Quando uma equipe de cientistas ouviu um áudio gravado debaixo d’água ao largo de ilhas na Indonésia central, escutou um som que parecia o de uma fogueira crepitando.
Era um recife de coral cheio de vida, de acordo com um estudo publicado no mês passado por cientistas de universidades britânicas e indonésias. Eles utilizaram centenas de áudios desse tipo para treinar um programa de computador para monitorar a saúde de um recife de corais, ouvindo-o.
Um recife sadio emite um som complexo “crepitante, como o de uma fogueira de acampamento”, devido a todas as criaturas que vivem nele, disse o pesquisador-chefe do estudo, Ben Williams. Um recife degradado é mais silencioso.
O sistema de inteligência artificial (IA) analisa dados como a frequência e o volume do som dos áudios e consegue determinar com pelo menos 92% de precisão se o recife está sadio ou degradado. A informação consta do estudo da equipe, publicado no periódico Ecological Indicators.
Os cientistas esperam que esse novo sistema de inteligência artificial ajude grupos conservacionistas em todo o mundo a monitorar mais eficientemente a saúde dos recifes.
Os recifes de corais estão sob pressão das emissões de carbono provocadas pelo homem, que vêm elevando a temperatura da superfície oceânica em 0,13 grau a cada década e elevaram sua acidez em 30% desde a era industrial.
De acordo com a Rede Global de Monitoramento de Recifes de Corais, cerca de 14% dos recifes do mundo foram perdidos entre 2009 e 2018 —uma área 2,5 vezes maior que o parque Nacional Grand Canyon, nos Estados Unidos.
Apesar de cobrirem menos de 1% do leito oceânico, os recifes de corais alimentam mais de 25% da biodiversidade marinha, incluindo tartarugas, peixes e lagostas, razão pela qual são fortemente visados pela indústria pesqueira global.
O conservacionista indonésio Syafyudin Yusuf, professor na faculdade de ciências marinhas da Universidade Hasanuddin, disse que a pesquisa vai ajudar na monitoração da saúde de recifes na Indonésia.
Os cientistas também esperam colher gravações submarinas de recifes na Austrália, no México e nas Ilhas Virgens, para ajudá-los a avaliar o progresso de projetos de restauração de recifes.
Fonte: Folha SP.