Cientistas usam drones para lançar milhares de mosquitos no Havaí para salvar aves à beira da extinção

Em uma série de testes científicos, drones estão soltando milhões de mosquitos em florestas do Havaí. A medida pode parecer maluquice, mas ela faz parte de um projeto para prevenir a extinção do grupo de aves honeycreepers endêmico da região.

Acontece que os insetos liberados pelos drones estão sendo usados para combater mosquitos não nativos, que são causadores de malária aviária. O plano de conservação é uma ação da American Bird Conservancy (ABC) em parceria com a Birds, Not Mosquitoes (BNM), agência de investimentos estatais e privados que trabalha com a proteção de aves nativas havaianas.

Os honeycreepers havaianos são pássaros conhecidos pelas penas de cores vibrantes e seus variados formatos de bico, adaptados para o tipo de alimentação de cada espécie. Das mais de 50 espécies de aves honeycreepers que viviam em ilhas havaianas, restaram apenas 17 — sinal da letalidade da doença transmitida pelo mosquito invasor.

No início, cápsulas biodegradáveis – cada uma contendo cerca de mil insetos –, eram lançadas na natureza somente via helicópteros. Os lançamentos por drones foram realizados pela primeira vez em abril de 2025 e se mostraram um sucesso.

“Com um drone, temos mais flexibilidade no tempo de lançamento em áreas que geralmente têm um clima muito imprevisível, e é mais seguro porque não é necessário que humanos pilotem ou façam parte da equipe para lançar os mosquitos”, diz Adam Knox, gerente do Projeto de Lançamento Aéreo de Mosquitos da ABC, em comunicado da organização.

Cada liberação é feita com cápsulas biodegradáveis que carregam cerca de mil mosquitos cada. “Elas caem no chão da floresta e protegem os mosquitos até que estejam prontos para voar”, explica Adam Knox, piloto de drones da American Bird Conservancy. Depois, os invólucros se decompõem naturalmente.

O uso da chamada “técnica do inseto incompatível” já é aplicado em lugares como Flórida, Califórnia, México e China para conter doenças humanas como dengue e zika, inclusive no Brasil.

No Havaí, no entanto, o objetivo é salvar animais. “O que fazemos é criar uma barreira invisível para impedir que os mosquitos contaminados cheguem às florestas onde as aves ainda resistem”, resume Chris Farmer, diretor do programa havaiano da American Bird Conservancy, relata a Smithsonian Magazine.

À medida que as temperaturas sobem com as mudanças climáticas, os mosquitos estão invadindo áreas mais elevadas, último refúgio seguro das aves. Espécies como a ‘ākohekohe (honeycreeper-de-penacho), kiwikiu (tentilhão-de-Maui) e ʻakekeʻe estão criticamente ameaçadas. A ‘akikiki, ou Kauai creeper, foi considerada funcionalmente extinta na natureza em 2023, ou seja, ainda tem alguns indivíduos vivos, mas não em número suficiente para manter uma população viável a longo prazo.

Solução caindo do céu

A ideia de combater mosquitos com mais mosquitos soa um tanto estranha, mas é uma solução que atua diretamente no controle populacional desses insetos. Os machos da espécie Culex quinquefasciatus criados em laboratório não picam e carregam a bactéria Wolbachia, que torna estéreis os ovos resultantes do acasalamento com fêmeas selvagens. Com o tempo, a quantidade de mosquitos pode, assim, ser controlada e reduzida.

O projeto foi iniciado em novembro de 2023 e, desde lá, já liberou mais de 40 milhões de insetos nas ilhas Maui e Kauai.

Iniciar o uso de drones contou com desafios envolvendo a adaptação dessas máquinas para atravessar o território havaiano e armazenar as cápsulas biodegradáveis adequadamente. A fragilidade dos insetos modificados exigiu que engenheiros da ABC desenvolvessem um novo hardware que lhes permitissem transportar e liberar as cápsulas de forma remota.

Em entrevista à Forbes, Knox explica que, ao serem lançadas, as parafernalhas “caem no chão da floresta e oferecem proteção aos mosquitos até que eles estejam prontos para voar. (…) As cápsulas, então, começam a se decompor quando expostas ao ambiente”.

Potencial de conservação de espécies

Apesar da maioria das solturas ainda estar sendo realizada por helicópteros, testes com drones continuarão a ser feitos em locais de condições ambientais adversas para verificar a capacidade desses veículos de cumprir as demandas do combate ao mosquito invasor. Com os testes concluídos, a ideia do grupo é gradualmente integrar os drones nas missões de conservação.

“Temos a tecnologia para quebrar o ciclo da doença aviária no Havaí e uma chance real de restaurar as populações”, afirma Chris Farmer, diretor do Programa do Havaí da ABC. “Somos a geração que pode salvar honeycreepers como o Kiwikiu de Maui, e com uma população de menos de 150 indivíduos, esses avanços com drones e supressão de mosquitos chegaram no momento certo”.

Fontes: Revista  Galileu, Um Só Planeta..

Foto: Adam Knox/American Bird Conservancy.

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