalecimento de comunidades de abelhas, borboletas e outros polinizadores.

Cientistas da Austrália e dos Estados Unidos lançaram um ambicioso projeto multimilionário, juntamente com a companhia americana Colossal, e planejam levar o conceito a outro patamar usando ciência genética. Pesquisadores da Colossal afirmam que podem “desextinguir” espécies, como o tigre da Tasmânia, um marsupial que se assemelha a um coiote, com listras pelo corpo.

Também conhecidos como lobos-da-tasmânia, os animais do gênero Thylacinos eram os maiores predadores a habitar a Austrália e a ilha de Nova Guiné há mais de 2.000 anos.

A razão para uma empreitada de tamanha ousadia seria restabelecer a biodiversidade na Oceania, lar tradicional dos marsupiais, em especial o território australiano. “Primos” mais agressivos dos cangurus, os tigres da Tasmânia foram extintos em 1930 devido à caça predatória, por serem carnívoros que se alimentavam das ovelhas de rebanhos, relata o jornal The Independent.

A parceria entre a Universidade de Melbourne com a Colossal, uma empresa de biotecnologia do Texas, planeja restaurar o código genético do animal em laboratório e devolvê-lo ao seu habitat natural, na ilha da Tasmânia.

Também conhecidos como lobos-da-tasmânia, os animais do gênero Thylacinos eram os maiores predadores a habitar a Austrália e a ilha de Nova Guiné há mais de 2.000 anos.

De aparência canina e com listras nas costas, foi amplamente caçado após a colonização europeia. O último sobrevivente conhecido morreu em cativeiro em 1936. Apesar de muitos terem relatado encontros nas décadas que se seguiram, e outros terem tentado provar sua existência, o animal foi oficialmente declarado extinto na década de 1980.

A ausência do animal deixou o ambiente vulnerável a espécies invasoras, que acabam gerando desequilíbrio biológico. A Colossal se coloca como uma empresa especialista na tecnologia CRISPR, que permite editar genes.

Esta é a segunda empreitada do gênero da Colossal, que, no ano passado, anunciou que iria “ressuscitar” o mamute-lanoso, espécie do Ártico extinta há cerca de 4 mil anos.

A equipe do laboratório à frente da “ressurreição” do tigre-da-tasmânia já sequenciou o genoma de um espécime do Thylacinos mantido pelo Museum Victoria, instituição de museus australiana.

O líder da equipe de pesquisadores, o professor australiano Andrew Pask, afirmou que a parceria entre a universidade australiana e a empresa americana é a tentativa mais significativa já feita para a restauração de marsupiais na Austrália, já que mais de 30 cientistas estão trabalhando no “grande desafio” de trazer o animal “de volta dos mortos”.

O procedimento utilizado será a edição de genes desenvolvida por George Church, professor da Escola de Medicina de Harvard e cofundador da empresa texana envolvida no projeto. O processo consiste em coletar células-tronco de uma espécie viva com DNA semelhante ao do tigre, transformando-as em células “tilacinas” – ou a aproximação mais próxima possível.

Novas tecnologias de reprodução assistida específicas para marsupiais serão necessárias para usar as células-tronco para fazer um embrião, que seria transferido para um útero artificial ou de animais geneticamente parecidos.

Pask estima que os primeiros filhotes do experimento poderiam nascer em 10 anos. Já o chefe-executivo da Colossal acredita que seria possível alcançar resultados em menos de seis anos, prazo que a empresa havia estabelecido para produzir o primeiro grupo de mamutes recriados em laboratório.

O geneticista que lidera o laboratório afirma que a pesquisa não apenas irá trazer de volta espécies mortas há muito tempo, mas ajudar a desenvolver tecnologia que poderia ser aplicada para lidar com a atual crise global de extinção.

“Nós não temos escolha. Se perdermos 50% da biodiversidade da Terra, nós mesmos estraremos em extinção nos próximos 50 a 100 anos”, alertou Pask, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.

Entretanto, o anúncio do projeto foi recebido com ceticismo por alguns especialistas, que alegam ser improvável que o experimento seja bem-sucedido. Outros pesquisadores questionaram o apoio financeiro milionário recebido pela tentativa de “ressurreição” de animais enquanto projetos que ajudam espécies ameaçadas de extinção permanecem sem financiamento.

Fontes: Um Só Planeta, Veja.

Foto: John Carnemolla/Corbis/Getty Images.