Confirmado: 2023 foi o ano mais quente da história — e 2024 pode ser pior

Durante todo 2023, marcado por extremos climáticos, ondas de calor, incêndios florestais e secas históricas como a que assolou a Amazônia, os cientistas já estimavam que aquele ano seria o mais quente já registrado. Não teve outra. O serviço climático europeu Copernicus confirmou nesta terça (9) que 2023 foi um ano de máxima de temperatura.

As mudanças climáticas causadas pelo homem e o fenômeno El Nino, que aquece as águas do oceano Pacífico acima do normal, gerando graves efeitos climáticos, contribuíram para um ano de calor nunca visto desde 1850, quando as medições oficiais de temperatura começaram.

De acordo com o serviço Copernicus, a temperatura média em 2023 foi 1,48ºC mais quente do que os níveis da era pré-industrial, quando os humanos começaram a queimar combustíveis fósseis em grande escala, variação mais elevada que o registro recorde anterior, de 2016.

O ano de 2023 também marca a primeira vez que todos os dias de um ano ultrapassaram 1°C acima do nível pré-industrial de 1850-1900. Perto de 50% dos dias foram mais de 1,5°C mais quentes do que o nível de 1850-1900, e dois dias em Novembro foram, pela primeira vez, mais de 2°C mais quentes.

Emissões crescentes de gases de efeito estufa e o aquecimento global se tornaram uma realidade que precisa ser revertida sob pena da humanidade sofrer os piores impactos da crise do clima, como já vemos ocorrer com intensidade cada vez maior nos últimos anos.

Não à toa Carlo Buontempo, diretor do Copernicus, classificou 2023 como um ano de “testemunho dramático do quão longe estamos agora do clima em que a nossa civilização se desenvolveu”.

Já se sabe que o mundo está muito mais quente agora do que há 100 anos, à medida que os humanos continuam a emitir quantidades recordes de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, na atmosfera.

Mas há 12 meses, nenhum grande órgão científico previu que 2023 seria o ano mais quente já registrado, devido à forma complicada como o clima da Terra se comporta.

Durante os primeiros meses do ano, apenas um pequeno número de dias quebrou recordes de temperatura do ar.

Mas o mundo registrou então uma sequência notável e quase ininterrupta de recordes diários no segundo semestre de 2023.

O recorde é um sinal de que o mundo está cada vez mais perto de atingir 1,5ºC de aquecimento – o nível que os países concordaram em atingir no âmbito do Acordo de Paris até o final do século, e a partir do qual os impactos climáticos se tornam ainda mais difíceis caros e difíceis dos países se prepararem para lidar com suas consequências.

Mas os cientistas preveem que este recorde poderá ser quebrado em 2024, com previsões sugerindo que este ano será ainda mais quente, trazendo mais extremos climáticos. Historicamente, o segundo ano consecutivo de ocorrência do fenômeno El Nino tende a ser pior que o anterior.

O El Niño é um fenômeno natural em que as águas superficiais mais quentes do Oceano Pacífico Oriental liberam calor adicional na atmosfera.

O calor recorde não estava apenas no ar, mas também nos oceanos, que absorvem a maior parte do excesso de calor da Terra.

“As temperaturas da superfície do mar estavam muito mais altas do que em qualquer ano anterior já registrado”, citou Dahl.

A água quente atua como alimento para tempestades, e a água oceânica excepcionalmente quente em 2023 não apenas criou mais tempestades no Atlântico, neutralizando os efeitos de amortecimento das tempestades de um El Niño intensificado, mas também alimentou o fortalecimento explosivo das tempestades que se formaram em todo o mundo.

As atividades humanas estão por trás desta tendência de aquecimento global a longo prazo, embora fatores naturais como o El Niño possam aumentar ou reduzir as temperaturas durante anos individuais. As temperaturas registadas em 2023 vão muito além de causas simplesmente naturais.

Isto deixou muitos cientistas inseguros sobre o que exatamente está acontecendo com o clima.

“Isso levanta uma série de questões realmente interessantes sobre por que [2023 foi] tão quente”, observa Zeke Hausfather, cientista climático da Berkeley Earth, uma organização científica nos EUA.

Outra característica notável do calor de 2023 é que ele foi sentido em todo o mundo.

Dez questões climáticas para ficar de olho em 2024

James Hansen, o ex-cientista da Nasa responsável por alertar o mundo sobre os perigos das mudanças climáticas na década de 1980, disse que até maio o mundo poderá registrar temperatura global média de até 1,7°C acima do registrado antes da industrialização.

Isso implica mais desastres relacionados ao clima e aumento nos preços dos alimentos, apontou a Organização das Nações Unidas (ONU) em seu relatório anual Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2024. O crescimento econômico global deve desacelerar de uma estimativa de 2,7% em 2023 para 2,4% em 2024. O desempenho estará abaixo da taxa de crescimento pré-pandemia de 3,0%.

Fontes: Onu News, BBC, Um Só Planeta

Foto: Gary Hershorn