Depois de quase 10 anos trabalhando com pousadas sustentáveis, o casal Alexandre Haberkorn e Luciana de Sá Nogueira resolveu investir no próprio sonho de construir um hotel inteiramente sustentável. Assim nasceu o Banana Bamboo Ecolodge, em 2015, localizado em 25 hectares de Mata Atlântica em Ubatuba, São Paulo, próximo à divisa com Paraty, no Rio de Janeiro.
“A propriedade já abrigava uma pousada, então a gente a readequou para moldes mais sustentáveis, o que incluiu a implantação de energia solar, a construção com elementos mais naturais, como o bambu, a adoção de telhados verdes, a captação e reuso de água da chuva e a restauração ambiental com implantação de sistemas agroflorestais, que hoje servem como nossa fonte de alimentos”, conta Alexandre. O menu é complementado com produtos da agricultura familiar local.
A antiga piscina convencional foi transformada em uma biopiscina, onde plantas substituem os filtros e os produtos químicos. O tratamento da água acontece no local, por meio de biodigestores, e o de esgoto é feito em fossa filtro com anéis de concreto, sistema biológico que une fossa séptica e filtro anaeróbico de plantas aquáticas. Para fechar o ciclo da alimentação, os minhocários garantem a compostagem dos resíduos orgânicos, e os resíduos recicláveis são encaminhados para o reaproveitamento.
O kit para banho, com shampoo, sabonete e condicionador, é feito na própria pousada a partir de óleos essenciais e produtos naturais. Além dos cuidados ambientais, a empresa adota práticas sociais e de governança, como parceria com comerciantes locais, educação ambiental de funcionários, parceiros e visitantes e participação em conselhos ligados a turismo e meio ambiente.
Segundo o relatório de viagens sustentáveis de 2022 do Booking.com, 71% dos entrevistados planejam viajar de forma mais ecológica, um aumento de 10% em relação aos resultados do ano passado, e 53% dizem estar mais determinados a fazer escolhas de viagem ambientalmente responsáveis.
A busca por viagens sustentáveis é o caso da maioria dos hóspedes da Uakari Lodge, no Amazonas, segundo Gustavo Pinto, gerente de marketing e relacionamento com o mercado. “Até cinco anos atrás, as estratégias de sustentabilidade não eram a principal motivação dos turistas, que vinham pelo fato de ser um local muito remoto e que tem uma possibilidade muito ampla de avistamento de fauna.
A pousada nasceu em 1998 como uma iniciativa sem fins lucrativos com o objetivo de conservar a biodiversidade local e apoiar o desenvolvimento socioeconômico das comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, uma Unidade de Conservação estadual.
A estrutura atual, inaugurada em 2003, funciona 100% com energia solar e possui um sistema de captação de água da chuva para reutilização nas pias e sanitários. As telhas foram desenvolvidas a partir da reciclagem de garrafas PET, em uma parceria com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Quase 100% do consumo de verduras, legumes e peixes é fornecido pelas próprias comunidades do entorno do Uakari.
Visando a expansão do uso de energias renováveis, há um estudo em andamento do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que é o criador e comantenedor gestor da pousada, para viabilizar a substituição de motores tradicionais das embarcações por motores movidos a energia solar.
O instituto mantém diferentes grupos de pesquisa que monitoram os impactos socioeconômicos e ambientais da atividade turística na região, como os efeitos na qualidade das águas e o comportamento da fauna. “Desde a concepção da pousada, a meta era gerar o mínimo impacto e monitorá-los ativamente, e temos conseguido isso graças a um grande número de estratégias de acompanhamento presentes desde a inauguração”, conta Gustavo.
Projetos de pesquisa e conservação também fazem parte do modus operandi da Pousada Trijunção, na Bahia. Inaugurada em 2018, a pousada está localizada na Fazenda Trijunção, que existe há 25 anos em 33 mil hectares – 10% da área são dedicados à produção agrosilvopastoril sustentável e 90%, à conservação. A propriedade tem cinco Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN), que somam quase sete mil hectares, e outros 12 mil em responsabilidade compartilhada com o Parque Nacional Grande Sertão Veredas.
Durante sua estada, os hóspedes são convidados a conhecer e acompanhar os projetos. “Acreditamos que a vivência em primeira pessoa é o que cria a conexão entre o viajante e o lugar. Viver alguns dias conosco, conhecer mais sobre o ecossistema, ter a oportunidade de se aprofundar sobre a fauna e flora, descobrir segredos e riquezas da natureza local e conhecer o contexto histórico por meio da floresta transformam os viajantes em verdadeiros guardiões do Cerrado”, afirma Cecília Cabral, responsável pelo marketing da pousada.
Em pesquisas da rede multinacional de hotéis Accor, realizadas com hóspedes do mundo inteiro, 86,4% disseram que se sentiram satisfeitos com a troca de itens plásticos de uso único por alternativas mais sustentáveis, um exemplo de como a demanda por um turismo mais responsável está provocando mudanças na indústria e no comércio.
Como parte dos seus compromissos de sustentabilidade, a companhia pretende eliminar 48 itens de plástico de uso único em diversas áreas dos hotéis até o final de 2022 – 60% dos hotéis da empresa hoje oferecem shampoo e condicionador em dispensadores, não mais em frascos individuais para cada hóspede.
A estimativa é reduzir os resíduos alimentares em 30% até final deste ano, com objetivos de privilegiar fornecedores locais e produtos da época, ampliar a oferta de produtos orgânicos e da agroecologia, priorizar fornecedores que tenham compromissos relacionados ao bem-estar animal, utilizar ovos 100% de galinhas livres até 2025, banir as espécies de peixes ameaçadas, promover a pesca responsável, eliminar aditivos químicos, reduzir gorduras e açúcares e oferecer café e chá certificados.
Como signatária da Declaração de Glasgow para Ações Climáticas no Turismo, a Accor e outras grandes empresas do setor se comprometeram a reduzir em 50% as emissões atmosféricas até 2030 e zerar suas emissões até 2050, expandindo, por exemplo, o uso de energia renovável – na América do Sul, 35% dos hotéis da rede possuem painéis solares.
“As medidas de sustentabilidade e de combate à emergência climática refletem não apenas um compromisso da Accor, mas um compromisso de mudança profunda da forma de se conduzir os negócios, saindo de um modelo histórico de externalidades negativas para um modelo de hospitalidade contributiva, em que cada hospedagem será uma contribuição para a sociedade e para o planeta”, afirma Antonietta Varlese, vice-presidente sênior de comunicação, relações institucionais e responsabilidade social Accor América do Sul.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Uakari Lodge.