O calor extremo pode influenciar o humor e aumentar a probabilidade de uma pessoa desenvolver um problema de saúde mental mais sério, segundo algumas pesquisas, além, é claro, de ser fisicamente desconfortável. “Vemos em todo o espectro da saúde mental” que os extremos de calor são prejudiciais ao bem-estar mental, disse Nick Obradovich, cientista social computacional do Instituto Max Planck para Desenvolvimento Humano, ao New York Times. Ele é coautor de um estudo de 2018 que analisou os riscos para a saúde mental derivado das mudanças climáticas.
Cientistas descobriram ligações entre o aquecimento global e problemas como fadiga mental, agressão e taxas mais altas de suicídio. Segundo o autor, essa conexão não se limita ao aumento de temperatura, estando presente também em pessoas que vivem em climas costumeiramente quentes.
Evidências sugerem que “temperaturas extremas podem influenciar tudo, desde o humor do dia a dia até a probabilidade de sofrer uma crise aguda de saúde mental”, afirma Obradovich.
O que ainda precisa ser descoberto é por que isso acontece e se o próprio calor pode causar alterações cerebrais que levam a esses efeitos. Independentemente disso, porém, os especialistas acreditam que está claro que o calor opressivo piora a saúde mental.
Um estudo publicado na JAMA Psychiatry em fevereiro, por exemplo, examinou os registros médicos de 2,2 milhões de adultos que visitaram departamentos de emergência de 2.775 condados dos Estados Unidos entre 2010 e 2019. Os autores identificaram que havia 8% mais registros de problemas de saúde mental nos dias mais quentes do verão do que nos dias mais frios.
Conforme a temperatura subia, aumentavam as visitas de emergência por questões de automutilação, uso de substâncias, ansiedade, transtornos de humor e esquizofrenia. Para Amruta Nori-Sarma, cientista de saúde ambiental da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston e autora do estudo, essa tendência é comum em homens e mulheres, adultos de todas as idades e habitantes de qualquer parte dos Estados Unidos.
Uma pesquisa da Universidade de Alcalá, na Espanha, descobriu que temperaturas mais altas podem desencadear temporariamente recaídas em pessoas com transtorno bipolar, enquanto que mais exposições à luz solar podem aumentar o risco de episódios maníacos. Temperaturas mais altas também foram associadas a mortes entre pessoas com esquizofrenia e outras condições de saúde mental.
“Quando não estamos confortáveis, não estamos no nosso melhor”, disse C. Munro Cullum, neuropsicólogo clínico do UT Southwestern Medical Center, em Dallas.
O desconforto do calor e a energia necessária para o corpo esfriar podem diminuir a nossa resiliência, por isso, agitação, irritação e dor tornam-se menos suportáveis, segundo ele. Quando o corpo tenta regular a sua temperatura durante uma onda de calor, a tensão aumenta, o que resulta em mais estresse e inflamação.
A consistência da relação entre calor e saúde mental em pessoas ao redor do mundo sugere que o calor está mexendo com o cérebro, diz Nori-Sarma. Alguns pesquisadores levantaram a hipótese de que o calor pode causar um desequilíbrio na sinalização cerebral ou uma inflamação no órgão. Outra teoria é que o calor causa interrupções do sono, o que pode piorar os sintomas de saúde mental.
“Sabemos, por uma grande quantidade de literatura em psicologia e psiquiatria, que o sono insuficiente, dificuldades de sono e insônia estão intimamente ligados a um pior estado de saúde mental ao longo do tempo”, afirma Obradovich, acrescentando que é possível que a explicação para o efeito das altas temperaturas na saúde mental possa vir de uma combinação dessas diferentes teorias existentes.
Os pesquisadores sugerem que, em meio a uma onda de calor, é importante se manter hidratado, evitar o calor direto sempre que puder e ajudar familiares, amigos e vizinhos. Viu só como nada escapa dos efeitos nocivos das mudanças climáticas?]
Fonte: Um Só Planeta.
Foto de Alex Plavevski/Epa/Lusa.