Contato com natureza é essencial para as crianças

Entenda por que as crianças precisam crescer ao ar livre na natureza, em meio às árvores e à terra, para que tenham um desenvolvimento saudável e harmonioso

Depois que vai embora, a chuva deixa um rastro de terra molhada e aquele cheiro tão característico, de nome “petricor”, palavra que é quase poesia. Talvez você tenha uma lembrança desse aroma em seus tempos de criança. Pode ter ficado guardada alguma imagem de um dia de chuva que virou brincadeira e hoje se desdobra em memória afetiva. Rafael, 6 anos, Hermano, 3, e Aurora Flor, quase 2, nem bem cresceram e já guardam na coleção de miudezas da infância uma cena perfumada de petricor e emoldurada em afeto.

Crianças e adultos também fazem parte da natureza

São momentos assim que guardam o melhor da vida. um banho de chuva é sempre uma festa também para os filhos.

Na escola da pedagogia Waldorf , subir em árvore faz parte das conquistas valorizadas como etapa de desenvolvimento.

As crianças aprendem a plantar, festejar o vento, observar as fases da Lua. Na escola, é comum andar descalço na terra.

Coisas tão simples que deveriam fazer parte do dia a dia de todos. Por isso, falar da relação entre criança e natureza é falar da vida em si.

“Cada criança que vem ao mundo, ela é a natureza se manifestando“, resume Léa Tiriba, professora da Escola de Educação da Unirio, no documentário O Começo da Vida 2: Lá Fora, lançado ano passado pela Maria Farinha Filmes.

O longa-metragem é uma ode a uma vida mais natural, da qual nunca deveríamos ter nos afastado. É também um alerta a pais, mães, responsáveis, professores e chefes do poder público para refletirmos: o que estamos fazendo com nossas crianças ao privá-las dessa experiência tão necessária para a manutenção da vida?

O que é Transtorno do Déficit de Natureza?

Na natureza, elas imaginam, criam brincadeiras e têm tudo aquilo de que precisam para se desenvolver de forma integral

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, as pessoas chegam a passar 90% do tempo em espaços fechados – e olha que esse número é anterior à pandemia.

Estamos vivendo a era do Transtorno do Déficit de Natureza, termo cunhado pelo jornalista norte-americano Richard Louv, fundador do movimento Children and Nature.

Os impactos disso tornam-se visíveis no aumento da obesidade infantil, do diabetes, dos distúrbios de atenção, da depressão e até da miopia.

“O brincar, por si só, já é terapêutico. Por isso, quando as crianças brincam ao ar livre, usam mais a criatividade e desestressam”.

Crianças na natureza são mais criativas

Um comportamento mais criativo é o que também percebe a educadora Ana Carol Thomé, que pesquisa a relação entre natureza e infância desde 2010.

Ela reforça que, nas mãos dos pequenos, “um graveto nunca é só um graveto, é espada, varinha mágica, vara de pescar, colher, é milhões de coisas”.

 Crianças precisam vivenciar a natureza

Não adianta falar de flora, fauna, ecologia e ver tudo isso apenas em livros. Do mesmo modo, não basta ter jardins, se eles estão cercados por placas de “não toque” e “não pise”.

A criança precisa vivenciar a natureza, sentir-se parte dela. É essa relação, cultivada dia a dia, que fará com que, mais tarde, tenhamos pessoas mais saudáveis e compromissadas com os cuidados com o planeta.

Pois não basta apenas estar rodeada de verde: é preciso estabelecer conexão genuína, com presença. Como vamos nos sentir responsáveis pela preservação do meio ambiente, se não nos encan­tarmos pelos bichos e pelas plantas?

Como aponta Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza (Aquariana), corremos o risco de ter, no futuro, ambientalistas que carregam a natureza em suas maletas, mas não no coração.

É importante que a gente consiga ter pequenas conexões com a natureza ao longo do dia. Enxergar o quanto essa planta que cresce do meu lado também sou eu e o quanto de mim também é ela

Natureza faz bem pra saúde

É na relação íntima com as árvores, os animais e a terra que elas criam vínculo e podem, num futuro, preservar a natureza.

Os pais costumam ser também fonte do medo e da insegurança das crianças na hora de explorar os espaços naturais. Receosos de o filho se machucar ou adoecer, o cercamos de tantos cuidados que o afastamos de experiências vitais para ele.

Pois, de acordo com o pediatra sanitarista Daniel Becker, cientificamente já se sabe que meninas e meninos criados em bolhas de assepsia ficam mais doentes depois.

No filme O Começo da Vida 2, ele afirma que as crianças afastadas da natureza estão menos preparadas para enfrentar infecções e tendem a doenças crônicas e autoimunes.

Além de se tornarem sintomáticas, com insônia e até rebeldia. Contudo, em um mundo mais consciente, a gente nem deveria aguardar as pesquisas confirmarem o que nossos ancestrais já sabiam intuitivamente: natureza faz bem à saúde..

Nós somos natureza

Mas como sentir o nosso corpo se estamos tão desconectados do ambiente natural? Cada vez mais plugados nos aparelhos eletrônicos, não sobra tempo para observar o céu.

Deixamos até mesmo de perceber o efeito dos alimentos em nosso organismo e desa­prendemos a regular as nossas emoções.

Para as crianças que crescem numa relação mais próxima com a natureza, o desenvolvimento é mais integral, na motricidade, na segurança dos movimentos, na qualidade de fala. Inegavelmente, todos os sentidos ficam mais refinados.

“Encontramos tudo o que o nosso corpo precisa para se desenvolver porque somos natureza”, resume Ana Carol. Quando nos damos conta disso, nos sentimos pertencentes, acolhidos.

Quem sabe você relembre a sua infância, quando seus pés descalços corriam soltos na terra e no verde. Quem sabe possa oferecer isso também a uma criança perto de você…

Repare no céu agora mesmo, perceba a dança das nuvens, o cheiro da terra. Vamos tomar um banho de chuva? Contato com a natureza na infância: 9 benefícios comprovados pela ciência

Discutir sobre infância e natureza não é nostalgia – é ciência, é urgência, é saúde pública!

O contato com o ambiente natural não deve ser visto como algo “extra”, mas como parte essencial do desenvolvimento infantil. A boa notícia? Os benefícios são muitos – e já começam a ser reconhecidos em diferentes áreas. Confira!

No corpo
  1. Fortalece a imunidade;
  2. Melhora a coordenação motora, o equilíbrio e a paraça muscular;
  3. Regula o sono e a produção de vitamina D.
Nas emoções
  1. Reduz sintomas de ansiedade, depressão e irritabilidade;
  2. Promove sensação de bem- estar e regula o humor;
  3. Estimula a autoconfiança e a resiliência emocional.
No cérebro
  1. Melhora a atenção e a concentração;
  2. Estimula a criatividade, a memória e o pensamento crítico;
  3. Ajuda a regular o córtex pré-frontal, responsável pelo controle da atenção e pela tomada de decisões.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Divulgação Vida Simples.

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