Cresce a procura por executivos ‘verdes’

Está em escalada a procura por gestores “verdes” ou profissionais em cargos ligados a sustentabilidade e meio ambiente. Na consultoria de recrutamento Russell Reynolds Associates, que atua com executivos do C-level (alto escalão), de conselhos de administração e de comitês ESG em grandes empresas, houve um crescimento de 93% nos projetos de seleção no setor, entre 2020 e 2021. “E a tendência é que continuem aumentando”, afirma Mariane Montana, consultora da empresa.

Somente no primeiro semestre de 2022, segundo a especialista, foi registrado um avanço de 53% na busca por posições C-level, em relação ao mesmo período do ano passado. “A sustentabilidade assume um papel cada vez mais central nas companhias e requer lideranças adequadas para impulsionar negócios e atender às expectativas de investidores e clientes”, explica.

De acordo com levantamento da Russell Reynolds, a maior procura por perfis “verdes” em 2021 partiu de organizações da indústria e de recursos naturais, com um salto de 126% em relação a 2020, antes de serviços financeiros (83%). “No Brasil, esses setores puxam a maioria das seleções, mas os grupos de bens de consumo e varejo não ficam atrás.”

Para ser considerado nas peneiras, o profissional que assume uma cadeira de liderança no segmento precisa apresentar pelo menos quatro características importantes, detalha. A lista inclui: pensamento amplo e sistêmico sobre o ecossistema em que a organização está inserida, com visão de negócios de longo prazo, capacidade de estabelecer metas ambientais audaciosas, em uma gestão orientada por resultados, e muita curiosidade.

“Os gestores precisam ser naturalmente curiosos e mostrar resiliência para manter o rumo das atividades, mesmo diante de contratempos”, destaca.

Tendências do mercado

Novas tarefas devem cair no colo dos líderes de sustentabilidade nos próximos meses, de acordo com a consultora da Russell Reynolds. “Com a urgência climática, as diretorias continuarão à procura de candidatos com um ‘olhar ambiental’, para pensar programas de redução de impacto, como o net zero”, explica. Estabelecer uma política net zero significa zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa produzidas por uma companhia.

O aspecto social também deve ganhar mais relevância nas admissões, à medida que as corporações tomam consciência do impacto positivo que podem causar nas comunidades onde atuam, analisa.

Na visão de Paulo Rodrigo Dias, diretor da Page Executive, consultoria do PageGroup especializada no recrutamento para o alto escalão, o garimpo de currículos seguirá forte desde que as chefias percebam que contratar mão de obra especializada é vantajoso financeiramente. “Incentivos governamentais, como a redução de impostos para firmas conscientes e responsáveis, tendem a colaborar para aumentar a necessidade por profissionais do setor”, diz.

Dias afirma que 80% das companhias que contratam alguém para uma posição “verde” são de grande porte, com faturamento acima de R$ 1 bilhão. As menores também colocam essa preocupação na pauta, mas em cargos que acumulam outras tarefas, detalha o consultor, que afirma estar atuando, principalmente, com corporações de energia renovável.

“Nesse segmento, recrutamos diretores de engenharia que precisam montar soluções com eficiência energética e baixo dano ambiental”, diz. “Os líderes de sustentabilidade continuam como uma demanda na mesa, mas, muitas vezes, o empregador utiliza outras nomenclaturas para o perfil, como diretor de ESG ou de meio ambiente.”

Um levantamento da Michael Page, consultoria de recrutamento para a média e alta gerência do PageGroup, sinaliza que o agronegócio também elevou o volume de contratações. O segmento registrou um salto de 50% na busca de currículos ligados ao ESG, entre janeiro e maio de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Nos conselhos de administração, a preocupação com a cartilha ESG também marca presença. “Hoje, conselheiros com janela nessa temática são essenciais na composição de qualquer colegiado.”

Como se preparar

Mariane Montana, consultora da Russell Reynolds, afirma que entrar no “balcão” de oportunidades das corporações com preocupação ecológica requer estudo e acúmulo de experiências. Entender profundamente sobre o alcance das práticas ESG nos negócios é o primeiro passo, ensina. “Há uma enorme oferta de cursos sobre sustentabilidade, que auxiliam no entendimento e aplicação de conceitos”, diz.

Mas apenas acumular diplomas não serve como garantia para se dar bem na profissão, destaca. “É crítico que os preceitos ambientais estejam incorporados na visão de mundo dos executivos e não apenas nas estratégias que eles vão gerenciar.”

A recomendação da especialista para que os iniciantes ganhem bagagem na indústria é se envolver em projetos e ações inovadoras. “Alimente a jornada da sustentabilidade em suas comunidades e contribua com ONGs e atividades multilaterais”, aconselha. “Além de adquirir ‘know-how’ e angariar resultados socioambientais, essa movimentação estimula o desenvolvimento de uma mentalidade verdadeiramente sustentável.”

Na avaliação de Paulo Rodrigo Dias, da Page Executive, o “histórico” do profissional tem um peso importante na hora de decidir entre dois currículos para uma única vaga. “Avaliamos principalmente se o gestor se envolveu em algum projeto relevante, como mudanças de matriz energética ou de compromissos de redução de carbono”, diz. “Se o trabalho foi um sucesso e o executivo mostrar participação na implementação já é um diferencial.”

‘Greenwashing’ pessoal

Para dar conta de tudo, diz ele, é preciso chegar ao escritório com uma visão holística dos processos, entendendo que a sustentabilidade vai além de qualquer rotina isolada. Também é necessário habilidade para atuar com times diversos e acreditar verdadeiramente na relevância da questão ambiental para a sustentação do planeta, destaca.

“Estar na área apenas porque virou moda ou por conta de boas oportunidades de emprego é quase uma forma de ‘greenwashing’ pessoal”, diz o executivo, se referindo à prática de “maquiar” agendas ambientais, sem compromissos sérios.

Para Bárbara Sapunar, 48, diretora de comunicação e sustentabilidade na Nestlé Brasil, saber navegar por diferentes departamentos da organização ajuda a disseminar as ideias de cuidado ambiental com mais velocidade. Na multinacional de alimentos desde 2015, ela coordena iniciativas atreladas a várias áreas de negócios.

O dia a dia da executiva engloba desde uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a fim de criar um protocolo para a pecuária de leite de baixo carbono, até a promoção de mais linhas de café 100% sustentável. “As iniciativas estão vinculadas ao compromisso de obter, até 2025, 30% das principais matérias-primas usadas na produção por meio de práticas regenerativas.”

Na opinião de Sapunar, o mercado “verde” segue aberto a todos que desejam proteger o meio ambiente. “Profissionais de diferentes formações podem enveredar para uma atuação dedicada à sustentabilidade e trabalhar em sintonia com áreas mais técnicas”, assegura. “É fundamental fazer cursos no segmento e estar sempre atualizado.”

Fontes: Um Só Planeta.

Foto: Getty Images.