Quando pensamos no óxido nitroso (N₂O) como o famoso “gás do riso” ou “gás hilariante”, muito usado como sedativo, podemos nem imaginar que se trata de uma poderosa ameaça ao meio ambiente. Esse gás de efeito estufa é bem menos comentado do que “colegas” mais famosos como o dióxido de carbono, mas seu poder é avassalador
Uma nova Avaliação Global de Óxido Nitroso das Nações Unidas alerta que o óxido nitroso (N₂O), um potente gás de efeito estufa, está acelerando rapidamente as mudanças climáticas e danificando a camada de ozônio. Lançada na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024 (COP29) em Baku, Azerbaijão, a avaliação indica que as emissões estão aumentando mais rápido do que o esperado e que é necessária uma ação imediata para reduzir os impactos ambientais e na saúde desse super poluente.
O óxido nitroso é aproximadamente 270 vezes mais potente que o dióxido de carbono em termos de aquecimento do planeta e atualmente é responsável por aproximadamente 10% do aquecimento global líquido desde a revolução industrial. Emitido principalmente por práticas agrícolas, como o uso de fertilizantes sintéticos e esterco, o N₂O é o terceiro gás de efeito estufa mais significativo e a principal substância que destrói a camada de ozônio ainda liberada na atmosfera.
As conclusões da Avaliação são claras: ações urgentes sobre o N₂O são fundamentais para atingir as metas climáticas e, sem uma redução séria nas emissões, não há caminho viável para limitar o aquecimento a 1,5°C no contexto do desenvolvimento sustentável, conforme descrito no Acordo de Paris.
“A redução das emissões de N₂O poderia evitar até 235 bilhões de toneladas de emissões equivalentes de CO₂ até 2100”, disse David Kanter, professor associado de estudos ambientais da NYU e copresidente da avaliação. “Isso equivale a seis anos das atuais emissões globais de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis.”
Atualmente, o óxido nitroso é a substância que mais empobrece a camada de ozônio emitida na atmosfera. A avaliação mostra que o combate proativo ao N₂O também ajudaria na recuperação contínua da camada de ozônio, ajudando a evitar um futuro em que grande parte da população global esteja exposta a níveis prejudiciais de UV.
“A camada de ozônio é crucial para toda a vida na Terra. Durante décadas, as partes do Protocolo de Montreal trabalharam arduamente para protegê-la. Essa Avaliação destaca a necessidade de vigilância, compromisso e ação contínuos para que a camada de ozônio se recupere o mais rápido possível aos níveis anteriores a 1980”, disse Megumi Seki, secretária-executiva do Secretariado de Ozônio do Protocolo de Montreal, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
A redução simultânea das emissões de óxido de nitrogênio e amônia também melhoraria significativamente a qualidade do ar, podendo evitar até 20 milhões de mortes prematuras em todo o mundo até 2050. As medidas de redução também aumentariam a qualidade da água, melhorariam a saúde do solo e protegeriam os ecossistemas dos impactos do escoamento de nitrogênio.
“O combate às emissões de óxido nitroso é essencial para garantir uma agricultura sustentável, inclusiva e resiliente que, ao mesmo tempo, ajude os países a atingir suas metas climáticas e de segurança alimentar. Como a avaliação mostra claramente, há maneiras de produzir mais com menos, melhorando a eficiência do uso de nitrogênio na agricultura e reduzindo a aplicação excessiva de nitrogênio”, disse Kaveh Zahedi, diretor do Escritório de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente da FAO.
A Avaliação ressalta a necessidade de ações imediatas e ambiciosas para reduzir as emissões de N₂O, como parte de uma estratégia mais ampla para combater os super poluentes, que, juntamente com os esforços para atingir emissões líquidas zero de dióxido de carbono, podem colocar o mundo no caminho certo para atingir as metas de longo prazo de clima, segurança alimentar e saúde.
Fonte: ONU.
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